24. E depois
Chegamos depois, Aldebarã. Quanto tempo
depois? Eu cheguei bilhões de anos depois que as células se multiplicaram no
brejo original. Antes de mim, o pantanal terráqueo se povoou de vermes,
batráquios, lagartos, sáurios gigantescos, liquens, musgos, cogumelos,
pássaros, quadrúpedes e habitantes de árvores frondosas.
Meus antepassados chegaram depois,
Aldebarã. Desceram prudentemente das árvores. Benditas mãos que colheram macios
brotos, suculentos frutos e registraram nas cavernas, em cores indeléveis, as primeiras
recordações da história universal.
Tempos depois, Aldebarã, nas peripécias
dessa aventura, na companhia de tigres, ursos, lobos e leões, subindo montanhas
e descendo vales, aprendemos a caçar e a matar. E dessa batalha pela vida, o
homem tornou-se o lobo do homem, O sangue manchou a mão que colhia os frutos na
primavera. Aprendemos a cultivar vidas para nos alimentar de vidas. A nossa
grandeza e a nossa baixeza. Saímos do brejo, mas o brejo não saiu de nós.
Experimentamos a altura das árvores, Aldebarã,
mas a lama do pantanal não apaga a origem humilde e frágil da vida.
“...o Homem, com todas suas nobres
qualidades...com seu intelecto divino...., com toda a exaltação de suas
faculdades, traz sempre em sua estrutura corporal a marca indelével de sua
baixa origem.” (Charles Darwin, A origem do homem, 1871)
Depois, milhões de anos depois,
Aldebarã, os sorrisos e as lágrimas, as alegrias e os sofrimentos, as
esperanças e os desenganos seguem seu curso na cadência dos dias e das noites.
E depois, Aldebarã?
O contrário dos tempos de rapaz
Os desenganos vão conosco a frente
E as esperanças vão ficando atrás.
(Pe.
Antonio Tomaz, Contraste)
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