domingo, 3 de janeiro de 2016

ÁGUA E CRESCIMENTO URBANO



Em 1989, a plataforma urbana do Distrito Federal (não incluída a ocupação rural) alcançou 30.962 hectares. Em 2006, estendia-se sobre 64.690 hectares, correspondendo a 0.1 por cento da área do Distrito Federal.
Quase um quarto (24,5%) dos domicílios do DF estão localizados em terrenos não legalizados, em áreas de risco ambiental e Áreas de Proteção Permanente.
Jorge Werneck (Comité da Bacia do Paranoá) indica que a qualidade da água é afetada pela proximidade do agrupamento urbano. “Em rios com mais de 20% de área urbanizada ao redor, a água tende a ser menos potável e mais restritiva ao abastecimento humano. No DF, das 41 unidades hidrográficas, 11 estão nesse contexto”.
O Rio Melchior, o Ribeirão Ponte Alta, o Ribeirão Sobradinho e o Rio Santa Maria se incluem nessa circunstância de desabastecimento com altos custos de tratamento. Um número não determinado dos 36 mil poços artesianos está contaminado pela urbanização, por agrotóxicos e lixo à beira de rodovias.
A disponibilidade hídrica no DF por habitante/ano é, segundo a ANA, de 1.752 m3. Volume menor do que 2.500 m3 por habitante/ano é considerado deficiente para a pessoa e para a satisfação de necessidades relacionadas à produção de alimentos e demais serviços urbanos. Portanto, já estamos em déficit hídrico. O volume atual corresponde a 4,8 m3 por pessoa/dia. Computando-se todo o consumo diário embutido no uso direto e indireto de água (consumo de energia), a escassez tende a aumentar.
A disponibilidade total calculada para a população do DF, seja ela do tamanho que for, é de 5,168 bilhões de m3. Para os atuais habitantes há uma disponibilidade, conforme se disse, de 1.752 m3 por pessoa/ano. Quando a população do DF, em dois ou três anos, alcançar os 4 milhões, a cota por habitante cairá para 1.292 m3, e com maiores dificuldades de acesso por razões administrativas do governo e do custo da água.
Se toda a população da Área Metropolitana de Brasília participar dessa disponibilidade, nos próximos cinco a dez anos toda a população enfrentará ondas de racionamento. Poços artesianos às centenas serão perfurados juntando-se aos mais de 36 mil atualmente existentes no DF. Há que se considerar, ao mesmo tempo, a irregularidade e a diminuição das águas da chuva. Isto poderá reduzir a disponibilidade virtual e real de água para a população. A precipitação pluvial de 2015 comparada com a de 2014 sofreu uma redução de 34 mm ou 34 litros por metro quadrado em regiões do DF. Para avaliar essa redução de chuvas de um ano para outro, multiplique-se o déficit de 34 litros pela área do DF (5,7 bilhões de m2) e se compreenderá, que ano a ano, o céu pode nos negar um volume de 199,5 bilhões de litros de água, numa região onde estão localizadas as principais nascentes de nossos rios que correm para o Sul, para o Norte e para o Nordeste.

Acrescente-se que a disponibilidade hídrica virtual nem sempre é acessível e está, por isso, relacionada ao crescimento da população. Mais uma vez, o cálculo se faz apenas em relação à espécie humana. Deixa-se em aberto a disponibilidade para todos os demais seres vivos. Qual seria a disponibilidade de água por vaca/ano? Sabe-se quanto consome um bovino em sua função de produzir carne ou leite. Não se determinou o quanto está disponível e nem qual dever ser o limite do rebanho regional, nacional e mundial. Se para produzir um quilo de carne, o boi precisa consumir 15 mil litros de água, ao final de três anos, com 400 kg, terá consumido oito milhões de litros de água. Um cidadão, que viva 80 anos e consuma 200 litros diários, alcança o montante de 5,8 milhões de litros, consumindo um quarto a menos do que o bovino em seus três anos de vida. Compare-se também o espaço necessário para uma manada de 1.000 bois com o que pode abrigar 1.000 pessoas. Dez milhões de metros quadrados para eles e 200 mil metros quadrados para elas. Isto indica o absurdo do conceito e do foco econômico baseados no crescimento dos investimentos em razão do aumento da população humana.

Nenhum comentário: