quinta-feira, 23 de julho de 2015

ÁREAS DE REPOUSO OU DEFAUNAÇÃO

(Foto: Eugênio Giovenardi, Buriti bebê, denominado Agojeretés que em guarani quer dizer gratidão. Gratidão da natureza)


A diversidade da vegetação e da arborização do Sítio das Neves, nesses 40 anos de preservação, se consolida. Gramíneas, arbustos, flores de muitas cores e tamanhos, árvores grandes e médias deixam a área coberta de verde.
O consórcio árvores e água trouxe o nascimento do buriti, habitante de veredas, que denominei Agojeretés (gratidão, em guarani) e expandiu a marcela chyrocline satureoides. Esta variedade de marcela aparecia em pontos isolados e em pequenos tufos. Hoje, ocupa uma enorme área em volta do brejo que dá origem à nascente Água Azul.
Uma área de preservação está em descanso, em pousio, para a regeneração da fertilidade depois de uso e desgaste agrícola. A preservação e o pousio, para produzir resultados eficazes, devem abranger uma área contínua, metro a metro. A natureza é um corpo orgânico e sistêmico, por isso deve ser tratada por inteiro.
O conjunto da área se beneficia harmônica e simultaneamente da incidência das chuvas, do sol, do vento, do orvalho. O período de pousio, que pode ou deve se estender por vários anos, depende da gravidade da degradação. Um tempo suficiente para regenerar as espécies sacrificadas pelo uso do solo.
O cerrado é abundante em leguminosas, normalmente consumidas por várias espécies de animais selvagens e domésticos ou destruídas por máquinas agrícolas e queimadas. No período de repouso elas reaparecem, como a fava-de-anta, o jatobá e muitas outras. São variedades, como ensinam os livros de agronomia, com capacidade de fixar o azoto, elemento essencial para a vida vegetal e o carbono que contribui a compensar as emissões atmosféricas. É a regeneração dos ecossistemas naturais.
Apesar da regeneração da flora, ainda que lenta e rodeada de obstáculos (queimadas, lixo, poluição atmosférica, irregularidade das chuvas) a diversidade da fauna, no Sítio das Neves, não teve o mesmo êxito. O uso intenso e invasivo da terra e as práticas primitivas da exploração do solo, como queimadas, aração, desmatamento, lixo, pisoteio de grandes rebanhos desequilibram o ecossistema natural. Ainda, em 2015, no Distrito Federal, capturam-se e matam-se pássaros pequenos e grandes.
A captura, a matança de aves e animais, ou a expulsão deles de seu habitat, dificultam a busca de alimentos e alteram o processo de reprodução. Rompe-se a cadeia trófica e o complexo equilíbrio predatório natural.
Não só morrem lobos-guarás, tatus, cobras, raposas atropeladas nas rodovias, como também algumas espécies diversificaram seu cardápio. Coatis, que se alimentavam tradicionalmente de frutas e brotos, atacam pintos, galinhas e ovos competindo com raposas e mãos-peladas. Os saguis, em falta de bananas e goiabas, roubam ninhos de pássaros e comem os filhotes. Gaviões sobrevoam as chácaras e agarram pintinhos distraídos sem medo das valentes mães, do cão vigilante ou do agricultor ocupado na limpeza da horta.
Suspeita-se que a extinção de pássaros e animais silvestres é acelerada pelo desalojamento, pela frustração das ninhadas, pela tristeza e desânimo diante da perda dos filhotes ou do companheiro. Essas circunstâncias adversas afetam o sistema nervoso, causam a perda da fertilidade e inibem o instinto da reprodução. Pode ser um dos caminhos da extinção de espécies.
A matança de machos ou fêmeas em postura, o desmatamento provocado pela urbanização rural, o ruído de tratores e carros, sons indiscretos de músicas tresloucadas são obstáculos que se associam para deter a diversidade da fauna e até provocar a defaunação criminosa. São insistentes os alertas da gradual perda da biodiversidade do bioma Cerrado.

O desequilíbrio e a desestabilização devem ser corrigidos com a preservação, o repouso e o pousio de grandes áreas contínuas por longos anos para a regeneração dos ecossistemas em benefício da biocomunidade da qual a espécie humana é apenas um integrante.

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