terça-feira, 12 de março de 2013

UM ESPAÇO À MINHA ESPERA



         O filósofo Agostinho de Hipona alertou seus leitores, por volta do ano 415, com esta frase: “Um caminho está à sua espera”.
Inconscientemente, eu procurava lugares, espaços, ambientes, caminhos com os quais ou com um deles me poderia entender. Então, determinaria sua configuração, sua maneira de me receber, obedecer e seguir minhas ordens. Todos esses espaços que eu projetava em mim, que eu desenhava para mim, se dissolveram como grandes nuvens cheias de promessas de chuva. Os ventos as levaram para outras regiões. Compreendi, então, que não são os seres vivos que esperam por espaços. São os espaços que esperam por eles.
Certo dia, um espaço, um pedaço do bioma Cerrado se ofereceu gratuitamente à minha desatenção. Insinuou-se sorrateiramente. Usou sua delicada e frágil maneira de sedução. Quando percebi, estava amarrado a ele por laços firmes e inquebrantáveis. A linguagem entre nós se tornou comum. A compreensão das mensagens recebidas ajustava-se às aspirações desejadas. Um novo universo exterior se revelou ao mundo interior que eu procurava. Denominei esse espaço: Sítio das Neves.
Defini esse novo estado de espírito como felicidade vegetal. Nesse momento senti com emoção e inteligência que as árvores e todos os animais desse ambiente viviam em estado de graça. Eram felizes porque possuíam tudo gratuitamente e ofereciam essa felicidade para o desfrute de quem a quisesse saborear.
Que ordens seguiam todos esses seres vivos que destilavam felicidade para aproveitamento de quem passasse por eles? Lição por lição, diálogo por diálogo, compreendi que um código irrecusável, contendo leis físicas, biológicas e genéticas, governava todos os tipos de inteligência dos seres vivos.
Todos os seres vivos são iguais perante estas leis e todos têm direito fundamental à vida. Mas a vida não pertence individualmente e exclusivamente a cada ser vivo. Todas as vidas brotadas das mesmas leis genéticas dependem umas das outras. As leis biológicas e genéticas determinam a interdependência dos seres vivos. O gás carbônico que eu emito é necessário à vida das plantas. E elas me pagam com uma porção de oxigênio. A cadeia da interdependência amarra os seres uns aos outros.
Quase ao final do meu caminho, encontrei o espaço que me esperava há milhões de anos. Um espaço verde, cheio de vidas às quais misturei a minha. Uma felicidade vegetal me inunda como as águas que molham o chão.
12/3/2013

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