quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

ESTA GUERRA É NOSSA – II PARTE



É deprimente ouvir e ler o que se diz e se escreve sobre a guerra do Rio travada pela tropa de elite três. Tudo está centrado na força das armas e na ação coordenada e espetacular das manobras militares, sem dúvida uma das razões de aplauso do povo, talvez não a mais importante.
Tudo está sendo feito para que a felicidade e a alegria da população reconheça o poder da lei, das armas e da polícia do Estado, outrora colaboradora do fortalecimento do comércio de drogas ilícitas.
A vitória de vinte mil homens fortemente armados e treinados contra 500 livre-atiradores não pode ser motivo de orgulho para quem quer construir relações de liberdade e convivência democrática no país.
Pelos depoimentos apresentados, percebe-se que os moradores dessas comunidades são pessoas sem força social e sem coesão comunitária e, por isso, se amoldam a quem os ajuda. Ontem, recebiam auxílio dos chefetes do morro e se acomodavam às suas ordens. Hoje, estão todos, ou a maioria, aplaudindo a polícia, os militares, os marinheiros. Amanhã, criticarão a todos porque perceberão que armas e soldados não recolhem lixo, não melhoram o transporte público, não renovam escolas, não canalizam o esgoto, não plantam árvores nos parques nem humanizam a urbanização de encostas perigosas. Armas não são a solução.
Infelizmente, os que governam o Estado esquecem que seu papel é administrar população. Usar armas para resolver conflitos é mais fácil do que construir uma organização participativa nessas comunidades onde falta quase tudo.
Ali, há pais, mães, avós, jovens e crianças. Os que fugiram pelos atalhos dos morros têm pai e mãe. Em falta do lícito, conseguiram com o ilícito pôr geladeira, máquina de lavar, televisão na casa da mãe que, desesperada com a possível morte do filho, o entrega à justiça.
Quem, no governo, está preparado, treinado e tem vontade de colaborar na construção de uma organização comunitária participativa com essas pessoas? Esta é a alternativa.
Se organismos não governamentais, associações de base por categorias e secretarias de governo se unissem para liberar as energias populares, como se uniram as forças militares, com inteligência e treinamento, apoio financeiro continuado e irrestrito, igual ao prometido pelo presidente Lula ao Governador do Estado do Rio de Janeiro para combater o crime com armas, em poucos anos – não em quatro – a autogestão se implantaria definitivamente nos morros e o resultado das futuras eleições poderia ser diferente.
Se essas comunidades confiarem mais na força, na organização e na presença da polícia armada, elas nunca serão livres. Serão devedoras permanentes de favores que vêm de cima. Trocam apenas de chefetes.
Um dos direitos fundamentais do cidadão é a liberdade de pensar para se organizar, escolher e decidir. Participar é decidir ou não é nada.

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