domingo, 2 de dezembro de 2007

A FEBRE DE DONA GAIA

A FEBRE DE DONA GAIA

Gaia, a deusa Terra, está enferma e febril. Cansada de gerar, amamentar e enterrar filhos ingratos, dá sinais de esgotamento. Os médicos de plantão não saem de sua cabeceira. Gaia não pode morrer.
Na última reunião da junta médica, na Noruega, os médicos Al Gore e Ragendra Pachauri foram apresentados como ganhadores do Prêmio Nobel da Paz, pela dedicação de ambos em desvendar as causas da febre de dona Gaia. Os diagnósticos dos premiados foram contestados por um pequeno grupo de cientistas céticos. Cada grupo de cientistas tem seu método de pesquisa. A lógica das hipóteses, que um método contém, leva a conclusões supostamente coerentes. Cada um prefere suas próprias razões. Diante dos debates, a grande família humana, apreensiva, espera novos resultados.
Quais são as causas do aquecimento do planeta Terra? A febre de dona Gaia é um sintoma da ação de alguma disfunção orgânica. Umas bactérias são mensuráveis, outras, pouco ponderáveis. O que aconteceu, há cem mil anos, é pouco visível. As suposições ajudam a formular hipóteses. Que informações antigas se têm, além do dilúvio descrito na Bíblia? Os egípcios relataram períodos de vacas magras. Isso tem a ver com secas prolongadas? Os romanos acumularam experiência em canalizar água, transformar desertos em florestas, em pomares e campos de cereais, no norte da África. Teria faltado água? Aqua vitae.
O aquecimento do planeta não se restringe à emissão de CO2. O universo tem suas leis e todas funcionam. Conhecê-las é um permanente desafio. Entre as causas do desconforto que sofremos, das doenças endêmicas, das mortes perpetradas pelos fenômenos naturais, há que se mencionar a ocupação da terra pelo homem. O crescimento progressivo da população mundial intensifica o uso das riquezas naturais, especialmente a terra, a água e as fontes de energia. O homem produz dióxido de carbono em grande quantidade. O desequilíbrio das relações entre o crescimento da população, a exploração da riqueza natural – terra e água – para a sobrevivência humana, os requerimentos do conforto social e de serviços essenciais à convivência não se fizeram acompanhar por sistemas eficazes de administração que promovessem investimentos estruturais no campo e nas cidades.
A Revolução Verde melhorou a produtividade agrícola, pela via do uso incontrolado da água, de fertilizantes e inseticidas para alimentar o mundo. Ganhamos mais comida, mas perdemos florestas. Secaram nascentes e rios. Quase um terço da humanidade passa fome e não tem acesso à água. Os incêndios que têm assolado o Brasil, a América do Norte, a Austrália e a Grécia contam com a imprudência humana e a longa estiagem. Quantos anos levará dona Gaia para se recuperar? Duas a três centenas de anos. As inundações na Índia, na China, Nova Orleans e regiões do Brasil destruíram cidades e instalaram, no caos urbano, as condições favoráveis ao desenvolvimento de pragas e doenças endêmicas. Os que não morrem pagam a conta da imprevidência.
A humanidade vai se adaptando às catástrofes. Enterra mortos. Reconstrói casas. Enquanto se discutem as causas do aquecimento do planeta Terra, acompanhamos, em tempo real, as queimadas da Amazônia pela TV, ou entramos no automóvel para ir ao supermercado, enfrentando engarrafamentos e estacionamentos lotados.
Tenho convicção de que a febre de dona Gaia diminuirá na medida em que se protegem nascentes de água, se plantam árvores, se respeitam as florestas, se oferece transporte alternativo ao carro individual. Mas essas ações serão muito mais complexas se a população mundial se expandir mais rapidamente do que as ações de combate às desigualdades entre países e pessoas.
A Terra se resume no pedaço de chão onde vivemos. Ame-o.

Eugênio Giovenardi (eugeniogiovenardi@yahoo.com.br) 24.10.07

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