sexta-feira, 28 de junho de 2024

AOS 90 ANOS – 1934-2024

 AOS 90 ANOS – 1934-2024

MENSAGEM AOS SOBREVIVENTES -
Obrigado, Hilkka, companheira desde 1968.
Obrigado, Aino, desde 1970.
Obrigado, Luiza, desde 1998 e Laura, desde 2002.
Obrigado, amigas e amigos, presentes e ausentes, que a vida me presenteou, desde 1934.
Chego aos 90 anos com a alegria de ter compreendido que a natureza se fez vida e a vida é a riqueza do planeta. Alegro-me de estar preso à teia da vida universal. Sou um dos frutos da árvore da vida. Sou um dos frutos da árvore da vida e dela pendem misteriosamente frutos humanos e não humanos.
Compreendi que a espécie humana não está sozinha no planeta e que todos os seres vivos, humanos e não humanos, estão ligados pela teia da vida que a natureza teceu, para desfrutar da luz, da água, do ar, da fertilidade e das belezas da Terra e sair à noite para ver estrelas.
Tudo o que o ser humano produz, para se prender à árvore da vida, me atrai, me comove, me alegra ou me indigna. Tudo o que é próprio dos seres não humanos, vegetais ou animais, me interessa e me envolve por sua comunicação sem palavras.
Agradeço à natureza que me deu a vida. Sou grato aos presentes e aos ausentes, aos que me antecederam na árvore da vida e, silenciosamente, me deram senhas para acessar os mistérios da existência. Abriram comigo, palavra por palavra, o caminho da sabedoria, do conhecimento, da liberdade de ser, de pensar e de amar.
Agradeço, com profunda emoção, as árvores e todas as vidas que me esperaram pacientes, por milhares de anos, como habitantes da Biocomunidade do Sítio das Neves, no Planalto Central do Brasil, e que me adotaram, como hóspede, desde 1974.
Aprendi, em sua companhia, a ter paciência com a incerteza do tempo, a ouvir o silêncio, olhar para cima e penetrar os segredos milenares das águas e do solo. Aprendi com o curso das águas que nenhum rio, pequeno ou grande, chega sozinho ao mar.
Compreendi, nesses noventa anos, que estamos todos envoltos na teia da vida a abrir o caminho possível para chegar ao destino. Caminhar é preciso para viver. Em meus 27 livros publicados, abri meus pensamentos, minhas certezas e incertezas, minhas tristezas e alegrias, meus desencantos e minhas esperanças.
Aprendi, com o poeta, a lição da vida:
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar,
golpe a golpe,
verso a verso.

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