REFAZIMENTO DO CERRADO
LAGO PARANOÁ E OUTROS
LAGOS
Das
águas cristalinas da Missão Cruls
ao
depósito de águas usadas e contaminadas.
Minhas
observações, ao longo de 49 anos, atinentes à regeneração de uma área degradada
de 70 hectares de Cerrado, no Distrito Federal, somam-se aos alertas de
especialistas e a explicações dadas por órgãos oficiais. A água é o elemento
essencial para manutenção da vida. É a prioridade das prioridades. Não há pão
sem água. O Lago Paranoá e outras represas que oferecem água potável sofrem a
influência de quatro elementos essenciais à vida, à saúde e à reprodução da biodiversidade.
Esses elementos não são devidamente relacionados ao se examinar o grau de
contaminação das águas. Grandes estruturas, como as represas, construídas pelo
engenho humano, para acumular águas em benefício de todos os seres vivos, podem
ser enganosas porque mostram volumes aparentemente inesgotáveis.
Primeiro ponto. Ocupação
e uso do solo.
O
volume de água das represas, em metros cúbicos, medido apenas com réguas
estáticas e não com sensores de alta precisão, tanto no Lago Paranoá, quanto no
Descoberto e outros reservatórios, pode não corresponder à realidade. A
extensão física do contorno e do espelho d’água não reflete o real volume do
líquido armazenado. O assoreamento dos lagos e rios está sem controle. O
estuário Guaíba (POA) e a Lagoa dos Patos (RS) mostraram o resultado do acúmulo
de terra levada pelos rios da Serra Gaúcha.
No
Distrito Federal, durante seis meses, milhares de metros cúbicos de água das
chuvas são levados diretamente ou por dutos subterrâneos aos córregos e lagos. Além
de inundar locais sem esgotamento adequado, as águas encontram caminho livre nas
áreas urbanizadas, densamente impermeabilizadas, para arrastar aos córregos que
alimentam os lagos centenas de metros cúbicos de terra, mesclados com detritos
vegetais e dejetos sólidos.
Segundo ponto.
Sistemas de filtragem
O
grau de pureza da água do Lago, demonstrado por sistemas de filtragem, ainda
que considerados eficientes, não reflete a realidade da contaminação por
fatores externos que se agregam ao volume recebido de águas usadas diariamente
pela população. As águas que descem ao Lago, com vazão indefinida, proveem de
córregos desprotegidos e contaminados em sua origem. Os múltiplos bueiros de
esgotamento, de difícil manutenção e limpeza, despejam águas usadas nos lagos e
represas provenientes de milhares de imóveis de habitação e trabalho, de
restaurantes, escolas, hospitais e postos de gasolina. Os dados da Caesb ou da
Adasa estimam volumes médios por unidade residencial ou per capita, mas não
indicam o fabuloso volume de líquido diário que abastece o Lago Paranoá e
outros reservatórios. Pela média individual de litros, usada por consumidores
brasilienses, estimada por órgãos de controle hídrico, são despejados no Lago
Paranoá, diariamente, não menos de 700.000.000 de litros de água originada em
banheiros, cozinhas, lavanderias, limpeza urbana. A vazão das nascentes do DF é
estimada em 9.300 litros, por segundo, o equivalente a 820.800.000 litros/dia.
Centenas de poços artesianos complementam a oferta de água para diferentes
modalidades de uso da população, na cidade e no campo. O déficit de água, no DF,
é evidente.
Terceiro ponto: Águas.
Nascentes
e poços artesianos conflitam. As nascentes morrem quando a vegetação nativa é
retirada. Os poços artesianos esgotam os aquíferos próximos às nascentes quando
a perfuração não é acompanhada de estudos geológicos para localização dos lagos
interiores. No período chuvoso, que se estende por seis meses, as águas contaminadas,
que não descem pelos bueiros, desembocam diretamente no Lago. Bilhões de litros
(ou quilos) de água da chuva lavam milhares de prédios, milhões de folhas de
árvores cobertas de poeira tóxica, quilômetros de ruas morro abaixo, áreas de estacionamentos
e arrastam ao Lago Paranoá, em toda sua vasta extensão, sem controle de filtros,
areia, paus e pedras, lixo líquido e sólido, resíduos pulverizados de pneus,
óleos lubrificantes deixados nas pistas por milhares de carros.
Quarto ponto. Ar/vento.
A
arquitetura urbana, a altura e disposição dos prédios influem e alteram a
direção dos ventos. Os ventos não só levantam poeira como espalham elementos
tóxicos e os depositam sobre o espelho do Lago ou são respirados pela população
sem filtros de purificação. A contaminação do ar chega sobre toda a extensão do
Lago. Doenças respiratórias se infiltram em humanos e não humanos.
Quinto ponto. Luz/calor.
No
período seco, entre maio e setembro, com clima frio ressequido, associado aos
ventos do outono e do inverno, o consumo de água de todos os seres vivos aumenta
para repor a perda hídrica do organismo. São meses de proliferação de doenças
respiratórias. As queimadas costumeiras, a fumaça e as cinzas cobrem os
espelhos de água e a vegetação, penetram as residências e se alojam nos pulmões
de humanos e não humanos. Há uma dupla contaminação, neste período, operada
direta ou indiretamente pela ação humana ─ nos organismos vivos e em todas as
águas desprotegidas.
Água é vida! Água contaminada gera doenças fatais.
20.6.2024
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