quinta-feira, 20 de junho de 2024

ALERTAS QUE VÊM DAS ÁGUAS

 REFAZIMENTO DO CERRADO

LAGO PARANOÁ E OUTROS  LAGOS

 Alerta sobre as águas do Lago Paranoá.

 

Das águas cristalinas da Missão Cruls

ao depósito de águas usadas e contaminadas.

 Cientistas e ecologistas experientes anunciam alertas, há mais de 20 anos, sobre as manifestações dos fenômenos físicos de alto poder destruidor que afetam todos os seres vivos.  Espera-se pela tragédia ou um diálogo diferente com a natureza das coisas é possível e urgente? Alguns aspectos desses alertas podem ser enfatizados para melhor compreensão dos consumidores humanos em suas múltiplas e diferentes atividades para manutenção da vida. O tempo da natureza não é o tempo de uma espécie viva. É o tempo incomensurável da manutenção da teia do milagre inexplicável da vida.

Minhas observações, ao longo de 49 anos, atinentes à regeneração de uma área degradada de 70 hectares de Cerrado, no Distrito Federal, somam-se aos alertas de especialistas e a explicações dadas por órgãos oficiais. A água é o elemento essencial para manutenção da vida. É a prioridade das prioridades. Não há pão sem água. O Lago Paranoá e outras represas que oferecem água potável sofrem a influência de quatro elementos essenciais à vida, à saúde e à reprodução da biodiversidade. Esses elementos não são devidamente relacionados ao se examinar o grau de contaminação das águas. Grandes estruturas, como as represas, construídas pelo engenho humano, para acumular águas em benefício de todos os seres vivos, podem ser enganosas porque mostram volumes aparentemente inesgotáveis.

 

Primeiro ponto. Ocupação e uso do solo.

O volume de água das represas, em metros cúbicos, medido apenas com réguas estáticas e não com sensores de alta precisão, tanto no Lago Paranoá, quanto no Descoberto e outros reservatórios, pode não corresponder à realidade. A extensão física do contorno e do espelho d’água não reflete o real volume do líquido armazenado. O assoreamento dos lagos e rios está sem controle. O estuário Guaíba (POA) e a Lagoa dos Patos (RS) mostraram o resultado do acúmulo de terra levada pelos rios da Serra Gaúcha.

No Distrito Federal, durante seis meses, milhares de metros cúbicos de água das chuvas são levados diretamente ou por dutos subterrâneos aos córregos e lagos. Além de inundar locais sem esgotamento adequado, as águas encontram caminho livre nas áreas urbanizadas, densamente impermeabilizadas, para arrastar aos córregos que alimentam os lagos centenas de metros cúbicos de terra, mesclados com detritos vegetais e dejetos sólidos.

Segundo ponto. Sistemas de filtragem

O grau de pureza da água do Lago, demonstrado por sistemas de filtragem, ainda que considerados eficientes, não reflete a realidade da contaminação por fatores externos que se agregam ao volume recebido de águas usadas diariamente pela população. As águas que descem ao Lago, com vazão indefinida, proveem de córregos desprotegidos e contaminados em sua origem. Os múltiplos bueiros de esgotamento, de difícil manutenção e limpeza, despejam águas usadas nos lagos e represas provenientes de milhares de imóveis de habitação e trabalho, de restaurantes, escolas, hospitais e postos de gasolina. Os dados da Caesb ou da Adasa estimam volumes médios por unidade residencial ou per capita, mas não indicam o fabuloso volume de líquido diário que abastece o Lago Paranoá e outros reservatórios. Pela média individual de litros, usada por consumidores brasilienses, estimada por órgãos de controle hídrico, são despejados no Lago Paranoá, diariamente, não menos de 700.000.000 de litros de água originada em banheiros, cozinhas, lavanderias, limpeza urbana. A vazão das nascentes do DF é estimada em 9.300 litros, por segundo, o equivalente a 820.800.000 litros/dia. Centenas de poços artesianos complementam a oferta de água para diferentes modalidades de uso da população, na cidade e no campo. O déficit de água, no DF, é evidente.

Terceiro ponto: Águas.

Nascentes e poços artesianos conflitam. As nascentes morrem quando a vegetação nativa é retirada. Os poços artesianos esgotam os aquíferos próximos às nascentes quando a perfuração não é acompanhada de estudos geológicos para localização dos lagos interiores. No período chuvoso, que se estende por seis meses, as águas contaminadas, que não descem pelos bueiros, desembocam diretamente no Lago. Bilhões de litros (ou quilos) de água da chuva lavam milhares de prédios, milhões de folhas de árvores cobertas de poeira tóxica, quilômetros de ruas morro abaixo, áreas de estacionamentos e arrastam ao Lago Paranoá, em toda sua vasta extensão, sem controle de filtros, areia, paus e pedras, lixo líquido e sólido, resíduos pulverizados de pneus, óleos lubrificantes deixados nas pistas por milhares de carros.

Quarto ponto. Ar/vento.

A arquitetura urbana, a altura e disposição dos prédios influem e alteram a direção dos ventos. Os ventos não só levantam poeira como espalham elementos tóxicos e os depositam sobre o espelho do Lago ou são respirados pela população sem filtros de purificação. A contaminação do ar chega sobre toda a extensão do Lago. Doenças respiratórias se infiltram em humanos e não humanos.

Quinto ponto. Luz/calor.

No período seco, entre maio e setembro, com clima frio ressequido, associado aos ventos do outono e do inverno, o consumo de água de todos os seres vivos aumenta para repor a perda hídrica do organismo. São meses de proliferação de doenças respiratórias. As queimadas costumeiras, a fumaça e as cinzas cobrem os espelhos de água e a vegetação, penetram as residências e se alojam nos pulmões de humanos e não humanos. Há uma dupla contaminação, neste período, operada direta ou indiretamente pela ação humana ─ nos organismos vivos e em todas as águas desprotegidas.

Água é vida! Água contaminada gera doenças fatais. 

20.6.2024


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