Senhor
Redator,
Como
assinante do CB, acompanho com interesse o incentivo do jornal à arborização da
cidade de Brasília, incluindo satélites. No intuito de colaborar, espero
que aceite e autorize a publicação do artigo que segue.
Eugênio
Giovenardi (CPF 090928381-87) 1.2.2023
Eugênio Giovenardi, sociólogo ecologista e escritor
Arborizar uma cidade é levar para
perto da população ar puro, água limpa, mais umidade e contribuir para a
regeneração dos ecossistemas. Plantar árvores supõe monitorar a saúde delas e
não apenas podá-las segundo critérios não científicos, como se plantas fossem
só objetos de beleza para admiração dos cidadãos. Brasília, a cidade-parque,
especialmente no Plano Piloto, é coberta por uma grande, majestosa e diversificada
população de árvores. O sistema de manutenção e cuidado da arborização da
cidade é precário. Pouca atenção se deu às orientações e projetos do premiado
ambientalista Burle Marx. As árvores são geralmente aceitas como enfeites, como
objetos de admiração, como coisas que se podem maltratar, cortar ou podar de
maneira inculta. O racional e emocional é admirá-las como seres vivos, com
identidade própria, ameaçados em sua saúde por predadores naturais, entre
estes, os humanos. Por isso, as árvores precisam ser monitoradas, auscultadas e
tratadas para que se mantenham sadias e protejam a saúde da biodiversidade do
ecossistema.
As árvores são indivíduos e
mantêm sua individualidade abraçadas pela floresta que as protege e as une com
uma rede de comunicação e alimentação, no constante labor das raízes e no
entrelaçamento de coirmãs de diferentes formas, tamanhos e espécies. As árvores
são. Não aparentam ser. Sua autenticidade é orgânica e social. Contrasta com a
preocupação humana de dar a elas uma aparência fictícia à imitação dos hábitos
culturais da espécie sapiens. As árvores são e conservam seu estado permanente
de autenticidade. Não necessitam de beleza maquiada com insólitos modelos de
manequins arbóreos em voga nas passarelas da administração pública do Distrito
Federal.
As árvores não fingem. Elas
são a verdade da natureza revelada em cada ecossistema. Elas são o que são:
altas, finas, fortes, fracas, vestidas de verde, de vermelho ou desnudas,
galhos soltos ao vento, silenciosas, livres. A tendência da espécie humana é
julgar o comportamento de seus iguais, a obediência ou desobediência aos
hábitos culturais aprovados por leis não escritas. Julgar as árvores com essas
regras e réguas perde-se o essencial. Impor regras às árvores é não as aceitar
como são.
Os órgãos
públicos do Distrito Federal encarregados da conservação do ecossistema, no
qual se encarta a identidade arquitetônica de Brasília, precisam ter a
humildade de ouvir a comunidade científica e ecológica antes de tomar decisões
administrativas que atingem a arborização da Cidade-Parque. Com referência à
saúde das árvores que povoam Brasília, existem, no país, institutos e empresas
de pesquisa que desenvolvem técnicas científicas para monitorar preventivamente
seu estado clínico.
Conforme revela a revista Pesquisa Fapesp, de janeiro de 2023, empresas
paulistas, como a Kerno Geo Soluções, entre outras, utilizam métodos
tecnológicos da geofísica, por meio de imagens tridimensionais de alta
resolução do interior dos troncos e das raízes ocultas. Essas imagens detectam
o estado de saúde das árvores, possíveis doenças ou ataques de fungos e
bactérias que podem danificar e debilitar o corpo do indivíduo vegetal. A queda
de árvores, por essas causas, pode ser evitada prematuramente. O importante na
aplicação desses métodos tecnológicos é que seu uso distingue, de maneira
cabal, a ação técnica de manejo dos indivíduos arbóreos com procedimentos de
saúde preventiva, diferente da prática manual da poda indiscriminada de árvores
como se constata em Brasília.
Tem-se, portanto, duas práticas distintas que podem ser executadas ─
podas periódicas para obedecer a um manequim arbóreo ou a razões mal definidas
pelo órgão público responsável; ou, dependendo do diagnóstico, o manejo
tecnológico preventivo. As imagens de alta resolução sobre a saúde das árvores
integradas à vida urbana, especialmente em se tratando da arborização intensa e
variada de Brasília, Cidade-Parque, propiciarão melhores condições para a vida
das árvores e para a saúde da população.
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