SAÚDE DAS ÁRVORES
Brasília, a cidade-parque, especialmente no Plano Piloto,
é coberta por uma grande, majestosa e diversificada população de árvores. O sistema
de manutenção e cuidado da arborização da cidade é precário. Pouca atenção se
deu às orientações e projetos do premiado ambientalista Burle Marx. As árvores
são geralmente aceitas como enfeites, como objetos de admiração, como coisas
que se podem maltratar, cortar ou podar de maneira inculta. O racional e
emocional é admirá-las como seres vivos, com identidade própria, ameaçados em
sua saúde por predadores naturais, entre estes os humanos. Por isso, as árvores
precisam ser monitoradas, auscultadas e tratadas para que se mantenham sadias e
protejam a saúde da biodiversidade do ecossistema.
Os órgãos públicos do Distrito Federal encarregados da conservação do ecossistema no qual se encarta a identidade arquitetônica de Brasília, precisam ter a humildade de ouvir a comunidade científica e ecológica antes de tomar decisões administrativas que atingem a arborização da Cidade-Parque. Com referência à saúde das árvores que povoam Brasília, existem, no país, institutos e empresas de pesquisa que desenvolvem técnicas científicas para monitorar preventivamente seu estado clínico.
As árvores são indivíduos e mantêm sua individualidade abraçadas pela floresta que as protegem e as unem com uma rede de comunicação e alimentação, no constante labor das raízes e no entrelaçamento de coirmãs de diferentes formas, tamanhos e espécies. As árvores são. Não aparentam ser. Autenticidade orgânica e social. Contrasta com a preocupação de dar a elas uma aparência fictícia à imitação dos hábitos culturais da espécie humana. As árvores são e conservam seu estado permanente de autenticidade. Não necessitam de beleza maquiada com insólitos modelos de manequins arbóreos em voga nas passarelas da administração pública do Distrito Federal.
Menciono, como exemplo, a KERNO GEO SOLUÇÕES. É uma empresa paulista que utiliza métodos tecnológicos da geofísica, por meio de imagens tridimensionais de alta resolução do interior dos troncos e das raízes ocultas, para detectar o nível de saúde das árvores, de possíveis doenças ou ataques de fungos e bactérias que podem danificar e debilitar o corpo do indivíduo vegetal. A queda de árvores, por essas causas, pode ser evitada prematuramente. O importante na aplicação desses métodos tecnológicos é que seu uso distingue, de maneira cabal, a ação técnica de manejo dos indivíduos arbóreos com procedimentos de saúde preventiva, diferente da prática manual da poda indiscriminada de árvores por teorias exóticas, como a da Novacap, em Brasília.
Tem-se, portanto, duas práticas distintas que podem ser
executadas: podas periódicas para obedecer a um manequim arbóreo ideológico ou
a interesses mal definidos pelo órgão público responsável; ou, dependendo do
diagnóstico, o manejo tecnológico preventivo com imagens de alta resolução dos
indivíduos vegetais, especialmente em se tratando da arborização intensa e
variada de Brasília, Cidade-Parque.
(Fonte: PESQUISA FAPESP -
JANEIRO 2023 - N. 323)
11.1.2023
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