CBN – BRASÍLIA 61
Este áudio poderá ser ouvido na CBN, no dia 21.4.2021
Conheci Brasília, menina, em sua frescura de seis anos, em 1966. Brasília era a criança esperança de um novo Brasil.
Impressionou-me, na primeira noite, o silêncio misterioso do Planalto. Olhei para o imenso firmamento cheio de estrelas e elas me convidaram para ficar com ela. A aparente solidão do Cerrado, que eu não conhecia, completou o convite.
Agraciado com uma bolsa do governo francês, em 1967, ingressei na Universidade de Paris.
Em maio de 1968, os parisienses fizeram das ruas o ponto de encontro para discutir o futuro da França.
Caminhando pelas ruas de Paris, saudei Hilkka, uma jovem jornalista finlandesa que cobria os eventos. Com ela, anos depois, voltei a São Paulo, onde integrei um Projeto da FAO/MA, que se transferiu depois para Brasília. Em julho de 1972, com Hilkka e a menina de dois anos, Aino Alexandra, hoje nutricionista do Banco de Leite do Hosp. do Paranoá, tomamos o trem de Campinas a Brasília. Era, infelizmente, a última viagem do trem de passageiros, de São Paulo a Brasília. Desembarcamos na estação ferroviária do Guará.
Brasília já completava, então, 12 anos e contava com 500 mil habitantes.
Dois anos depois, percebi que a cidade-parque crescia e o cerrado diminuía. Nascentes e córregos iam sendo soterrados por avenidas e viadutos. As árvores caiam ou eram consumidas pelo fogo. O ecossistema perdia a virgindade pela força das cidades satélites e a biodiversidade se empobrecia. A cidade-parque e seus glorificados monumentos e palácios não ultrapassaram o Plano Piloto.
Em 1974, em reunião de família, diante dos riscos ecológicos do desmatamento e da crise hídrica, que se anunciavam, pela intensa urbanização e aumento da população, decidimos adquirir uma área degradada de Cerrado, dentro dos limites do DF, para protegê-la da especulação imobiliária e da agricultura predatória.
Passados 44 anos de proteção permanente contra o fogo, o desmatamento e a caça, livre de machados e motosserras, esses 70 hectares de Cerrado readquiriram sua dignidade.
Mais de 7 milhões de árvores e arbustos se regeneraram.
Os olhos d’água verteram lágrimas cristalinas. Pássaros e animais voltaram a seu lugar para se aninhar e reproduzir.
Brasília mereceu esta herança verde como um gesto de gratidão de nossas netas Luiza e Laura que ela viu nascer em seus braços.
Esta área regenerada, a biodiversidade reconstituída é parte do carinho humano e da alegria de contribuir para a felicidade vegetal do ecossistema do Planalto Central e para a celebração dos 61 anos da menina de seis anos que conheci, em 1966.
Parabéns
, Brasília!Área regenerada após 44 anos de respeito ao ecossistema. (Foto: Eugênio Giovenardi, Sítio das Neves)
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