sábado, 16 de junho de 2018

TRANSIÇÃO ECOLÓGICA


TRANSIÇÃO ECOLÓGICA


Eugênio Giovenardi, escritor, ecossociólogo, 
acadêmico do IHG/DF

O Fórum Mundial da Água e o Fórum Alternativo Mundial da Água, realizados em março de 2018, em Brasília, indicaram a necessidade premente de se elaborar uma política da água para o Brasil e, especialmente, para o Distrito Federal. A suspensão do racionamento de água, em vigor desde 2017, precisa de ações sistêmicas que administrem o possível retorno dessa medida restritiva que não atingiu igualitariamente a população de Brasília.
A política da água deverá estar incluída em uma visão ampla e sistêmica de Transição Ecológica que leve a sociedade e cada um dos cidadãos a terem um novo olhar sobre a natureza. Transição Ecológica é a mudança gradativa de conhecimentos, de atitudes e comportamentos adotados até agora com a natureza, os biomas, os ecossistemas, as mudanças climáticas prejudicando a interdependência de todos os seres vivos.
A transição ecológica visa igualmente a mudança gradativa, mas radical, do modelo econômico atual baseado no circuito produção e consumo, escravo do crescimento ilimitado orientado pelo produto interno bruto. Há três elementos a considerar na transição ecológica, considerando-se a limitação da oferta de bens do planeta: 1) o crescimento linear da população humana que necessita água, alimentos e bens de consumo essenciais cada dia mais diversificados. Hoje a população mundial é de 7,8 bilhões e, para 2050, a projeção da ONU é de 10,0 bilhões. A repartição dos bens, no modelo econômico atual, é visivelmente desigual e, a manter-se, a desigualdade crescerá. 2) O uso diversificado da água, a produção de alimentos, de máquinas, automóveis, aviões, trens, moradias, requeridos pela população crescente espoliam florestas, arrasam montanhas, secam rios, enfraquecem ecossistemas, reduzem a biodiversidade, empobrecem o planeta, envenenam as águas. 3) A urbanização avassaladora, é fonte inesgotável de poluição do ar, de contaminação das águas, de produção incontrolável de lixo orgânico, de plásticos, e toda sorte de material tóxico, de desperdício de bens, de assassinatos, de acidentes de trânsito.
A transição ecológica será um processo de revisão de nossos comportamentos se quisermos ter a natureza de nosso lado. Hoje, nossos crimes ecológicos indicam que não estamos do lado da natureza e por isso sofremos as consequências. Daí a necessidade de uma política da água no bojo da transição ecológica elaborada a muitas mãos. A participação de universidades, do Ministério Público, de Ong’s, de especialistas e grupos ambientalistas será imperiosa para apresentar à sociedade uma política da água que atenda às necessidades da população crescente.

 Um inventário minucioso e transparente, amplamente divulgado, da oferta de água superficial e subterrânea para uso de necessidades essenciais melhora a compreensão da escassez. O controle da exploração de aquíferos por meio de poços artesianos, com sobretaxa em piscinas particulares é medida democrática. A limitação das concessões e outorgas para fabricação de bebidas e outros usos é mais do que oportuna. A restrição da irrigação para produção de alimentos de consumo interno e de exportação, de acordo com estudos nacionais e internacionais de organismos de pesquisas no Brasil e no exterior é, junto comas anteriores, medida a ser proposta e executada na implementação da política da água.
A coleta seletiva do lixo, ainda incipiente no Brasil, e o saneamento básico nas pequenas e médias cidades e metrópoles devem ter caráter prioritário. A fiscalização e a construção de pontos de coleta de lixo ao longo das rodovias, o rígido controle no uso de agrotóxicos na agricultura e no combate a insetos, a ampliação do transporte público movido a eletricidade, entre outras medidas, reduzirão a contaminação do ar e a poluição dos aquíferos superficiais e subterrâneos. A política da água terá êxito se forem previstos e aplicados investimentos massivos águas acima, na direção das nascentes para preservação da vegetação nativa necessária à proteção dos mananciais.
Diante da imprevisibilidade do clima e da irregularidade das chuvas, uma medida inteligente será estabelecer, por alguns anos, o período de racionamento de água a toda a população nos meses de estiagem e suspendê-lo na época da chuva. O estrito controle do uso da água e um programa permanente de educação ambiental, associados a medidas estruturais, facilitarão o caminho para a transição ecológica no Distrito Federal.


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