TRANSIÇÃO
ECOLÓGICA
Eugênio Giovenardi, escritor, ecossociólogo,
acadêmico do IHG/DF
O Fórum Mundial da Água e o Fórum Alternativo Mundial
da Água, realizados em março de 2018, em Brasília, indicaram a necessidade
premente de se elaborar uma política da água para o Brasil e, especialmente,
para o Distrito Federal. A suspensão do racionamento de água, em vigor desde
2017, precisa de ações sistêmicas que administrem o possível retorno dessa
medida restritiva que não atingiu igualitariamente a população de Brasília.
A política da água deverá estar incluída em uma visão
ampla e sistêmica de Transição Ecológica que leve a sociedade e cada um dos
cidadãos a terem um novo olhar sobre a natureza. Transição Ecológica é a
mudança gradativa de conhecimentos, de atitudes e comportamentos adotados até
agora com a natureza, os biomas, os ecossistemas, as mudanças climáticas prejudicando
a interdependência de todos os seres vivos.
A transição ecológica visa igualmente a mudança gradativa,
mas radical, do modelo econômico atual baseado no circuito produção e consumo,
escravo do crescimento ilimitado orientado pelo produto interno bruto. Há três
elementos a considerar na transição ecológica, considerando-se a limitação da
oferta de bens do planeta: 1) o crescimento linear da população humana que
necessita água, alimentos e bens de consumo essenciais cada dia mais
diversificados. Hoje a população mundial é de 7,8 bilhões e, para 2050, a
projeção da ONU é de 10,0 bilhões. A repartição dos bens, no modelo econômico
atual, é visivelmente desigual e, a manter-se, a desigualdade crescerá. 2) O
uso diversificado da água, a produção de alimentos, de máquinas, automóveis,
aviões, trens, moradias, requeridos pela população crescente espoliam
florestas, arrasam montanhas, secam rios, enfraquecem ecossistemas, reduzem a
biodiversidade, empobrecem o planeta, envenenam as águas. 3) A urbanização
avassaladora, é fonte inesgotável de poluição do ar, de contaminação das águas,
de produção incontrolável de lixo orgânico, de plásticos, e toda sorte de
material tóxico, de desperdício de bens, de assassinatos, de acidentes de trânsito.
A transição ecológica será um processo de revisão de
nossos comportamentos se quisermos ter a natureza de nosso lado. Hoje, nossos
crimes ecológicos indicam que não estamos do lado da natureza e por isso
sofremos as consequências. Daí a necessidade de uma política da água no bojo da
transição ecológica elaborada a muitas mãos. A participação de universidades,
do Ministério Público, de Ong’s, de especialistas e grupos ambientalistas será
imperiosa para apresentar à sociedade uma política da água que atenda às
necessidades da população crescente.
Um inventário
minucioso e transparente, amplamente divulgado, da oferta de água superficial e
subterrânea para uso de necessidades essenciais melhora a compreensão da
escassez. O controle da exploração de aquíferos por meio de poços artesianos,
com sobretaxa em piscinas particulares é medida democrática. A limitação das
concessões e outorgas para fabricação de bebidas e outros usos é mais do que
oportuna. A restrição da irrigação para produção de alimentos de consumo
interno e de exportação, de acordo com estudos nacionais e internacionais de
organismos de pesquisas no Brasil e no exterior é, junto comas anteriores,
medida a ser proposta e executada na implementação da política da água.
A coleta seletiva do lixo, ainda incipiente no Brasil,
e o saneamento básico nas pequenas e médias cidades e metrópoles devem ter
caráter prioritário. A fiscalização e a construção de pontos de coleta de lixo
ao longo das rodovias, o rígido controle no uso de agrotóxicos na agricultura e
no combate a insetos, a ampliação do transporte público movido a eletricidade,
entre outras medidas, reduzirão a contaminação do ar e a poluição dos aquíferos
superficiais e subterrâneos. A política da água terá êxito se forem previstos e
aplicados investimentos massivos águas acima, na direção das nascentes para
preservação da vegetação nativa necessária à proteção dos mananciais.
Diante da imprevisibilidade do clima e da
irregularidade das chuvas, uma medida inteligente será estabelecer, por alguns
anos, o período de racionamento de água a toda a população nos meses de
estiagem e suspendê-lo na época da chuva. O estrito controle do uso da água e um
programa permanente de educação ambiental, associados a medidas estruturais,
facilitarão o caminho para a transição ecológica no Distrito Federal.
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