sexta-feira, 25 de maio de 2018

MAIO - 68


Fotos: 1968 a 2018

MAIO-68


Paris, durante 45 dias, generosamente propôs à espécie humana um novo olhar sobre a natureza das coisas. Um novo olhar sobre a convivência social, sobre a economia exploradora da riqueza natural e sua distribuição, sobre a condição humana. As ruas de Paris acolheram o diálogo, a fraternidade, o debate livre, sob a antinorma “interdit d’interdire” e “l’imagination au pouvoir”. Os donos da verdade tremeram em seus palácios e bunkers.
Agradecido, celebro os 50 anos dessa festa da liberdade e do ensaio de libertação das imposições generalizadas, como testemunha e partícipe. Há cinquenta anos, no dia 26 de maio de 1968, a conjunção de coincidências inexplicáveis arrumou meu encontro com Hilkka Mäki, uma jornalista que observava, na calçada da rua Vaugirard, o enfrentamento de estudantes com a polícia francesa.
A rua Vaugirard nos separava. Para começarmos uma jornada comum de 50 anos, foi preciso atravessar a rua. Era o que o Movimento de Maio-68 propunha: atravessar ruas, oceanos e fronteiras proibidas para ultrapassar as injustiças, os preconceitos, a discriminação, as escravidões explicitas e disfarçadas, as mentiras sociais e educacionais.
Atravessei a rua Vaugirard e a jornalista desconhecida, num tom de velha amizade, perguntou-me se eu estava de acordo com as mensagens que se discutiam nas ruas de Nanterre e de Paris, na Praça da Sorbonne e do Panteão, no Teatro Odéon e no Ópera, nas escolas e nos bistrôs. Essa pergunta deu sentido ao rumo de minha caminhada. Tive uma estranha sensação de que a jornalista e eu compartilharíamos as alegrias e as agruras da vida. Atravessei a rua, e há 50 anos, atravessamos o oceano.
A globalização da liberdade de pensar e de construir um mundo diferente assustou a humanidade. Maio-68 terminou e deixou para trás uma era. A solavancos, enfrentamos a era pós Maio-68. As grandes decepções desta era anunciam mudanças que as novas gerações terão que administrar.
Hilkka e eu pertencemos aos ideais de Maio-68. Atravessamos juntos todas as ruas congestionadas para desfrutar de um mundo livre e fraterno.
É decepcionante perceber, 50 anos depois, que as autodenominadas esquerdas brasileiras recusam atravessar a rua da história na busca de um destino mais generoso para os cidadãos do país. 

26.5.2018

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