Fotos: 1968 a 2018
MAIO-68
Paris, durante 45 dias,
generosamente propôs à espécie humana um novo olhar sobre a natureza das coisas.
Um novo olhar sobre a convivência social, sobre a economia exploradora da
riqueza natural e sua distribuição, sobre a condição humana. As ruas de Paris
acolheram o diálogo, a fraternidade, o debate livre, sob a antinorma “interdit
d’interdire” e “l’imagination au pouvoir”. Os donos da verdade tremeram em seus
palácios e bunkers.
Agradecido, celebro os 50
anos dessa festa da liberdade e do ensaio de libertação das imposições generalizadas,
como testemunha e partícipe. Há cinquenta anos, no dia 26 de maio de 1968, a
conjunção de coincidências inexplicáveis arrumou meu encontro com Hilkka Mäki,
uma jornalista que observava, na calçada da rua Vaugirard, o enfrentamento de
estudantes com a polícia francesa.
A rua Vaugirard nos
separava. Para começarmos uma jornada comum de 50 anos, foi preciso atravessar
a rua. Era o que o Movimento de Maio-68 propunha: atravessar ruas, oceanos e
fronteiras proibidas para ultrapassar as injustiças, os preconceitos, a
discriminação, as escravidões explicitas e disfarçadas, as mentiras sociais e
educacionais.
Atravessei a rua
Vaugirard e a jornalista desconhecida, num tom de velha amizade, perguntou-me
se eu estava de acordo com as mensagens que se discutiam nas ruas de Nanterre e
de Paris, na Praça da Sorbonne e do Panteão, no Teatro Odéon e no Ópera, nas
escolas e nos bistrôs. Essa pergunta deu sentido ao rumo de minha caminhada.
Tive uma estranha sensação de que a jornalista e eu compartilharíamos as
alegrias e as agruras da vida. Atravessei a rua, e há 50 anos, atravessamos o
oceano.
A globalização da
liberdade de pensar e de construir um mundo diferente assustou a humanidade.
Maio-68 terminou e deixou para trás uma era. A solavancos, enfrentamos a era
pós Maio-68. As grandes decepções desta era anunciam mudanças que as novas
gerações terão que administrar.
Hilkka e eu pertencemos
aos ideais de Maio-68. Atravessamos juntos todas as ruas congestionadas para
desfrutar de um mundo livre e fraterno.
É decepcionante perceber,
50 anos depois, que as autodenominadas esquerdas brasileiras recusam atravessar
a rua da história na busca de um destino mais generoso para os cidadãos do
país.
26.5.2018
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