quarta-feira, 17 de agosto de 2016

ÁGUAS DO LAGO PARANOÁ



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MARCOS GARZON, escritor e ambientalista, em seu livro, 2004, Tarde demais?, escreveu: “Na região do Distrito Federal, desde a inauguração da cidade de Brasília, mais de 60 nascentes foram destruídas”.Agonizam os córregos Vicente Pires, Cabeceira do Valo (Veado) e Cana do Reino. Estudos demonstram que mais de 300 córregos e riachos desapareceram. 

Nenhuma menção se faz ao superpovoamento do DF. Durante o período de estiagem não se faz menção à racionalidade do uso da água. Gasta-se até mais do que em outros meses. A oferta de água proveniente das nascentes não se altera e é insuficiente para satisfazer as múltiplas e diversificadas necessidades da população. 

O acréscimo de 105 bebês por dia, no DF, o que resulta em 38.000 novos habitantes, por ano, e os 20.000 imigrantes que a eles se somam parece não perturbarem os administradores públicos. Essa população acrescida gera um consumo adicional de 23,4 milhões de litros de água por ano. Se somássemos o volume de água necessário a gerar a energia anual consumida pela nova população que se agrega (2 KW por pessoa/dia), o que estranhamente nunca é mencionado, os números chegam a 280 bilhões de litros (para gerar um KW são necessários 6.600 litros de água). Esse é apenas o acréscimo de consumo anual de água. Não há aumento de um metro cúbico a mais no DF para oferecer a uma população que cresce explosivamente. Não se pode planejar chuvas nem a longevidade dos aquíferos. Pode-se, se os donos do poder acordarem, planejar o crescimento da população.

Se, em 2004, era tarde demais para pensar no futuro das águas no DF, hoje, está definitivamente encerrado o jogo. O Lago Paranoá nos dará água suja e cara. Investimentos que faltarão à saúde e à educação serão enterrados em tubulação, bombas, energia e órgãos de administração.
Vale lembrar um trecho do relatório do botânico e engenheiro Auguste Claziou, membro da Missão Cruls, entre 1882 e 1884, referente ao vale que depois se tornou Lago Paranoá: “...Cheguei a um vastíssimo vale banhado pelos rios Torto, Gama, Vicente Pires, Riacho Fundo, Bananal e outros. Impressionou-me profundamente a calma severa e majestosa desse vale.” Teria lembrado da majestade dos vales do Departamento de Auvergne, na França?
Essa imagem sumiu, como sumiram as Sete Quedas do Rio Paraná. Os cadáveres insepultos desses rios mencionados por Glaziou foram fisicamente soterrados pela invasão displicente de novos bandeirantes. Vive-se de contradições muito ao gosto do imediato, do útil, do fica melhor assim. Transforma-se a beleza e a grandeza da paisagem natural em estética fictícia que exige incansável esforço para defendê-la diante das dificuldades permanentemente apontadas.

Por que temos medo de falar sobre crescimento da população e não temos vergonha de gritar pela medalha do crescimento econômico?

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