sábado, 25 de setembro de 2010

NOVELA ELEITORAL

O cenário é uma fazenda milionária, de grande extensão, casarão confortável, currais, pocilgas, galinheiro, lago para gansos, cisnes e variedades de patos, cães amestrados, uns ferozes, outros de colo. Tomadas espetaculares. Closes impactantes.
Na Fazenda Alvorada, ao final de seus dias, o fazendeiro poderoso, cercado de serviçais fiéis, de amigos e vizinhos atônitos, declara como herdeira exclusiva sua camareira Vilma.
Há muito tempo de olho nessa fazenda, um administrador ambicioso, vindo de longe, pretende comprar a propriedade do velho Lula.
A novela, nos primeiros capítulos, é sem graça. Entram figurantes estranhos, lobistas, responsáveis pelos currais, pocilgas e galinheiros. Aos poucos, a camareira tira o avental, arruma o cabelo, vai ao estilista e acaba sendo reconhecida como a mulher do fazendeiro. Respeitada pelos serviçais, tolerada pelos vizinhos, defendida pelo patrão.
A opinião dos telespectadores se forma à medida que os personagens são apresentados como vitoriosos em seu papel. Ninguém duvida que o velho Lula é dono da fazenda. Ele gostou da camareira. É natural que a inveja, o ciúme e o diz-que-diz-que avançam. Não importa o que o fazendeiro diz ou faz.
Na ficção novelesca, os personagens são apresentados previamente como figuras que devem ir até o fim, mantendo certa lógica. Bons ou maus, mocinhos ou vilões estão entrando e saído de cena. Os telespectadores aguardam os próximos capítulos. Sempre que os personagens aparecem, trazem consigo as mesmas características. Os espectadores não se confundem, nem trocam papéis, mesmo que os atores se desempenhem mal. A menos que um fato imprevisto mude o rumo da novela. Mas ai já é outra novela.
Na atual novela eleitoral, Vilma foi apresentada como a outra cara do fazendeiro Lula, tornando-se sua mulher, herdeira da fazenda. Como dizem os habitantes do fundão da Alvorada: nós votamos na mulher do Lula.
O administrador Montana é o invejoso desse casamento e trama para enviuvar o fazendeiro e tomar os cuidados da fazenda como novo proprietário, sob nova direção.
Marialva, demitida da Fazenda Alvorada, onde trabalhou por muitos anos, quer voltar. Foi empregada diligente. Deixava a casa sempre arrumada. Cuidava do pomar e da horta> Oferecia comida saudável. Conhece bem o casarão da fazenda. Sabe onde está guardada a louça e a prataria. Sabe também onde se esconde a sujeira e o lixo. Se passar no concurso, quer dar uma arrumação nova na casa.
Nas negociações que a novela mostra para a compra da fazenda, a ex-empregada mantém a serenidade e o equilíbrio emocional diante das provas do concurso, desperta simpatia em boa parte dos telespectadores. Muitos deles desejariam o divórcio do velho Lula com a camareira Vilma e seu casamento com Marialva, amiga de infância e seu primeiro amor político.
Mas a novela chega aos últimos capítulos. Na opinião dos telespectadores, o casal Lula-Vilma não pode separar-se nem vender a fazenda. Ademais, o promitente comprador não tem como oferecer a quantia necessária para a aquisição e os telespectadores riem dele.
Só resta saber, neste finalzinho da novela, se o telespectador, surpreendentemente, sugere ao roteirista acrescentar-lhe novos capítulos.

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