segunda-feira, 3 de março de 2008

O JULGAMENTO DE EMBRIÕES

A questão nacional, nestes dias, é saber em que momento a vida começa. A questão foi parar no Supremo Tribunal Federal para julgamento de futuros cidadãos virtuais ou potenciais.
Para uns, vida é simplesmente vida.
Para outros, de cunho religioso, vida é sinônimo de alma, cujas conseqüências se estendem ao destino dela depois da morte: inferno ou paraíso.
Respeitar a vida, para esse grupo, é salvaguardar a alma, não importa o estado da carcaça em que ela se encontre. O atleta, a criança sem cérebro, a pessoa carente de medula, a que tem doença degenerativa estão todos no mesmo plano, igualados pela alma imortal.
Quando começa a vida? A vida começa necessariamente com um elemento vivo do qual procede.
Os espermatozóides ejaculados estão vivos e guardam potencialmente a virtude de se transformar em vida, Os óvulos da mulher desperdiçados são pessoas virtuais. Ambos podem ser congelados e, no silêncio climatizado do laboratório, se unir para a criação de um futuro gênio ou criminoso. Ambos portadores de alma.
No caso de serem congelados depois da fecundação, esse projeto de vida, segundo uma das correntes, a alma já está presente. A alma também se congelará imersa na temperatura de 50º negativos? Ou esperará na porta da câmara frigorífica ou do bujão de gás.
A alma veio pelo conduto do espermatozóide ou do óvulo? Ou a alma tem duas partes: o lado masculino e o lado feminino? Há os que acreditam que Deus cria as almas, uma a uma.
Para os cristãos, educados na doutrina da cruz, do sofrimento, do martírio, a vida tem que ser aceita em nome do sangue do Crucificado. Eis a questão de consciência que interfere na ciência.
A ciência, segundo a Igreja católica, não deve interpor-se na trajetória desse sofrimento para não diminuir o valor e a virtude da alma, cuja purificação é necessária para redimi-la e conquistar, na eternidade, a felicidade que não pode perceber na terra.
Penso que a ciência é um ato humano que permite os elementos vivos em um estágio, auxiliar outros elementos vivos em estado de degeneração ou atrofia.
É a vida auxiliando a vida.

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