domingo, 2 de março de 2008

A MÃE NATUREZA

Um grupo de agricultores, acompanhados de funcionários da Secretaria de Agricultura, da Administração Regional do Gama, do Ministério Público, Conselheiros do Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável, visitou o Sítio das Neves, propriedade da flora e da fauna que nele habitam.
Os visitantes conheceram as técnicas simples e artísticas de contenção e detenção das águas da chuva: barragens de pedra em arco romano e barragens castor com galhos secos e terra de cupim.
O Cerrado respondeu generosamente, nesses trinta anos de preservação. Milhares de árvores e flores, pássaros e animais, milhões de insetos formam o desejado equilíbrio ambiental ao qual me associo como animal humano participante.
Não sou o único a pensar com a natureza e agir com ela. Em pontos isolados, criam-se grupos de resistência, interessados em proteger a mãe natureza dos ataques e da leviandade dos filhos pródigos. Somos ainda poucos os que põem a mão em obras. São mais os que combatem através da organização, do protesto, da palavra, da manifestação. Ambos associados estão conseguindo vitórias contra gigantes. Vitórias parciais, conquista de terrenos ainda marginais. Os bons bocados continuam com os inimigos da mãe.
Projetos do Governo que atendem aos empresários da destruição civil em nome do crescimento a qualquer preço e da urbanização descontrolada, baseada no uso intensivo do carro individual, seguem na pauta diária das discussões. A superpopulação impõe sua necessidade acima da racionalidade. A passividade da sociedade, alienada pelo discurso oficial e pelos ímpetos do sistema econômico devastado, abre caminho aos aventureiros de todo tipo.
Os partidos políticos não têm programa, nem força, nem organização, nem mobilização, nem critérios e perspectivas para projetar o futuro. Deixam-se abater covardemente pelas colunas organizadas de investidores que, em nome do crescimento econômico, do combate à inflação, da oferta de bens de consumo pelo endividamento de crianças, adultos e idosos manipulam as estatísticas de geração de empregos e aumento da renda. Assumem cinicamente a postura de exatores e realizadores de decisões perniciosas à tranqüilidade social e à essência do viver humano.
Cada casa construída é uma árvore a menos.
Cada carro que roda pelas vias é um espaço tolhido ao caminho das águas.
A excitação do consumo estimula a população a obter dinheiro a qualquer custo para adquirir bens como lastro da felicidade. Essa coceira é difundida aos grotões de pobreza que se orgulham da geladeira sem energia ou sem provisões. Embebedam-se de TV com BBB e tinturas decorativas de conhecimento geral, superficial e solto, que não permite ao desavisado espectador distinguir entre Brasil e Minas Gerais.
Minha diarista, 40 anos, mãe de dois filhos, devota espectadora de novelas e noticiários, depois de 20 anos de casa, ainda pensava que íamos ao aeroporto tomar um ônibus para Paris, no vizinho estado da Bahia.
Esses são alguns dos obstáculos que se encontram no caminho da proteção ambiental e da racionalidade econômica.
No bombardeio cotidiano da retórica oficial e empresarial, a felicidade humana está no consumo obsessivo de quinquilharias que nos dêem a sensação de estarmos dançando conforme a música.

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