O ROSTO DO PLANETA TERRA
Eugênio
Giovenardi – Cadeira XIX – Dyonélio Machado
Às
vezes, o primeiro dever dos homens é reconhecer o óbvio.
George Orwell
(1903-1950), escritor inglês.
A velhice de todos os seres vivos deixa
marcas em seus rostos e em sua estrutura orgânica, sem lhe tolher a dignidade
existencial, mas com os sinais inapagáveis do tempo. O planeta Terra, rodando
no espaço sideral por indefiníveis bilhões de anos, também mudou, vezes
incontáveis, sua aparência visual, equilibrando montanhas, abrindo vales
temerosos, por onde correm rios para descansarem em mares insondáveis.
Preparou-se o planeta, sacudido por vulcões, terremotos e maremotos, sob os
olhares luminosos do Sol, para provocar o inexplicável milagre da vida, em cuja
teia todos os seres vivos são interdependentes e interativos. Todos se nutrem
seletivamente das iguarias do variado e adaptável cardápio terreal. Na teia da
vida, habitantes de mar, terra e ar, humanos e não humanos, se congregam para
executar as sinfonias da orquestra universal.
A REBELIÃO DAS ENTRANHAS
Vidas
se alimentam de vidas
A fisionomia geofísica do planeta Terra, em sua história sideral, apresenta sucessivas configurações, ao longo das eras geológicas, com mudanças drásticas, como a formação de continentes, a evolução da vida e alterações climáticas. No tempo presente, as novas configurações, na face do planeta, refletem o impacto de mudanças globais resultantes de fenômenos físicos permanentes e da ação explorativa de humanos e não humanos.
As mudanças climáticas, antes e depois do
aparecimento inexplicável da vida nos pântanos da Terra, têm dupla origem: a)
cumprimento incontrolável de leis físicas universais; b) ações permanentes de
sobrevivência e reprodução de todos os seres vivos, desde seu aparecimento, ao
usar os elementos essenciais disponíveis no solo, na água, no ar e nas
diferentes temperaturas ao redor do planeta.
As mudanças visíveis registradas no rosto do planeta Terra derivam cronologicamente, desde sua origem (ab ovo), da aplicação autônoma das leis naturais que produzem fenômenos de ação, atração e reação de distintos elementos físicos no âmbito do sistema planetário. As leis físicas operam simultaneamente nas entranhas da Terra ─ vulcões, terremotos, maremotos e, na superfície ─ tempestades, redemoinhos, ciclones tropicais, como tufões no Oceano Pacífico e furacões no Oceano Atlântico. Essas ocorrências alteram o visual externo e as entranhas do planeta.
Causas e efeitos físicos dos fenômenos naturais são retilíneos. Operam em todos os quadrantes do planeta, a qualquer tempo, sem aviso prévio. Ainda que esses movimentos possam ser detectados com antecipação, por meio de sistemas de alerta, com aparelhos tecnológicos de alta sensibilidade, eles não conseguem neutralizar ou abortar seu nascimento. Os alertas prévios podem prevenir parcialmente os seres vivos dos possíveis efeitos das turbulências naturais. Seres vivos não humanos, que acumularam, ao longo de gerações, os sinais prévios que antecedem certos fenômenos físicos – tempestades, maremotos, terremotos – logram abrigar-se em lugares mais seguros.
As ocorrências amplamente registradas, em
todos os Continentes, ao Norte e ao Sul da Terra, atestam a reconfiguração
geológica do planeta, as dificuldades de readaptação da biodiversidade e,
lamentavelmente, a perda de vidas e desaparecimento de inúmeras espécies. As
ações de todas as espécies vivas, em sua trajetória de buscar meios de
sobrevivência e reprodução, encontram, na generosa oferta da natureza, um
variado cardápio. A biodiversidade das espécies, segundo suas características
biológicas, orgânicas, físicas, operam intensamente, dia e noite, durante as
quatro estações do ano, ao longo de milênios, em quatro cenários: na superfície
e entranhas do solo, na água, no ar e ao sabor das temperaturas. Um artigo
pétreo da constituição da natureza, infenso a qualquer emenda, reza ─ vidas se
alimentam de vidas.
O CARDÁPIO SOBRE A MESA
O reino animal sobrevive pela força pacificadora do reino vegetal.
A composição numérica de cada grupo e a
soma universal de hóspedes do planeta consomem, simultânea e continuadamente,
os elementos disponíveis e necessários à sobrevivência e reprodução. Oito
bilhões de seres humanos, outros tantos não humanos, do reino animal e vegetal,
são clientes assíduos do supermercado natural. A simples medição da quantidade
diária de consumo individual de elementos extraídos da natureza, por bilhões de
seres vivos humanos e não humanos, para a sobrevivência confortável da
biodiversidade e sua reprodução, indica o grau de pressão sobre diferentes
biomas e ecossistemas. A regeneração dessas fontes de abastecimento ─ biomas e
ecossistemas ─ é lenta e obediente a ciclos determinados, nos quais,
interativamente, participam o solo, a água, o ar e as diferentes temperaturas
do dia e da noite, segundo as estações anuais.
Ao tomar-se apenas a quantidade de
alimentos utilizados pela atual população humana de 8 bilhões de consumidores,
são extraídos do planeta, por dia, oito bilhões de quilos de diferentes
elementos nutritivos ou complementares extraídos de múltiplos ecossistemas.
Passa-se ao largo da quantidade de alimentos consumidos por espécies maiores ou
mais numerosas, agregadas e dependentes do sapiens,
como bovinos, equinos, ovinos, caprinos, avícolas, felinos, caninos, além de
outros milhares de seres nativos que buscam seus alimentos no amplo cocho da
natureza. Na abstração diária de elementos naturais para sustentação da vida
humana e não humana, embora imperceptível, o solo, a água, o ar e a temperatura
são sistemicamente afetados.
No
conjunto dos seres vivos, o reino vegetal atua como pacificador nos embates e
conflitos da luta pela vida travada entre todos os componentes da
biodiversidade, humanos e não humanos, e as energias dos ecossistemas. As
grandes florestas e a vegetação típica de cada bioma, nos seis Continentes do
planeta ─ África, América, Ásia, Europa, Oceania e Antártida, atuam
sistemicamente sobre o solo, a água, o ar e a temperatura, para recarregar as
energias dos ecossistemas comprometidas por bilhões de consumidores. O reino
animal sobrevive pela força pacificadora do reino vegetal.
ENERGIA E SINERGIA SOCIOAMBIENTAL
A sustentação da teia da vida, nos últimos 400 anos, vem sendo ameaçada pelo colapso socioambiental que se manifesta no caos provocado pela força das mudanças climáticas, exacerbadas pelo gradativo aquecimento do planeta. A derrocada socioambiental, pela perda de eficiência e da capacidade de regeneração dos ecossistemas, se origina e se manifesta pela conjunção sinérgica dos vários fatores naturais que operam de forma sistêmica e ao mesmo tempo. Esses agentes ─ solo, água, ar, temperatura ─ interagem, fortalecem ou alteram as condições de sobrevivência e reprodução das espécies humanas e não humanas. O aumento das temperaturas, os distúrbios climáticos, a drástica perda de espécies da biodiversidade, a incontrolada expansão da urbanização, a doentia poluição químico-industrial nas atividades produtivas, concentradas em países ricos, empobrecem o solo, contaminam as águas, descontrolam as temperaturas e deterioram o funcionamento e a regeneração dos ecossistemas.
O funcionamento das leis físicas se
manifesta de forma independente e incontrolável, na superfície e nas entranhas
do planeta Terra. Paralelamente, as atividades dos seres vivos, há
inimagináveis quatro bilhões de anos, para sua sobrevivência e reprodução, se
expressam no âmbito superficial do solo ou na água, onde estão os alimentos, no
ar e na temperatura ambiente, no ciclo das diferentes estações do ano. E a
espécie sapiens, com ousadia e volúpia, penetra nas entranhas do planeta,
extraindo minerais, gás, petróleo. São atividades econômicas e comerciais,
constantes e continuadas, originadas da exploração do solo e da água.
Os relatórios da Organização das Nações
Unidas (ONU, RELATÓRIO ANUAL, 2025) indicam que a múltipla e diversificada
atividade humana na produção de alimentos e outros itens para sua
sobrevivência, conforto e reprodução, já afetou, até o presente século, três
quartas partes (75%) da superfície terrestre do planeta. Aproximadamente,
metade da população mundial (3,2 bilhões de pessoas) já é afetada pela
degradação do solo, da poluição das águas, da contaminação do ar e do impacto
das altas temperaturas.
A pressão permanente sobre os elementos da
natureza e o alto grau de exploração e consumo de produtos diversificados
assentam-se em duas colunas: crescimento da população consumidora humana e não
humana de itens de origem vegetal e animal; e pelo sistema econômico de
reprodução dos investimentos estimulado pelos bancos concentradores de moedas
de troca. O bom senso e a sobriedade estão a indicar que a exploração e o
consumo dos bens gratuitos da natureza, pela espécie humana, ultrapassam
perigosamente os limites da sustentabilidade e regeneração dos ecossistemas.
Estudos científicos foram apresentados, em
julho, 2025, pelo Fundo Mundial para a Natureza (World Wilde Fund for Nature
-WWF) sobre os pontos de não retorno (tipping
points) planetários. Entre outros pontos de efeito cascata, está ¨o risco
de morte da Floresta Amazônica devido à mudança climática e ao desmatamento,
associado ao colapso da Circulação Meridional do Atlântico (AMOC). As
consequências seriam catastróficas para bilhões de pessoas¨. (Carlos Bocuhy,
presidente do Instituto Proam.)
URBANIZAÇAO CRESCENTE
A intervenção cirúrgica, exclusivamente
humana, que altera a fisionomia geográfica do planeta é a urbanização. A
concentração em agrupamentos estáveis ─ comunidades culturais, urbes, cidades ─
é fruto da tendência gregária e da sociabilidade individual e grupal do ser humano. A toca do tatu, o ninho
do colibri, o murundu das térmitas, a casa do condomínio humano são expressões
da sociabilidade de todos os seres vivos, do instinto de defesa, do aconchego
criativo, da interação e da interdependência da biodiversidade.
A
origem das cidades ou comunidades em vias de organização, segundo suas culturas
estabelecidas e aceitas, se originaram sob a liderança de patriarcas,
autoridades políticas ou religiosas. Argumentos religiosos baseados num poder
superior invisível eram e ainda são usados por líderes para legitimar sua
autoridade e organizar a vida da comunidade. Em muitos casos, a comunidade
surgiu e se desenvolveu em torno de centros religiosos, como no Egito e na
Mesopotâmia, onde a teocracia era a forma predominante de governo. Templos
monumentais, conjugados com palácios da autoridade política, abrigavam
auxiliares da administração, membros da família estendida e serviçais. As
cidades gregas eram centros comerciais, religiosos, políticos e artísticos, com
organização autônoma.
Os burgos surgiram na Baixa Idade Média,
fora do sistema feudal, com o crescimento do comércio e das cidades. Eles
eram centros de atividades econômicas, como artesanato e comércio, e seus
habitantes, os burgueses, desenvolveram uma nova classe social com poder
econômico.
A evolução cerebral, cultural, política,
artística, no curso de milênios, respondeu às necessidades, aos interesses e ás
conveniências dos diferentes povos que ocuparam o planeta e contribuiu para a
manifestação de formas e estilos de arquitetura. Os múltiplos estilos, que
marcam períodos históricos e culturais, tornam a fisionomia geológica do
planeta diferente, não necessariamente mais bela, diante da candura verde das
florestas, da magnificência das montanhas nevadas e da cabeleira azul- ondulada
dos mares.
A concentração humana num espaço
geográfico é estimulada pela oferta de oportunidades que podem atender à
demanda diversificada de grandes populações no campo da sociabilidade, na troca
de experiências interpessoais, no uso dos serviços públicos de saúde, educação,
proteção aos direitos individuais, à liberdade de ir e vir, ao trabalho
criativo e ao desfrute das condições de bem-estar coletivo.
Os efeitos da concentração humana, num
espaço geográfico, alteram a fisionomia milenar e dão, nessa área, traços novos
no rosto inteiro do planeta, embora localmente, não se perceba. A sinergia dos
diferentes espaços modificados ─ rochas, vertentes hídricas, vegetação nativa e
toda a biodiversidade ambiente - se
manifesta horizontal e verticalmente ao longo da estrutura do sistema físico.
Em 1900, 12% da população mundial estava concentrada nas cidades, aumentando
para 15%, no ano 2000, O relatório do programa Habitat-ONU, 2025, registra a concentração urbana em 45% da
população mundial. Nos países desenvolvidos, entre 73% e 80%, vivem em cidades,
e 35% nos pobres.
USO DA NATUREZA – POLÍTICA AMBIENTAL
Os biomas do planeta alimentam a teia
da vida.
Anuncia-se que o Brasil tem a melhor e mais acabada lei ambiental comparada com a de outros países. A construção de uma política ambiental de Estado abrange a teia da vida que se manifesta pela ampla biodiversidade e abrange seres humanos e não humanos. A aplicação de alguns artigos da legislação, de maneira geral ou pontual, ao longo dos diversos espaços do Brasil, não responde às estruturas funcionais da natureza nas distintas regiões geográficas. A condução das atividades humanas no uso e na proteção da natureza ─ ou política ambiental ─ supõe conhecimento sistêmico e sabedoria orientados a integrar o funcionamento e a regeneração de todos os biomas e ecossistemas de Sul a Norte, de Leste a Oeste do território nacional.
A natureza é um
sistema auto-organizado e seus elementos são interdependentes. Os biomas e seus
múltiplos ecossistemas dialogam, se comunicam, intercambiam e compartilham
virtudes e energias entre si, em benefício de toda a biodiversidade. Os biomas
alimentam a teia da vida. A construção de uma política ambiental inteligente
para o Brasil, no contexto global latino-americano, orientada ao uso e à
proteção da natureza, buscará a conjunção de virtudes e ofertas diversificadas
dos diferentes biomas. Suas energias reparam as deficiências mútuas e
complementam as condições de sobrevivência, reprodução e adaptação da
biodiversidade neles, como as aves migratórias. É impressionante e admirável a
ocupação de todos os Continentes do planeta pela espécie humana e de outras não
humanas.
No espaço
geográfico do Brasil, os diferentes biomas e respectivos ecossistemas ─
Amazônia, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga, Pampas ─ embora
diversificados e com regimes de estações e chuvas próprias de sua localização,
eles se comunicam pelo funcionamento constante dos elementos essenciais da
natureza: solo contínuo, águas superficiais e subterrâneas, ar e temperaturas
cambiantes. A administração da política ambiental inteligente obedece à
intercomunicação das ofertas dos diferentes biomas. A ocupação e a utilização
das virtudes do bioma amazônico, se refletem sobre o uso de outros biomas.
Rompendo a intercomunicação dos diferentes biomas, por ignorância ou
incapacidade, todo o sistema ambiental entra em situação caótica. Passa-se a
administrar o caos ambiental.
A desertificação de
um espaço geográfico, por força das atividades humanas e, por consequência, a
alteração da fisionomia explicita do planeta, não acontece de forma imprevista.
No campo da produção de alimentos e de itens da industrialização ou da
crescente urbanização do planeta, a desertificação de um ambiente acontece de
forma planejada, de acordo com os interesses, necessidades e conveniências da
espécie humana.
Os fenômenos
físicos não são planejados. Produzem-se por impulsos incontroláveis das leis
físicas e podem agravar as condições do meio modificado em que vivem seres
humanos e não humanos. As denominadas catástrofes ambientais ou ecológicas se
referem aos efeitos produzidos sobre toda a biodiversidade vegetal e animal com
ênfase na espécie humana.
AQUECIMENTO CLIMÁTICO
Em que ponto da evolução geológica está o planeta Terra? Dizem os engenheiros astrofísicos que o universo é a totalidade do que existe ─ espaço, tempo, matéria, energia ─ e nesse conceito estão englobados os planetas, as estrelas, as galáxias. O astrofísico Carl Sagan, perguntado sobre a possível data da formação originária do universo, franziu o cenho, abriu as mãos espalmadas e balbuciou: bilhões e bilhões de anos. Em data ignorada, há bilhões e bilhões de anos, no âmbito do Sistema Solar, iluminando os corpos celestes, numa galáxia dita Via Láctea, está o planeta Terra ao qual, recentemente, chegamos nós, na companhia de colibris, girafas e ursos polares.
O que aconteceu nos bilhões e bilhões de
anos que formataram a fisionomia do planeta? Os fenômenos físicos não têm
horário para exercitar suas funções nem dão sinais de abandonarem o universo.
Os vulcões, de tempos em tempos, vomitam o fogo que ainda arde no ventre da
terra e derramam lavas pelas cordilheiras. Os ventos uivantes vão e vêm. Os
tufões e os tornados dançam pelos mares e pelas savanas. Os denominados eventos
extremos ─ raios, tempestades, terremotos e maremotos ─ se intercalam para
inundar florestas e, em tempos modernos, alagar cidades, arrastar casas, pontes
e abater vidas humanas e não humanas.
O conhecimento visual acumulado que se tem
do rosto do planeta Terra, permite imaginar como seriam, há um milhão de anos,
a profundidade e extensão dos mares, a altura da Cordilheira dos Andes, as
planícies geladas, onde irrompeu o Monte Fuji, impulsionado por um tremor
vulcânico; a bilionária inospitalidade universal; o silêncio ensurdecedor do
nada; os fantásticos movimentos das águas libertas; a escuridão das noites
infindas saudada pelo sorriso amarelo da Lua perdida no espaço.
Mudanças climáticas de ordem natural, por
força dos fenômenos físicos, são acrescidas pelas alterações provocadas pela
atividade de bilhões de seres humanos e não humanos na exploração do solo e
subsolo, no uso e contaminação das águas superficiais e subterrâneas. A
poluição do ar por gases provenientes da queima de combustíveis fósseis e
múltiplas outras atividades humanas são alguns dos principais causadores do
efeito estufa e do aquecimento generalizado do ambiente planetário. Bruscas
alterações nas temperaturas dão origem a gigantescas tempestades, frios
intensos e calores abrasivos.
A percepção das temperaturas é
testemunhada pelos seres vivos ao longo de milênios. O desaparecimento dos
Neandertais, e de mamutes lanudos e outras espécies adaptadas ao gelo situa-se
durante o Último Período Glacial que terminou há cerca de 11.000 anos, com
temperaturas globais estimadas em 50C mais frias do que as atuais. A
América do Norte e a Eurásia, cobertas de gelo, mostravam a parte do rosto
carnavalesco do planeta pintado de branco. As espessas camadas de gelo retidas
nos polos mantinham o nível do mar mais baixo. No Hemisfério Sul ocorreram
mudanças climáticas significativas. As regiões subtropicais perderam grande parte
de sua cobertura florestal e tornaram-se mais secas.
As temperaturas medidas e comprovadas por
termômetros confiáveis, publicadas pela Organização Meteorológica Mundial (OMM)
datam de mais de 200 anos, tendo como referência o período que dá origem à Revolução
Industrial. Entre as principais causas que se juntam aos fenômenos físicos que
alteram a fisionomia do planeta e contribuem para o aquecimento das
temperaturas se referem às atividades praticadas estritamente pela espécie
humana no uso do solo e subsolo, das águas superficiais e subterrâneas.
Previsão de catástrofe mais aguda, atingindo com mais violência as costas
oceânicas, poderia ocorrer no começo da década 2030 com aquecimento global de 2oC,
temperatura não registrada no planeta nos últimos 2,5 milhões de anos (Era do
Quaternário).
Ao lado de vulcões e incêndios originados
de raios, cuja frequência é indeterminada, o aumento das temperaturas ao longo
e largo do planeta, é atribuído às atividades humanas diuturna e crescentemente
exercidas. Combustíveis fósseis, diariamente, acionam bilhões de automóveis,
milhares de aviões e navios que, além de emitir calor, poluem as águas e o ar.
Bilhões de aparelhos domésticos movidos a motores elétricos ou a gás disseminam
calor constante. Desmatamentos e queima de florestas, para a produção de
alimentos de origem vegetal e animal, alteram a paisagem original dos biomas,
exterminam ecossistemas e dão espaço aos vendavais e às tempestades. A
impermeabilização crescente das cidades e o asfaltamento de milhares de
quilômetros de rodovias modificam paisagens, mudam o curso de rios, impedem a
infiltração e a percolação das águas pluviais para a recarga dos aquíferos.
A espécie humana, homo sapiens, último a chegar na teia da vida existente na Terra,
se um dia desaparecer, com ele se vão Madonna,
David, La Pietà, Catedrais, Museus, Bibliotecas, Cristo do Corcovado, sob
escombros de terremotos ou incêndios. Permanecerão no solo, nas águas e no ar,
para a eternidade, o lixo tóxico ─ pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes,
aparelhos eletrônicos, remédios vencidos, tintas, solventes ─ e milhões de
toneladas de plástico nos oceanos.
A azáfama da espécie humana, impulsionada
por suas descobertas, no curso da história, dá vazão irrefreável à criatividade
na utilização de todos os elementos que o planeta Terra gratuitamente lhe
oferece para sobreviver e, com ele, a biodiversidade. Pouco ou nada se possa
fazer para evitar as mudanças climáticas originadas de fenômenos físicos, a não
ser prevenir-se contra a força e a energia do universo. A espécie humana
acumulou, nos últimos 20 mil anos, conhecimentos e experiências suficientes
para reduzir sábia, inteligente e prudentemente as atividades que possam
produzir ou acelerar o ritmo das mudanças climáticas, adotando, com eficácia, o
princípio da precaução.
-----------------------------------------------
REFERÊNCIAS
·
Marques, Luiz. O decênio decisivo, 611 pg. Elefante, 2025, São Paulo.
·
Moore, Jason W. Antropoceno ou Capitaloceno, 340 PG. Elefante, 2022, São Paulo.
·
Veiga, José Elí da, O Antropoceno e a Ciência do Sistema Terra, Editora 34, 2019, São
Paulo.
· Bocuhy, Carlos, Presidente do Instituto
Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam) Crise
climática e a sobrevivência da Humanidade. (CB, 13.8.2025), Brasília, DF.
·
Sagan, Carl. Bilhões e bilhões, Companhia de Bolso, São Paulo, 2008,
·
Wohlleben, Peter, A sabedoria secreta da NATUREZA, Sextante, 2022, Rio de Janeiro.
· Masi,
Domenico de. O futuro chegou, Casa da
Palavra, 2014, Rio de Janeiro.