terça-feira, 30 de setembro de 2025

CHUVAS DE SETEMBRO ▬ ANOS 2013 a 2025

 

CHUVAS DE SETEMBRO  ▬  ANOS 2013 a 2025

SÍTIO NEVES – BR 060 – KM 26 – DF -

Em milímetros ─ 1 mm = 1 litro/m2    

 MÊS                                      MM/MÊS           TOTAL/ANO/ MM

 2013                               –         40,25             2.255,6

2014                               –         31,8               1.677,5

2015                               –         39,3               1.642,7

2016                               -          16,6               1.921,7

2017                               ─         10;5               1.478,7

2018                               –          37,5               1.760.5

2019                               –          19,3                1.069.3

2020                               ─         14,7                1.787,8

2021                                ─        16,2                1.710.8

2022                               ─          63,5               1.279,2 

2023                               ─          28,2               1.323.4 

2024                               ─            0,0               1.770,9

2025                                          12,4                  526,2 (no ano)

 Durante 156 meses (doze anos), registro e publico os volumes de chuva, captados pelo pluviômetro autorizado pela Agência Nacional de Águas, na área da Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Lajes. É lamentável que mais da metade do bioma Cerrado esteja sendo desvirtuado. A regeneração de uma área, para o bom funcionamento de uma floresta, leva mais de 50 anos. Nos últimos 13 anos, o volume de águas do período chuvoso vem diminuindo alarmantemente, acompanhado de tempestades arrasadoras e letais em várias regiões do país.

O Sitio das Neves (700.000 m2) registrou, ao longo do mês de setembro, 12,4 mm ou litros. Nesses treze setembros, apenas em 2024, não se registraram chuvas. A irregularidade das chuvas indica que a mudança do clima não é apenas um alerta. É uma realidade! O acumulado de chuvas do ano de 2025, é de 526,2 mm (ou litros por m2), em média equivalente a 58,4/litros/mês ou 1,94 litros/dia por m2, na região da microbacia do Ribeirão das Lajes, no Distrito Federal. No Sítio Neves, esse volume por m2 corresponde a 1.360.800 litros dia retidos no solo, graças a intensa vegetação nativa. A função da vegetação nativa é manter a vazão das nascentes no período de estiagem, quando a umidade do ar baixa a menos de 30%.

 

terça-feira, 23 de setembro de 2025

O MITO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL

 

O MITO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL

palavras, em nosso idioma, frequentemente ditas, que requerem um complemento, advérbio ou adjetivo para significarem uma ação ou um resultado. Desenvolvimento é uma delas. A ONU lhe agregou, em 1987, (há 38 anos), o advérbio sustentável. Quem ou o que sustenta o desenvolvimento?

Vamos saber por que o desenvolvimento sustentável é um mito socioeconômico, imposto como narrativa universal, fantástica e simbólica, inocente e pacífica. Para reforçar e dar divulgação continuada ao mito, em 2015, agregaram-se 17 pontos de chegada para:  a) acabar com a pobreza; b) proteger os ecossistemas e c) gozar de paz, com data prevista para 2030.

Os mitos são transmitidos oralmente, por imagens, por programas escritos, adaptados a preservar o conhecimento de diferentes culturas e pretendem ter função educativa e social.

 Os mitos carregam ensinamentos morais, valores sociais e ajudam a dar um sentido à vida dentro de uma comunidade. O mito é uma narrativa sagrada e importante, que confere realidade aos eventos que anuncia. 

A incredibilidade do mito, porém, se manifesta nos fatos e no crescimento dos beneficiários.

Em 1987 a população mundial era de 5 bilhões, dos quais 700 milhões em extrema pobreza.

Em 2025, a população mundial é de 8,5 bilhões, dos quais 2 bilhões são pobres.

As guerras em andamento, com milhares de mortos, de todas as idades, destruição de escolas, hospitais, residências, pontes, fontes de alimentação, poluição ambiental das águas e do ar, são desesperadoras.

A Amazônia brasileira, nesse tempo, perdeu um terço de sua floresta. Seus habitantes originais, dizimados pelas queimadas, pela mineração, por doenças e insuficiente alimentação.

O Cerrado vem sendo desmatado a ferro e fogo, reduzido à metade de sua área global de 2.045.000 km2.

Três quintos da superfície aproveitável do planeta está ocupada e degradada, à espera de novas atitudes socioambientais da espécie sapiens.

A pergunta espontânea, inocente e pacífica que os críticos da mítica narrativa socioeconômica poderiam fazer:

QUEM SE BENEFICIA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL?

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

O ROSTO DO PLANETA TERRA

 

O ROSTO DO PLANETA TERRA

 

Eugênio Giovenardi – Cadeira XIX – Dyonélio Machado

 

Às vezes, o primeiro dever dos homens é reconhecer o óbvio.

George Orwell (1903-1950), escritor inglês.

 

A velhice de todos os seres vivos deixa marcas em seus rostos e em sua estrutura orgânica, sem lhe tolher a dignidade existencial, mas com os sinais inapagáveis do tempo. O planeta Terra, rodando no espaço sideral por indefiníveis bilhões de anos, também mudou, vezes incontáveis, sua aparência visual, equilibrando montanhas, abrindo vales temerosos, por onde correm rios para descansarem em mares insondáveis. Preparou-se o planeta, sacudido por vulcões, terremotos e maremotos, sob os olhares luminosos do Sol, para provocar o inexplicável milagre da vida, em cuja teia todos os seres vivos são interdependentes e interativos. Todos se nutrem seletivamente das iguarias do variado e adaptável cardápio terreal. Na teia da vida, habitantes de mar, terra e ar, humanos e não humanos, se congregam para executar as sinfonias da orquestra universal.

 A REBELIÃO DAS ENTRANHAS 

Vidas se alimentam de vidas

 A fisionomia geofísica do planeta Terra, em sua história sideral, apresenta sucessivas configurações, ao longo das eras geológicas, com mudanças drásticas, como a formação de continentes, a evolução da vida e alterações climáticas. No tempo presente, as novas configurações, na face do planeta, refletem o impacto de mudanças globais resultantes de fenômenos físicos permanentes e da ação explorativa de humanos e não humanos.

As mudanças climáticas, antes e depois do aparecimento inexplicável da vida nos pântanos da Terra, têm dupla origem: a) cumprimento incontrolável de leis físicas universais; b) ações permanentes de sobrevivência e reprodução de todos os seres vivos, desde seu aparecimento, ao usar os elementos essenciais disponíveis no solo, na água, no ar e nas diferentes temperaturas ao redor do planeta.

As mudanças visíveis registradas no rosto do planeta Terra derivam cronologicamente, desde sua origem (ab ovo), da aplicação autônoma das leis naturais que produzem fenômenos de ação, atração e reação de distintos elementos físicos no âmbito do sistema planetário. As leis físicas operam simultaneamente nas entranhas da Terra ─ vulcões, terremotos, maremotos e, na superfície ─ tempestades, redemoinhos, ciclones tropicais, como tufões no Oceano Pacífico e furacões no Oceano Atlântico. Essas ocorrências alteram o visual externo e as entranhas do planeta.

Causas e efeitos físicos dos fenômenos naturais são retilíneos. Operam em todos os quadrantes do planeta, a qualquer tempo, sem aviso prévio. Ainda que esses movimentos possam ser detectados com antecipação, por meio de sistemas de alerta, com aparelhos tecnológicos de alta sensibilidade, eles não conseguem neutralizar ou abortar seu nascimento. Os alertas prévios podem prevenir parcialmente os seres vivos dos possíveis efeitos das turbulências naturais. Seres vivos não humanos, que acumularam, ao longo de gerações, os sinais prévios que antecedem certos fenômenos físicos – tempestades, maremotos, terremotos – logram abrigar-se em lugares mais seguros.

As ocorrências amplamente registradas, em todos os Continentes, ao Norte e ao Sul da Terra, atestam a reconfiguração geológica do planeta, as dificuldades de readaptação da biodiversidade e, lamentavelmente, a perda de vidas e desaparecimento de inúmeras espécies. As ações de todas as espécies vivas, em sua trajetória de buscar meios de sobrevivência e reprodução, encontram, na generosa oferta da natureza, um variado cardápio. A biodiversidade das espécies, segundo suas características biológicas, orgânicas, físicas, operam intensamente, dia e noite, durante as quatro estações do ano, ao longo de milênios, em quatro cenários: na superfície e entranhas do solo, na água, no ar e ao sabor das temperaturas. Um artigo pétreo da constituição da natureza, infenso a qualquer emenda, reza ─ vidas se alimentam de vidas.

 O CARDÁPIO SOBRE A MESA

 O reino animal sobrevive pela força pacificadora do reino vegetal.

 

A composição numérica de cada grupo e a soma universal de hóspedes do planeta consomem, simultânea e continuadamente, os elementos disponíveis e necessários à sobrevivência e reprodução. Oito bilhões de seres humanos, outros tantos não humanos, do reino animal e vegetal, são clientes assíduos do supermercado natural. A simples medição da quantidade diária de consumo individual de elementos extraídos da natureza, por bilhões de seres vivos humanos e não humanos, para a sobrevivência confortável da biodiversidade e sua reprodução, indica o grau de pressão sobre diferentes biomas e ecossistemas. A regeneração dessas fontes de abastecimento ─ biomas e ecossistemas ─ é lenta e obediente a ciclos determinados, nos quais, interativamente, participam o solo, a água, o ar e as diferentes temperaturas do dia e da noite, segundo as estações anuais. 

Ao tomar-se apenas a quantidade de alimentos utilizados pela atual população humana de 8 bilhões de consumidores, são extraídos do planeta, por dia, oito bilhões de quilos de diferentes elementos nutritivos ou complementares extraídos de múltiplos ecossistemas. Passa-se ao largo da quantidade de alimentos consumidos por espécies maiores ou mais numerosas, agregadas e dependentes do sapiens, como bovinos, equinos, ovinos, caprinos, avícolas, felinos, caninos, além de outros milhares de seres nativos que buscam seus alimentos no amplo cocho da natureza. Na abstração diária de elementos naturais para sustentação da vida humana e não humana, embora imperceptível, o solo, a água, o ar e a temperatura são sistemicamente afetados.

No conjunto dos seres vivos, o reino vegetal atua como pacificador nos embates e conflitos da luta pela vida travada entre todos os componentes da biodiversidade, humanos e não humanos, e as energias dos ecossistemas. As grandes florestas e a vegetação típica de cada bioma, nos seis Continentes do planeta ─ África, América, Ásia, Europa, Oceania e Antártida, atuam sistemicamente sobre o solo, a água, o ar e a temperatura, para recarregar as energias dos ecossistemas comprometidas por bilhões de consumidores. O reino animal sobrevive pela força pacificadora do reino vegetal.

 ENERGIA E SINERGIA SOCIOAMBIENTAL

 A sustentação da teia da vida, nos últimos 400 anos, vem sendo ameaçada pelo colapso socioambiental que se manifesta no caos provocado pela força das mudanças climáticas, exacerbadas pelo gradativo aquecimento do planeta. A derrocada socioambiental, pela perda de eficiência e da capacidade de regeneração dos ecossistemas, se origina e se manifesta pela conjunção sinérgica dos vários fatores naturais que operam de forma sistêmica e ao mesmo tempo.  Esses agentes ─ solo, água, ar, temperatura ─ interagem, fortalecem ou alteram as condições de sobrevivência e reprodução das espécies humanas e não humanas. O aumento das temperaturas, os distúrbios climáticos, a drástica perda de espécies da biodiversidade, a incontrolada expansão da urbanização, a doentia poluição químico-industrial nas atividades produtivas, concentradas em países ricos, empobrecem o solo, contaminam as águas, descontrolam as temperaturas e deterioram o funcionamento e a regeneração dos ecossistemas.

O funcionamento das leis físicas se manifesta de forma independente e incontrolável, na superfície e nas entranhas do planeta Terra. Paralelamente, as atividades dos seres vivos, há inimagináveis quatro bilhões de anos, para sua sobrevivência e reprodução, se expressam no âmbito superficial do solo ou na água, onde estão os alimentos, no ar e na temperatura ambiente, no ciclo das diferentes estações do ano. E a espécie sapiens, com ousadia e volúpia, penetra nas entranhas do planeta, extraindo minerais, gás, petróleo. São atividades econômicas e comerciais, constantes e continuadas, originadas da exploração do solo e da água.

Os relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU, RELATÓRIO ANUAL, 2025) indicam que a múltipla e diversificada atividade humana na produção de alimentos e outros itens para sua sobrevivência, conforto e reprodução, já afetou, até o presente século, três quartas partes (75%) da superfície terrestre do planeta. Aproximadamente, metade da população mundial (3,2 bilhões de pessoas) já é afetada pela degradação do solo, da poluição das águas, da contaminação do ar e do impacto das altas temperaturas. 

A pressão permanente sobre os elementos da natureza e o alto grau de exploração e consumo de produtos diversificados assentam-se em duas colunas: crescimento da população consumidora humana e não humana de itens de origem vegetal e animal; e pelo sistema econômico de reprodução dos investimentos estimulado pelos bancos concentradores de moedas de troca. O bom senso e a sobriedade estão a indicar que a exploração e o consumo dos bens gratuitos da natureza, pela espécie humana, ultrapassam perigosamente os limites da sustentabilidade e regeneração dos ecossistemas.

Estudos científicos foram apresentados, em julho, 2025, pelo Fundo Mundial para a Natureza (World Wilde Fund for Nature -WWF) sobre os pontos de não retorno (tipping points) planetários. Entre outros pontos de efeito cascata, está ¨o risco de morte da Floresta Amazônica devido à mudança climática e ao desmatamento, associado ao colapso da Circulação Meridional do Atlântico (AMOC). As consequências seriam catastróficas para bilhões de pessoas¨. (Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Proam.)

 

URBANIZAÇAO CRESCENTE

 

A intervenção cirúrgica, exclusivamente humana, que altera a fisionomia geográfica do planeta é a urbanização. A concentração em agrupamentos estáveis ─ comunidades culturais, urbes, cidades ─ é fruto da tendência gregária e da sociabilidade individual e grupal do ser humano. A toca do tatu, o ninho do colibri, o murundu das térmitas, a casa do condomínio humano são expressões da sociabilidade de todos os seres vivos, do instinto de defesa, do aconchego criativo, da interação e da interdependência da biodiversidade.

A origem das cidades ou comunidades em vias de organização, segundo suas culturas estabelecidas e aceitas, se originaram sob a liderança de patriarcas, autoridades políticas ou religiosas. Argumentos religiosos baseados num poder superior invisível eram e ainda são usados por líderes para legitimar sua autoridade e organizar a vida da comunidade. Em muitos casos, a comunidade surgiu e se desenvolveu em torno de centros religiosos, como no Egito e na Mesopotâmia, onde a teocracia era a forma predominante de governo. Templos monumentais, conjugados com palácios da autoridade política, abrigavam auxiliares da administração, membros da família estendida e serviçais. As cidades gregas eram centros comerciais, religiosos, políticos e artísticos, com organização autônoma.

Os burgos surgiram na Baixa Idade Média, fora do sistema feudal, com o crescimento do comércio e das cidades. Eles eram centros de atividades econômicas, como artesanato e comércio, e seus habitantes, os burgueses, desenvolveram uma nova classe social com poder econômico.

A evolução cerebral, cultural, política, artística, no curso de milênios, respondeu às necessidades, aos interesses e ás conveniências dos diferentes povos que ocuparam o planeta e contribuiu para a manifestação de formas e estilos de arquitetura. Os múltiplos estilos, que marcam períodos históricos e culturais, tornam a fisionomia geológica do planeta diferente, não necessariamente mais bela, diante da candura verde das florestas, da magnificência das montanhas nevadas e da cabeleira azul- ondulada dos mares.

A concentração humana num espaço geográfico é estimulada pela oferta de oportunidades que podem atender à demanda diversificada de grandes populações no campo da sociabilidade, na troca de experiências interpessoais, no uso dos serviços públicos de saúde, educação, proteção aos direitos individuais, à liberdade de ir e vir, ao trabalho criativo e ao desfrute das condições de bem-estar coletivo.

Os efeitos da concentração humana, num espaço geográfico, alteram a fisionomia milenar e dão, nessa área, traços novos no rosto inteiro do planeta, embora localmente, não se perceba. A sinergia dos diferentes espaços modificados ─ rochas, vertentes hídricas, vegetação nativa e toda a biodiversidade ambiente -  se manifesta horizontal e verticalmente ao longo da estrutura do sistema físico. Em 1900, 12% da população mundial estava concentrada nas cidades, aumentando para 15%, no ano 2000, O relatório do programa Habitat-ONU, 2025, registra a concentração urbana em 45% da população mundial. Nos países desenvolvidos, entre 73% e 80%, vivem em cidades, e 35% nos pobres.

 USO DA NATUREZA – POLÍTICA AMBIENTAL

 

Os biomas do planeta alimentam a teia da vida.

 Anuncia-se que o Brasil tem a melhor e mais acabada lei ambiental comparada com a de outros países. A construção de uma política ambiental de Estado abrange a teia da vida que se manifesta pela ampla biodiversidade e abrange seres humanos e não humanos. A aplicação de alguns artigos da legislação, de maneira geral ou pontual, ao longo dos diversos espaços do Brasil, não responde às estruturas funcionais da natureza nas distintas regiões geográficas. A condução das atividades humanas no uso e na proteção da natureza ─ ou política ambiental ─ supõe conhecimento sistêmico e sabedoria orientados a integrar o funcionamento e a regeneração de todos os biomas e ecossistemas de Sul a Norte, de Leste a Oeste do território nacional.

A natureza é um sistema auto-organizado e seus elementos são interdependentes. Os biomas e seus múltiplos ecossistemas dialogam, se comunicam, intercambiam e compartilham virtudes e energias entre si, em benefício de toda a biodiversidade. Os biomas alimentam a teia da vida. A construção de uma política ambiental inteligente para o Brasil, no contexto global latino-americano, orientada ao uso e à proteção da natureza, buscará a conjunção de virtudes e ofertas diversificadas dos diferentes biomas. Suas energias reparam as deficiências mútuas e complementam as condições de sobrevivência, reprodução e adaptação da biodiversidade neles, como as aves migratórias. É impressionante e admirável a ocupação de todos os Continentes do planeta pela espécie humana e de outras não humanas.

No espaço geográfico do Brasil, os diferentes biomas e respectivos ecossistemas ─ Amazônia, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga, Pampas ─ embora diversificados e com regimes de estações e chuvas próprias de sua localização, eles se comunicam pelo funcionamento constante dos elementos essenciais da natureza: solo contínuo, águas superficiais e subterrâneas, ar e temperaturas cambiantes. A administração da política ambiental inteligente obedece à intercomunicação das ofertas dos diferentes biomas. A ocupação e a utilização das virtudes do bioma amazônico, se refletem sobre o uso de outros biomas. Rompendo a intercomunicação dos diferentes biomas, por ignorância ou incapacidade, todo o sistema ambiental entra em situação caótica. Passa-se a administrar o caos ambiental.

A desertificação de um espaço geográfico, por força das atividades humanas e, por consequência, a alteração da fisionomia explicita do planeta, não acontece de forma imprevista. No campo da produção de alimentos e de itens da industrialização ou da crescente urbanização do planeta, a desertificação de um ambiente acontece de forma planejada, de acordo com os interesses, necessidades e conveniências da espécie humana.

Os fenômenos físicos não são planejados. Produzem-se por impulsos incontroláveis das leis físicas e podem agravar as condições do meio modificado em que vivem seres humanos e não humanos. As denominadas catástrofes ambientais ou ecológicas se referem aos efeitos produzidos sobre toda a biodiversidade vegetal e animal com ênfase na espécie humana.

 AQUECIMENTO CLIMÁTICO

 Em que ponto da evolução geológica está o planeta Terra? Dizem os engenheiros astrofísicos que o universo é a totalidade do que existe ─ espaço, tempo, matéria, energia ─ e nesse conceito estão englobados os planetas, as estrelas, as galáxias. O astrofísico Carl Sagan, perguntado sobre a possível data da formação originária do universo, franziu o cenho, abriu as mãos espalmadas e balbuciou:  bilhões e bilhões de anos. Em data ignorada, há bilhões e bilhões de anos, no âmbito do Sistema Solar, iluminando os corpos celestes, numa galáxia dita Via Láctea, está o planeta Terra ao qual, recentemente, chegamos nós, na companhia de colibris, girafas e ursos polares.

O que aconteceu nos bilhões e bilhões de anos que formataram a fisionomia do planeta? Os fenômenos físicos não têm horário para exercitar suas funções nem dão sinais de abandonarem o universo. Os vulcões, de tempos em tempos, vomitam o fogo que ainda arde no ventre da terra e derramam lavas pelas cordilheiras. Os ventos uivantes vão e vêm. Os tufões e os tornados dançam pelos mares e pelas savanas. Os denominados eventos extremos ─ raios, tempestades, terremotos e maremotos ─ se intercalam para inundar florestas e, em tempos modernos, alagar cidades, arrastar casas, pontes e abater vidas humanas e não humanas.

O conhecimento visual acumulado que se tem do rosto do planeta Terra, permite imaginar como seriam, há um milhão de anos, a profundidade e extensão dos mares, a altura da Cordilheira dos Andes, as planícies geladas, onde irrompeu o Monte Fuji, impulsionado por um tremor vulcânico; a bilionária inospitalidade universal; o silêncio ensurdecedor do nada; os fantásticos movimentos das águas libertas; a escuridão das noites infindas saudada pelo sorriso amarelo da Lua perdida no espaço.

 Mudanças climáticas de ordem natural, por força dos fenômenos físicos, são acrescidas pelas alterações provocadas pela atividade de bilhões de seres humanos e não humanos na exploração do solo e subsolo, no uso e contaminação das águas superficiais e subterrâneas. A poluição do ar por gases provenientes da queima de combustíveis fósseis e múltiplas outras atividades humanas são alguns dos principais causadores do efeito estufa e do aquecimento generalizado do ambiente planetário. Bruscas alterações nas temperaturas dão origem a gigantescas tempestades, frios intensos e calores abrasivos.

A percepção das temperaturas é testemunhada pelos seres vivos ao longo de milênios. O desaparecimento dos Neandertais, e de mamutes lanudos e outras espécies adaptadas ao gelo situa-se durante o Último Período Glacial que terminou há cerca de 11.000 anos, com temperaturas globais estimadas em 50C mais frias do que as atuais. A América do Norte e a Eurásia, cobertas de gelo, mostravam a parte do rosto carnavalesco do planeta pintado de branco. As espessas camadas de gelo retidas nos polos mantinham o nível do mar mais baixo. No Hemisfério Sul ocorreram mudanças climáticas significativas. As regiões subtropicais perderam grande parte de sua cobertura florestal e tornaram-se mais secas.

As temperaturas medidas e comprovadas por termômetros confiáveis, publicadas pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) datam de mais de 200 anos, tendo como referência o período que dá origem à Revolução Industrial. Entre as principais causas que se juntam aos fenômenos físicos que alteram a fisionomia do planeta e contribuem para o aquecimento das temperaturas se referem às atividades praticadas estritamente pela espécie humana no uso do solo e subsolo, das águas superficiais e subterrâneas. Previsão de catástrofe mais aguda, atingindo com mais violência as costas oceânicas, poderia ocorrer no começo da década 2030 com aquecimento global de 2oC, temperatura não registrada no planeta nos últimos 2,5 milhões de anos (Era do Quaternário).

Ao lado de vulcões e incêndios originados de raios, cuja frequência é indeterminada, o aumento das temperaturas ao longo e largo do planeta, é atribuído às atividades humanas diuturna e crescentemente exercidas. Combustíveis fósseis, diariamente, acionam bilhões de automóveis, milhares de aviões e navios que, além de emitir calor, poluem as águas e o ar. Bilhões de aparelhos domésticos movidos a motores elétricos ou a gás disseminam calor constante. Desmatamentos e queima de florestas, para a produção de alimentos de origem vegetal e animal, alteram a paisagem original dos biomas, exterminam ecossistemas e dão espaço aos vendavais e às tempestades. A impermeabilização crescente das cidades e o asfaltamento de milhares de quilômetros de rodovias modificam paisagens, mudam o curso de rios, impedem a infiltração e a percolação das águas pluviais para a recarga dos aquíferos.

A espécie humana, homo sapiens, último a chegar na teia da vida existente na Terra, se um dia desaparecer, com ele se vão Madonna, David, La Pietà, Catedrais, Museus, Bibliotecas, Cristo do Corcovado, sob escombros de terremotos ou incêndios. Permanecerão no solo, nas águas e no ar, para a eternidade, o lixo tóxico ─ pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes, aparelhos eletrônicos, remédios vencidos, tintas, solventes ─ e milhões de toneladas de plástico nos oceanos.

A azáfama da espécie humana, impulsionada por suas descobertas, no curso da história, dá vazão irrefreável à criatividade na utilização de todos os elementos que o planeta Terra gratuitamente lhe oferece para sobreviver e, com ele, a biodiversidade. Pouco ou nada se possa fazer para evitar as mudanças climáticas originadas de fenômenos físicos, a não ser prevenir-se contra a força e a energia do universo. A espécie humana acumulou, nos últimos 20 mil anos, conhecimentos e experiências suficientes para reduzir sábia, inteligente e prudentemente as atividades que possam produzir ou acelerar o ritmo das mudanças climáticas, adotando, com eficácia, o princípio da precaução.

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 REFERÊNCIAS

·       Marques, Luiz. O decênio decisivo, 611 pg. Elefante, 2025, São Paulo.

·       Moore, Jason W. Antropoceno ou Capitaloceno, 340 PG. Elefante, 2022, São Paulo.

·       Veiga, José Elí da, O Antropoceno e a Ciência do Sistema Terra, Editora 34, 2019, São Paulo.

·    Bocuhy, Carlos, Presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam) Crise climática e a sobrevivência da Humanidade. (CB, 13.8.2025), Brasília, DF.

·       Sagan, Carl. Bilhões e bilhões, Companhia de Bolso, São Paulo, 2008,

·       Wohlleben, Peter, A sabedoria secreta da NATUREZA, Sextante, 2022, Rio de Janeiro.

·       Masi, Domenico de. O futuro chegou, Casa da Palavra, 2014, Rio de Janeiro.

(Nota: Publicado na Revista da Academia de Letras do Brasil, no 13, 2025)

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

TARIFAÇO CULTURAL

TARIFAÇO CULTURAL 

No dia da Independência, fala-se de tudo, menos sobre o roubo que se fez aos que, por 17.000 anos habitam nossas florestas sem derrubá-las. Destruímos a Terra deles, isto é, a Pátria deles. Não foram ouvidos quando gritaram pela sua SOBERANIA. Eles também queriam uma terra, uma pátria grande e livre de intromissões. Infringimos a eles um tarifaço cultural que abafou suas expectativas e esperanças. Ficamos surdos aos mais de 200 idiomas que ainda ecoam nas selvas amazônicas. Nós queremos alimentar um bilhão de pessoas no mundo, enquanto crianças morrem de doenças e de insuficiente alimentação em suas ocas, ao redor de minas de ouro que poluem suas águas e de escavações de pedras raras e nobres.

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

POÍTICA AMBIENTAL

 POÍTICA AMBIENTAL

Anuncia-se que o Brasil tem a melhor e mais acabada lei ambiental comparada com a de outros países. Não temos, no entanto, uma política ambiental sistêmica orientada a integrar o funcionamento de todos os biomas de Sul a Norte, de Leste a Oeste do território nacional.
A natureza é um sistema auto-organizado e seus elementos são interdependentes. Os biomas e seus múltiplos ecossistemas dialogam, se comunicam, intercambiam e compartilham virtudes e energias entre si, em benefício de toda a biodiversidade. Os biomas alimentam a teia da vida.
A construção de uma política ambiental inteligente para o Brasil, no contexto global latino-americano, buscará a conjunção de virtudes e ofertas diversificadas dos diferentes biomas. Suas energias reparam as deficiências mútuas e complementam as condições de sobrevivência, reprodução e adaptação da biodiversidade neles, como as aves migratórias. É impressionante e admirável a ocupação de todos os Continentes do planeta pela espécie humana e de outras não humanas.
No espaço geográfico do Brasil, os diferentes biomas e respectivos ecossistemas ─ Amazônia, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga, Pampas ─ embora diversificados e com regimes de estações e chuvas próprias de sua localização, eles se comunicam pelo funcionamento constante dos elementos essenciais da natureza: solo contínuo, águas superficiais e subterrâneas, ar e temperaturas cambiantes. A administração da política ambiental inteligente obedece à intercomunicação das ofertas dos diferentes biomas. A ocupação e a utilização das virtudes do bioma amazônico, se refletem sobre o uso de outros biomas. Rompendo a intercomunicação dos diferentes biomas, por ignorância ou incapacidade, todo o sistema ambiental entra em situação caótica.
A desertificação de um espaço geográfico, por força das atividades humanas e, por consequência, a alteração da fisionomia explicita do planeta, não acontece de forma imprevista. No campo da produção de alimentos e de itens da industrialização ou da crescente urbanização do planeta, a desertificação de um ambiente acontece de forma planejada, de acordo com os interesses, necessidades e conveniências da espécie humana.
Os fenômenos físicos não são planejados. Produzem-se por impulsos incontroláveis das leis físicas e podem agravar as condições do meio modificado em que vivem seres humanos e não humanos. As denominadas catástrofes ambientais ou ecológicas se referem aos efeitos produzidos sobre toda a biodiversidade vegetal e animal com ênfase na espécie humana.
Canela-de-Ema, arbusto pré-histórico, vive em diferentes biomas. Abundantes no Sítio Neves, Cerrado do Distrito Federal. (Foto: Eugenio Giovenardi)

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

EXPORTANDO O BRASIL

 EXPORTANDO O BRASIL

(Publicado no Facebook)
Em 500 anos, com eficiência, empurramos os habitantes autóctones das praias do Atlântico aos confins da Amazônia. Assim fizeram, há 100 mil anos, os emigrantes da África, ao deslocar os habitantes da Eurásia para o Vale do Neander, Alemanha, (os Neandertais, de Atapuerca, Ibéria e de Lascaux, França) até as cavernas de Harbin, ao norte da China e desapareceram.
Valentes barcaças levaram pau-brasil, mogno, ipê, jacarandá para mobilhar palácios de reis e papas. Das ¨veias abertas da América¨ jorraram prata e ouro. Couros vacunos, de onças e jacarés esfolados abasteceram ateliês. Milhões de toneladas de soja, milho, café, algodão, açúcar, carnes bovinas, suínas e avícolas enriquecem cardápios orientais. A devastação florestal abriu caminho para nossos caudalosos rios levarem ao mar, pelas portas do Norte, do Leste e do Sul, milhões de toneladas de terra fértil que voltou a nossas praias em forma de areia estéril. Agora, em nome da nova economia do Brasil, vamos exportar pedras, denominadas Terras Raras. Seus elementos químicos duplicarão a eficiência tecnológica de celulares, veículos elétricos, turbinas eólicas, painéis solares, equipamentos médicos, superarmas letais e bombas nucleares de potências bélicas, para tornar inabitável o planeta Terra.
Os minerais salvadores do século 21 estão debaixo de nossos pés. Produzir terras raras, dizem pesquisadores, é a janela de oportunidade para o milagroso crescimento econômico do Brasil e do mundo, decretando o fim da fome e da desigualdade dos desafortunados, em pleno colapso socioambiental.
Risum teneatis, amici? Perguntou o poeta Horácio aos atônitos romanos, há mais de 2.090 anos. Contereis a gargalhada, amigos brasileiros?

Imagem: Buda, há mais de 5.000 anos, suplicava pelas árvores do planeta. Hoje, à sombra da mnagueira, protege o Cerrado do Sítio Neves, nas bordas de Brasilia.

terça-feira, 12 de agosto de 2025

PASSEIO VESPERTINO

 PASSEIO VESPERTINO

Parei ao pé de um Carvoeiro. Descansei meu nonagenário ombro na casca enrugada. Olhei as gramíneas rastejando na terra seca, beijando o chão que as sustenta. Tudo em volta era alegria, embalada pela brisa ensolarada. Olhei abismado as árvores ao redor. Senti que elas me acolhem. Conspiram a meu favor. Inspiram poesia ao caminhante. Transpiram paz. Respiram felizes. Espiram ar puro. Segredam mensagens ao olho d´água. Convivo com elas. Completamos 51 anos de conspiração ambiental. Felicidade que levarei para Aldebarã.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

COMEÇAMOS CEDO

 

COMEÇAMOS CEDO

Começamos cedo a esquentar o planeta Terra, por volta de 1870, século XIX, com a queima de combustíveis fósseis. Tarde percebemos que a lei da precaução exigia conhecimento, prudência e sabedoria. Nosso avião está em velocidade de cruzeiro. Os motores falham e o aeroporto está longe, em meio a uma cidade. Talvez, não dê tempo para reparar os erros técnicos e humanos. Os pousos de emergência são cada dia mais frequentes e os desastres se acumulam ─ Rio Grande do Sul, Índia, Espanha, Texas, México. Em outras partes do planeta, junta-se o fogo nos pulmões das florestas e contaminam-se as águas e o ar. A tecnologia desregrada conseguiu construir a tempestade perfeita e já consumiu três partes do rosto do planeta. Extinguiu milhares de espécies da biodiversidade animal e vegetal. Disseminou bactérias e vírus sobre toda a teia da vida e contaminou seres humanos e não humanos. Ferimos a alegria do planeta. A espécie humana sobrevive num ambiente de depressão terminal.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

ÁGUAS DE JULHO - 2025

 

CHUVAS DE JULHO  ▬  ANOS 2013 a 2025

SÍTIO DAS NEVES – BR 060 – KM 26 – DF -

Em milímetros ─ 1 mm = 1 litro/m2    

 MÊS                                      MM/MÊS           TOTAL/ANO/ MM

 2013                               –         0,0               2.255,6

2014                               –         3,0               1.677,5

2015                               –         0,0               1.642,7

2016                               -          0,0               1.921,7

2017                               ─         0,0               1.478,7

2018                               –          0,0               1.760.5

2019                               –          0,0              1.069.3

2020                               ─         0,0                1.787,8

2021                                ─        0,0               1.710.8

2022                               ─         0,0               1.279,2 

2023                               ─          0,0               1.323.4 

2024                               ─          0,0               1.770,9

2025                                          0,0                   513,8 (no ano) 

Durante 156 meses (doze anos), registro e publico os volumes de chuva, captados pelo pluviômetro autorizado pela Agência Nacional de Águas, na área da Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Lajes. É lamentável que mais da metade do bioma Cerrado esteja sendo desvirtuado. A regeneração de uma área, para o bom funcionamento de uma floresta, leva mais de 50 anos. Nos últimos 13 anos, o volume de águas do período chuvoso vem diminuindo alarmantemente, acompanhado de tempestades arrasadoras e letais em várias regiões do país.O Sitio das Neves (700.000 m2) registrou, ao longo do mês de julho, 00,0 de litros. Nesses doze anos julinos, apenas em um mês se registrou mais de um litro. A partir de 2021, a mudança do clima não é apenas um alerta. É uma realidade! O acumulado de chuvas do ano de 2025, é de 513,8 mm (ou litros por m2), em média equivalente a 73,4/litros/mês ou 2,4 litros/dia, na região da microbacia do Ribeirão das Lajes, no Distrito Federal.

 

 

MANEJO INTEGRADO DO FOGO

 

POLÍTICA NACIONAL DE MANEJO INTEGRADO DO FOGO

Esta Política tem outros sinônimos elegantes: uso racional do fogo, fogo amigo, fogo ecológico, manejo racional do fogo. Nos últimos dois meses, mais de 400 chamadas de combate ao fogo foram enviadas aos Bombeiros Ambientais. Com vivência de 51 anos de observação, cuidados e luta para salvar do fogo a biodiversidade do Sitio Neves (70 ha), BR 060 Km 26 DF, me atrevo, respeitosamente, a orientar os responsáveis da aplicação dessa POLITICA NACIONAL para as reais medidas de prevenção que evitam queimadas brutais, A maior parte das incidências de fogo, casual ou criminoso apresenta dois principais tipos de risco que facilitam e até incitam os incendiários. Todas as áreas de proteção permanente, 1) estão à beira de rodovias federais, com amplas faixas de domínio público de responsabilidade de Concessionárias ou distritais pouco fiscalizadas pelo GDF e malcuidadas, com depósito de variados tipos de lixo, ao lado de quilômetros de capim seco facilmente inflamável; 2) Linhas de alta tensão atravessam áreas rurais, chácaras, sem a devida limpeza ao longo de sua extensão, expostas a raios ou a falhas técnicas ou tecnológicas que já provocaram grandes incêndios.

Um sábio, inteligente e continuado controle e até eliminação dos riscos evidentes é a melhor e mais eficaz maneira de prevenir e abafar queimadas indesejáveis e criminosas contra a biodiversidade e a manutenção das nascentes de água.

Imagens:1. Lixo plástico entre capim seco. 2. Buritis,salvamdo olhos d´água, Sítio Neves, 9.10.2020 (Foto: Eugênio Giovenardi)

quinta-feira, 31 de julho de 2025

AS PEDRAS DE ROMA - COMENTÁRIO

 

AS PEDRAS DE ROMA

Edmilson Caminha, da Academia de Letras do Brasil, jornalista e escritor.

 As Pedras de Roma, em primeira edição publicada pela editora MaisQnada, Porto Alegre (2009), chega em segunda edição, pela editora Kelps, Goiânia (2025). Eugênio Giovenardi é dos poucos brasileiros capazes de escrever um livro com a riqueza humana e a magnitude literária que põem o romance As pedras de Roma entre os mais expressivos da nossa literatura, nos últimos tempos. Teólogo, filósofo e sociólogo, o autor detém profundo conhecimento da Igreja Católica, a que apela para contar a história impressionante de Giovanni de Medici, feito cardeal com 13 anos de idade, e que governou o Vaticano, como Papa Leão X, de 1513 a 1521, quando se suicida aos 45 anos”. São memórias de um ex-diretor da Biblioteca do Vaticano ─ “Rapporti confidenziali” lembranças, pensamentos e relatos de Leão X, talvez anotados e guardados, por um anão letrado que lhe prestava serviços. Tão bem escrito é o romance que chegamos a crer na veracidade do diário, como se fora mesmo um documento histórico, por entre personagens como Erasmo de Roterdam, Rafael, Michelangelo e Leonardo da Vinci. Os capítulos, elegantemente titulados em latim, são ladeados por imagens de quadros famosos.

Os Fugitivos da Água - RESENHA Paulo Roberto de Almeida

 Os Fugitivos da Água Eugênio Giovenardi:

(Goiânia: Kelps, 2025)
Comentários do escritor, acadêmico do ihg,df e diplomata
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
Estou lendo este "romance científico futurista", se assim posso classificar este livro, do meu amigo, colega sociólogo (embora eu nunca tenha exercido a profissão) e colega de academia, no caso o IHG-DF, obra que tem uma construção original, mas que é embasada (cada linha, cada parágrafo, cada capítulo) na mais pura informação científica, nos campos da ecologia, da sociologia, da economia, da biologia e muitas outras disciplinas trabalhadas com esmero e profundo conhecimento por este "Renaissance Man" (provavelmente mais do que isto).
Trata-se de um relato feito em meados do século XXII, ou seja, em torno de 2150, sobre o desaparecimento do mundo como o conhecemos hoje, a partir de uma fissura geológica na África (entre o Sudão e a Etiópia) que precipita uma invasão dos mares sobre territórios habitados, uma espécie de "Segundo Dilúvio".
O suposto autor, ou narrador da catástrofe ecológica, é Seven Oitis, descrito como um "Naturólogo, Licenciado em Inteligência Ambiental", cujo nome, escrito ao inverso, significa simplesmente "Sítio Neves", ou a morada do Eugênio. Ele cita um autor de um livro, "O Outono Sem Fim" (publicado em 2119), que seria Lechar Nosrac, também um nome invertido, que remete à famosa Rachel Carson, autora de "Silent Spring" (1962; reeditado muitas vezes, e ainda hoje lido com devoção por todos os ativistas da defesa ambiental (o que é exatamente a mais importante atividade de Eugênio Giovenardi).
A Rachel Carson é praticamente a "mãe" do movimento ecologista contemporâneo, tendo denunciado o uso de defensivos agrícolas por grandes empresas da área, sabotada por eles, mas que se impôs corajosamente até a proibição legal do uso de vários produtos tóxicos nocivos à alimentação humana. Vcs podem ter uma ideia da importância dela lendo a biografia na Wikipedia, e verificando os livros na Amazon. Não vou relatar o enredo do livro, pois quero que os que lerem esta nota procurem a obra para saber como é que a humanidade, ou boa parte dela, se tornou "Fugitiva da Água", um dilúvio, ou super inundação, causada pela destruição da natureza pela ação humana. O que sim gostaria de confirmar é a riqueza da informação científica manipulada de forma competente por Giovenardi, uma vez que, como afirmei acima, cada frase dele vem sustentada em fatos reais, do mundo natural, trabalhados por cientístas, e explicados de maneira racional, mas de forma agradável, atraente. Transcrevo um trecho, da p. 78-79:
"Perguntava-se Lechar Nosrac [ou seja, a Rachel Carson do século XXII], em uma de suas muitas entrevistas à imprensa televisiva, 'como foi que se chegou a esta raiva do tempo, da natureza, do planeta? Que foi feito da primavera que chegava antes do verão?' As neves nórdicas e as águas da Antártida derretidas não só modificaram os costumes dos habitantes do mar, como alteraram o modo de vida dos moradores dos continentes invadidos. Documentários produzidos nos grandes degelos dos anos 2060 [ou seja, o resultado prático do aquecimento global, já em curso neste século], registravam cenas reveladoras dos alertas repetidos por inúmeras agências observadoras do clima e dos fenômenos físicos ao redor do planeta. Por incredulidade, ou incompetência ou 'interesses maiores' não haviam sido levados a sério pela população nem pelos órgãos da administração pública dos países, localizados à margem de oceanos e possuidores de grandes rios que neles desembocavam."
Voilà, isso dá uma ideia de como Giovenardi desenvolve seu argumento, por vezes narrado pelo 'autor' (Seven Oitis) ou pela Rachel Carson (invertida) do futuro (a verdadeira morreu dois anos depois de seu famoso livro, em 1964. Os capítulos são descritos pelo narrador, com dois amigos também cientistas, e eles vão repassando toda a literatura científica sobre o meio ambiente desde os anos 1960, 70 (primeira conferência sobre meio ambiente, em Estocolmo, em 1972), os alertas do Clube de Roma e todos os malthusianos e catastrofistas do esgotamento dos recursos naturais, a destruição da natureza, os relatórios "da antiga Organização das Nações Unidas" (ou seja, ela já terá desaparecido no século XXII, e Trump, por uma vez, não é o culpado direto, pois o livro foi escrito antes que o laranjão começasse a destruir o mundo de forma mais afirmada) e uma pletora de outros materiais relacionados na bibliografia do livro.
A obra termina, justamente, por uma entrevista com Lechar Nosrac, ou seja, a Rachel Carson do futuro. Aos que desejarem saber mais sobre o autor e suas obras, recomendo uma visita a uma (ou mais) de suas páginas.
Brasília, 21/07/2025