sexta-feira, 24 de maio de 2024

BRASILIA — UM DESERTO EM DUAS DÉCADAS —

 No Correio Braziliense, hoje, 22.5.2024, o PRESIDENTE DA CAESB alerta os brasilienses: ÁGUA É UM RECURSO FINITO.

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TEXTO PUBLICADO EM MEU LIVRO - OUVIR AS ÁRVORES - 2023.
No Correio Braziliense, hoje, 22.5.2024, o presidente da CAESB alerta os brasilienses:
ÁGUA É UM RECURSO FINITO.
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BRASILIA — UM DESERTO EM DUAS DÉCADAS —
Há 60 anos, as nascentes do Distrito Federal eram suficientes para abastecer a população, então existente, de 12.000 pessoas. Nestas últimas 6 décadas, se ampliaram reservatórios, buscaram-se águas a mais de 100 km de Brasília e não são suficientes para manter um clima saudável para os 4 milhões de pessoas que ocupam, hoje, o degradado ecossistema. O fato de os reservatórios ficarem semivazios todos os anos deveria alertar os administradores da água sobre o estado crítico das nascentes e dos mananciais. Por que 1.015 poços artesianos irregulares, nos arredores da Bacia do Rio Descoberto, foram autuados pela Adasa? E por que não foram selados e a extração de água interrompida?
Há pelo menos 10 anos, Brasília depende das águas da chuva para irrigar o cerrado desertificado. A irregularidade das chuvas desestruturará os núcleos urbanos e o Cerrado não terá olhos d’água para dessedentar a população humana e a biodiversidade não humana. Brasília não será inundada como as ilhas Tuvalu do Pacífico. Mas, terá as características de um deserto em 30 anos. Estudos atuais, com o fracasso da COP/26, estimam que o planeta está caminhando célere para um aquecimento catastrófico que intensificará o número de refugiados do clima e das inundações provocadas por degelo dos glaciais ou de tempestades imprevistas.
Minhas netas, daqui a 3 décadas, terão pouco mais de 50 anos e testemunharão o fato de estarem semivazios nossos reservatórios. Verão a triste fuga de milhares de brasilienses do deserto que se tornará a cidade-parque — Patrimônio Cultural da Humanidade. A tradicional política administrativa do Distrito Federal se concentra na urbanização física da cidade, na ampliação de rodovias e viadutos, troca de áreas vegetais protetoras por assentamentos devastadores. Administrar uma cidade é cuidar do bem-estar da população. Porém, os administradores públicos descuram da interação e interdependência dos seres humanos e não humanos deste ecossistema sensível que abriga a mais rica biodiversidade do planeta. Águas Emendadas que abasteceram, durante séculos, os rios a jusante, centenas de nascentes a montante e pequenos córregos do Planalto Central estão no caminho da desertificação.
Há 60 anos, as nascentes do Distrito Federal eram suficientes para abastecer a população, então existente, de 12.000 pessoas. Nestas últimas 6 décadas, se ampliaram reservatórios, buscaram-se águas a mais de 100 km de Brasília e não são suficientes para manter um clima saudável para os 4 milhões de pessoas que ocupam, hoje, o degradado ecossistema. O fato de os reservatórios ficarem semivazios todos os anos deveria alertar os administradores da água sobre o estado crítico das nascentes e dos mananciais. Por que 1.015 poços artesianos irregulares, nos arredores da Bacia do Rio Descoberto, foram autuados pela Adasa? E por que não foram selados e a extração de água interrompida?
Há pelo menos 10 anos, Brasília depende das águas da chuva para irrigar o cerrado desertificado. A irregularidade das chuvas desestruturará os núcleos urbanos e o Cerrado não terá olhos d’água para dessedentar a população humana e a biodiversidade não humana. Brasília não será inundada como as ilhas Tuvalu do Pacífico. Mas, terá as características de um deserto em 30 anos. Estudos atuais, com o fracasso da COP/26, estimam que o planeta está caminhando célere para um aquecimento catastrófico que intensificará o número de refugiados do clima e das inundações provocadas por degelo dos glaciais ou de tempestades imprevistas.
Minhas netas, daqui a 3 décadas, terão pouco mais de 50 anos e testemunharão o fato de estarem semivazios nossos reservatórios. Verão a triste fuga de milhares de brasilienses do deserto que se tornará a cidade-parque — Patrimônio Cultural da Humanidade. A tradicional política administrativa do Distrito Federal se concentra na urbanização física da cidade, na ampliação de rodovias e viadutos, troca de áreas vegetais protetoras por assentamentos devastadores. Administrar uma cidade é cuidar do bem-estar da população. Porém, os administradores públicos descuram da interação e interdependência dos seres humanos e não humanos deste ecossistema sensível que abriga a mais rica biodiversidade do planeta. Águas Emendadas que abasteceram, durante séculos, os rios a jusante, centenas de nascentes a montante e pequenos córregos do Planalto Central estão no caminho da desertificação.

segunda-feira, 20 de maio de 2024

GEÓGRAFOS, OLHAI OS RIOS DO BRASIL

 GEÓGRAFOS, OLHAI OS RIOS DO BRASIL

Nascentes de rios, olhos d’água, mananciais, berço das águas. Os rios têm berço. Todos os rios começam infantes. Todo bebê é frágil e precisa de cuidados. Todo bebê amado e bem conduzido pode ser o líder de outras águas benfazejas ao longo de seu curso. Aprendi, na Biocomunidade do Sítio das Neves, neste Cerrado do Planalto Central do Brasil, a cuidar de bebês no berço de córregos para se unirem, dignos, a ribeirões e rios que irrigam solos, dando alimentos a humanos e não humanos. Percebi que nenhum rio, pequeno ou grande, chega sozinho ao mar. O Rio Amazonas conhece essas terras há 9 milhões de anos. Os povos charruas do RGS serviam-se, há mais de 12 mil anos, dos 86 rios que descem da serra ao oceano, formando o estuário do Guaíba. Cuidar dos rios, acompanhar seus cursos, respeitar suas identidades, conhecer sua força, suas medidas, seu peso, é preciso! O mesmo cuidado oferecido ao olho d’água, que brota do chão, deve acompanhar o trajeto do rio. Os rios desconhecem os interesses imediatos da espécie humana nem se responsabilizam pelas consequências das decisões que toma. Há milênios, os rios enfrentam galhardamente as turbulências dos fenômenos climáticos, garantindo sua chegada ao destino, acolhido pelos braços do oceano. Um novo olhar sobre os rios foi o que me ensinaram os espíritos do cosmos que vagueiam pelas florestas e montanhas de nosso inefável planeta Terra.
Um olho d’água também é o bebê, no berço dos rios Amazonas, Taquari ou do Jacuí.

quarta-feira, 15 de maio de 2024

BANHO DE CERRADO

 BANHO DE CERRADO

No sábado, dia 11 de maio de 2024, um grupo de professores – Ray di Castro, Jeane Lopes Silva, José Henrique Galdino, Neverton Caixeta, Gerardo Wellington C. de Andrade, João Gabriel Andrade - participaram de uma atividade de paz com a natureza, como bioma Cerrado, com o ecossistema da Biocomunidade do Sítio das Neves, em busca do ABC da biodiversidade. Composto de água, solo, ar e luz/calor, os ecossistemas vêm alimentando vidas, durante 4 bilhões de anos. Os humanos chegaram bem depois dos não humanos e ainda estão aprendendo as primeiras letras do ABC da natureza. Biodiversidade é o nome da paz social que a espécie humana precisa construir para preservar a vida. A teia da vida junta todos os seres vivos humanos e não humanos.
Fotos na Biocomunidade Sítio das Neves
Imagens do jornalista fotógrafo MARCELO FERREIRA/CB/D.A.PRESS

quarta-feira, 8 de maio de 2024

RECONSTRUIR É PRECISO! VIVER!

 

RECONSTRUIR É PRECISO! VIVER!

 

A água levou vidas humanas e não humanas, casas, pontes, estradas morro abaixo. Aqueles lugares conhecidos, familiares, vistos, ouvidos, falados e cantados não existem mais. O velho pé de camélia se foi e, com ele, a hortênsia azul do jardim. Mais de um milhão de pessoas, açoitadas pelas tempestades, pensam no lugar que não existe mais. Construir um novo lugar, com ideias e comportamentos antigos e equivocados?

Não se sabe o que trazem na cabeça - ministros, presidente e governador - a mais de um ou vários bilhões de reais para reconstruir o Estado do Rio Grande do Sul. Reconstruir é preciso! Prédios, casas, estradas, pontes, barragens, lavouras. Reconstruir, consertar, repor sobre um solo cansado? Se reconstruir é montar o novo sobre a base frágil que os trilhões de litros enfurecidos de água varreram, dando a isso o nome de recuperação econômica do Estado, nada mais é do que preparar o cenário propício para a próxima resposta da natureza.

Todas as evidências, ao longo de alguns séculos, mostram que os fenômenos físicos e a constituição da natureza têm leis pétreas. Funcionam sem possibilidade de emendas. Em 1973, na Conferência de Estocolmo, antecipando-se aos gritos da natureza, os cientistas do clima, aprovaram o Princípio da Precaução, a ser observado por chefes de nações e empresas econômicas, como base da atividade humana inteligente no caminho da sobrevivência. Precaução quer dizer: se houver dúvida científica de que a intervenção humana no funcionamento da natureza possa dar certo, melhor não fazer ou adiar. A natureza cobrará pelos erros.

Reconstruir é preciso! Reconstruir nossa maneira de pensar o significado da vida, a maior riqueza do planeta. A prática ecológica da sábia ação humana, associada aos seres vivos não humanos, integrada à natureza, obedece criteriosamente a um sistema de relações sociais que engloba uso da água, do solo, do ar, da luz e calor. A proteção permanente do adequado funcionamento integrado desses quatro elementos é fundamental para uma ecopolítica geradora de vida. Há que investir, sabiamente, um bilhão de minutos para construir um novo olhar sobre a natureza. Um novo olhar sobre a vida.

Reconstruir é preciso! Viver!

terça-feira, 7 de maio de 2024

ENCHENTES NO RGS

 

ENCHENTES NO RGS

A chuva, as enchentes de São Miguel e de São José, o calor, o frio, o vento. a natureza, as árvores, as curicacas são conhecidos dos gaúchos. Nasci num vilarejo, Casca, que se tornou cidade, 9.400 habitantes, na Serra Gaúcha, entre Guaporé e Passo Fundo.

As rodovias da Serra se abriram cortando montanhas, deslocando pedras, abatendo pinheirais. Abriram-se centenas de quilômetros de campos e florestas para cobri-los de soja, arroz, trigo e milho, culturas que usam água, mas não a retém. A morfologia que orientava ventos e chuvas e canalizava as águas para os rios que descem rumo ao mar pelo Guaíba e pela Lagoa dos Patos e Lagoa Mirim, foi alterada de maneira a canalizar quase todas as águas para as terras ocupadas por imigrantes italianos, alemães, poloneses que nelas replantaram a criatividade de suas culturas.

A recuperação do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, com vistas aos acontecimentos climáticos previstos para as próximas décadas, dependerá de nossa capacidade de repensar o uso do solo e recompor corajosamente a morfologia geográfica, medidas capazes de prevenir catástrofes semelhantes às que a natureza está mostrando ao Brasil. Um novo olhar sobre a natureza é necessário e urgente para redefinir as condições sociais da sobrevivência da teia da vida humana e não humana, no planeta.