sexta-feira, 14 de maio de 2021

A VIRADA

 

 A VIRADA

Eugênio Giovenardi

 

Sou sociólogo.

Cinquenta anos de minha vida profissional foram e são dedicados a acompanhar o desenvolvimento de associações rurais de produção de alimentos, o aprimoramento da consciência ambiental dos produtores rurais e alertar sobre o impacto dessa atividade nos ecossistemas em algumas regiões do país.

 

Estas considerações expressam minhas convicções, críticas e desejos propositivos para uma necessária virada de atitudes e comportamentos, baseada no conhecimento das leis da natureza e da auto-organização dos ecossistemas. Trata-se de uma nova atitude cultural orientada à bioeconomia, para buscar meios adequados à sobrevivência da espécie humana, em interação e interdependência com todos os seres vivos do planeta e assegurar a regeneração dos ecossistemas hospedeiros.

 

A organização social e política do Brasil, em harmonia com todos os demais países, independentemente de ideologias e em respeito às diferenças culturais, diante de uma vertiginosa pandemia, poderá aproveitar o momento para promover uma virada humana.

 

O cenário político brasileiro se apresenta confuso, conflitante e com indecisas perspectivas de mudanças sensatas nos próximos anos. Um generoso pacto de diálogo institucional e comunitário poderá encontrar os caminhos da virada.

 

Grupos políticos, no Brasil de hoje, atuam nas esferas da justiça contra a corrupção seletiva, com menos rigor contra os que detêm cargos da administração pública, congressistas, grandes empresários sustentados pelos favores da máquina do governo.

 

Grupos políticos da chamada ala direita que se denominam liberais, mesclam capitalismo selvagem, liberalismo e neoliberalismo, orientados pelo dedo invisível do mercado, de bolsas de valores, moedas fortes, taxas de juro, inflação, rumo à conquista de um PIB exuberante. O adversário político mais próximo é o grupo de esquerda.

 

Grupos políticos de esquerda congregam trabalhadores, sindicalistas, socialistas, comunistas, anarquistas, libertários, autogestionários, ambientalistas, feministas, diversos grupos contra a discriminação racial, de culto e de gênero. Cada subgrupo atua com metodologia própria de ação política local ou regional, com programa maleável. Por vezes, alguns grupos alimentam relações ambíguas, com ênfase em operações sociais, voltadas para os marginais da economia, também ditos desfavorecidos.

 

Grupo denominado Centro, participa, por conveniência e interesse eleitoral, de programas e políticas de direita e de esquerda, e operam como sanguessugas da administração pública. Negociam cargos, junto a empresas do Estado, em troca de apoios ao presidente de turno, independentemente de políticas públicas.

 

Esses três grupos se caracterizam por uma qualidade ou virtude comum: a conquista, a apropriação do poder político, sacrificando ideias e ideologia, promessas, prioridades, com abandono de seus projetos outrora tidos como essenciais. A preocupação em busca de objetivos relativos às funções do Estado, na prática, se manifesta menos nítida e, por vezes, ignorada. O poder político partidário exercido pelo grupo dirigente eleito se sobrepõe ao conceito de Estado, cuja função maior é dar atenção às necessidades vitais e culturais da totalidade da população em seu espaço geográfico.

 

Os erros e acertos da atuação desses grupos que, por tempos definidos, administram a burocracia pública, são deixados em herança aos sucessores democraticamente eleitos. Os erros, por vezes monstruosos, continuam ativos e alguns se perpetuam no tempo.

 

O PONTO DE PARTIDA

 

Os líderes e representantes de todos os grupos políticos que concorrem para os cargos eletivos se formaram em nossas escolas e universidades sob a orientação de teorias econômicas clássicas tendo como eixos conceituais a produção e o consumo de bens, a oferta e a procura, a acumulação financeira, sujeitos ao humor do mercado, sensível a inúmeros fatores previsíveis e imprevisíveis que o torna neurótico e esquizofrênico. A neurastenia e a esquizofrenia contagiam os próprios administradores econômicos.

 

O discurso político de todos os representantes dos grupos pretendentes ao poder, além da retórica da comunicação e do tom demagógico das promessas, aponta planos e programas de crescimento econômico, desenvolvimento sustentável, geração de empregos, melhoria da renda e atenção especial à educação, saúde, segurança.

 

A maior parte dos líderes políticos que pretendem assumir o comando do país e administrar os planos de produção e consumo, demonstra escasso conhecimento sobre as leis da natureza, expressas no funcionamento dos ecossistemas onde a biodiversidade se reproduz. Por ignorância, agravada por interesses pessoais ou locais, esses representantes de partidos políticos exploram e esgotam os ecossistemas no afã de conquistar e se apropriar de bens que, pela natureza das coisas, são comuns a todas as espécies vivas.

 

Uma das falhas de grande parte das lideranças políticas é a escassa familiaridade com o funcionamento dos ecossistemas onde se alimentam e se reproduzem milhões de espécies vivas que compõem a biodiversidade. Todas as espécies são sociáveis, interacionam, são interdependentes e convivem num processo contínuo de reprodução. O homo economicus é parte dessa biodiversidade no mesmo ecossistema e dele retira o sustento, disponível na mesa comum a todos os seres vivos. Os ecossistemas não discriminam nem privilegiam ou concedem direitos especiais às inumeráveis espécies da biodiversidade que nela se hospedam.

 

Dada a peculiaridade cerebral da espécie humana, capaz de intervir no funcionamento e na vida de outras espécies da biodiversidade, o homo economicus, sem ser por elas juridicamente incriminado, se assenhora de todos os bens da natureza oferecidos pelo planeta e lhes dá o destino que melhor lhe convém.

 

A evolução da espécie humana, desde os longínquos milênios de sua aparição, dotou-a de energias e capacidades para aproveitar de forma diversificada os bens utilizáveis para alimentação, defesa e reprodução, estabelecendo, instintiva e gradualmente, as bases de sua organização frente à complexa ordem da natureza. A superioridade cerebral o induziu a criar um ambiente ofensivo diante das forças naturais e, se possível, sufocar a energia dos ecossistemas que resistissem à sua passagem.

 

Alio-me ao entendimento de que o aparecimento de vírus controladores de espécies frágeis como a humana, aves e suínos, e fenômenos climáticos intensos e incontroláveis, possam gerar um surto de racionalidade reprodutiva, no qual o princípio da precaução se imponha, dignificando ainda mais a espécie humana. 

 

Mudar! As mudanças climáticas que afetam todos os seres vivos, ao longo de bilhões de anos, são fenômenos que determinam também os comportamentos do homo sapiens e despertam nele ímpetos de mudança para sobreviver e se reproduzir. A virada histórica não se fez de forma abrupta, mas ao longo de milênios. O homo sapiente, entre ensaios e erros concluiu que a natureza aceitava sua interferência e lhe dava certezas de que podia dominá-la sem riscos de ser autuado em flagrante delito contra a constituição das leis naturais.

 

POPULAÇÃO

 

A capacidade de se adaptar em todas as regiões do planeta, as mais inóspitas, de coletar, caçar e, depois, produzir, acumular alimentos e agrupar-se em abrigos seguros para se reproduzir, a população humana passou dos milhares aos milhões e, hoje, aos bilhões. A expansão demográfica se fez com o sacrifício dos ecossistemas e da extinção gradativa da biodiversidade. Florestas foram abatidas, o solo fértil tornou-se árido (a aridez cobre três quartos das terras emersas do planeta – Atlas Mundial de la desertificación, EU - 2020), a escassez de água potável, em consequência, atinge países ricos e pobres. Dois bilhões de pessoas não têm água em suas casas e a busca a grandes distâncias. (PNUD/FAO).

 

A produção de alimentos, a intensa urbanização, a industrialização crescente, a poluição de rios, lagos e mares por produtos químicos, o aparecimento de doenças infecciosas, bactérias e vírus compõem um quadro de alerta a exigir mudanças de rumo urgente e constante. Como nunca, o princípio da precaução se impõe para o restabelecimento dos ecossistemas, da interdependência de todos os seres vivos e da sobrevivência da frágil espécie humana.

 

Para os interesses econômicos do sistema de produção e consumo de nossa época, uma grande população significa imensas possibilidades de diversificação de interesses, de iniciativas, de criatividade, de arte e especialmente de consumo da quase infinita variedade de bens úteis e supérfluos.

 

Nos modelos econômicos estabelecidos nos últimos 200 anos, uma das estratégias econômicas para manter o suprimento de bens de forma constante é garantir estoques reguladores de alimentos e outros bens de uso diário ou temporário diante da incerteza e medo do futuro. A espécie humana, entre todos os seres vivos, é a única que se preocupa com essa incerteza do amanhã. Esta prática e estas reservas armazenadas constituem um dos empecilhos estruturais à regeneração dos ecossistemas. A virada em direção à novas atitudes e comportamentos, de sorte a preservar os ecossistemas, necessariamente se beneficiará com a mudança cultural da espécie humana. Os “estoques reguladores” pesam sobre as atividades orgânicas da regeneração dos ecossistemas e estão relacionados ao aumento constante da população e do consumo diversificado e estimulado, sem atentar para o desperdício de bens produzidos com sacrifício da natureza, isto é, da própria espécie humana. Por ironia dos sistemas produtivos, estoca-se em câmaras frigorífica e grandes silos água evaporada. Armazenam-se erros técnicos e estratégicos para decisões futuras.

 

A população é, ao mesmo tempo, fator e causa do enriquecimento de uma parte dos agentes econômicos, mas também da indizivel pobreza, miséria e fome de bilhões de pessoas, vítimas da desigualdade, garantida pela ineficiente organização social e cultural da espécie humana. Ainda não se deu a devida importância para uma política de respeito às diferenças. Não é nas semelhanças nem nas desigualdades, mas é nas diferenças que está nossa igualdade humana.

 

População é um tema eivado de melindres econômicos, morais, religiosos e políticos. Uma forma de tratar o assunto é equilibrar o número de bocas com a quantidade de pão disponível. O instinto animal faz isso pela lei orgânica implícita na sobrevivência da espécie. (A fêmea do louva-deus come o macho depois da fecundação. As cobras não se reproduzem se não encontrarem comida.) O cérebro humano, diante da escassez e da limitação de bens do planeta pode encontrar alternativas para o uso racional dos itens disponíveis. Mas há limites na oferta do planeta. Minha posição ecológica é a de que uma população humana só pode aumentar até o ponto de equilíbrio. Segundo cálculos da década de 1970 (population bomb), o ponto de equilíbrio estaria em 3 bilhões de pessoas. O processo de regeneração dos ecossistemas seria mais eficaz para repor a oferta utilizada.

 

Hoje, estima-se que existam mais de 2 bilhões de pessoas em estado desumano e não há perspectivas de que sejam atendidas convenientemente, nos próximos 50 anos, pelos modelos atuais da economia.

 

Por vezes, decisões antiambientais, destruidoras de vastos ecossistemas, como o Cerrado e a Amazônia, demonstram desconhecimento, ausência de propostas racionais, falta de coragem, de compromisso e solidariedade para proteger a biodiversidade. O menosprezo da ética e do espírito público alimenta privilégios que deixam no abandono grande parte da população.

 

O conjunto de políticos, de partidos, líderes e congressistas representam uma estupenda mediocridade de pensamento político que o momento de nossa história humana requer. A postura mental de grande parte da atual classe política, em relação ao diálogo com a natureza, para estimular a boa convivência da população com os ecossistemas, cuja função múltipla é preservar a vida em todas as suas formas, é incompreensível. O alvo generalizado da classe política é a conquista do poder e a demonstração explícita da autoridade e das leis em seu favor.

 

Os interesses pessoais de grupos políticos se confundem com a ideologia, os planos e os programas de seus representantes e do próprio grupo. Os ajustes, as críticas, as estratégias, os resultados, os erros são criteriosamente apontados por renomados especialistas econômicos e analistas políticos de todos os matizes com o objetivo de preservar os conceitos e as práticas de cada programa partidário. Essas análises, constantemente veiculadas, são tão precisas quanto às de comentaristas esportivos.

 

Frente ao atual e grave conflito entre a organização social da espécie humana e a auto-organização dos ecossistemas há que se impulsionar a formação de uma consciência de mudança que se proponha a pacificar a economia, base das relações humanas com a natureza, com os ecossistemas locais, regionais, nacionais e planetários. Um dos aspectos importantes dessa mudança será reconhecer e aceitar a contenção rigorosa do crescimento da população mundial, em face das limitações de oferta de bens do planeta e o risco de extorquir dele o que ele não poderá dar, mesmo com a utilização da decantada tecnologia possível de ser empregada.

 

“Ao mesmo tempo, bilhões de seres vivos modificam a nebulosidade, a insolação, a temperatura, a composição química do ar. As árvores fazem baixar as temperaturas e subir as mínimas; diminuem a velocidade e a turbulência do vento; aumentam a umidade do ar e conformam solos que retêm mais umidade”. (Edgar Morin, O método: a natureza da natureza)

A MÃE NATUREZA

 

Ao longo de milênios, a espécie humana tornou-se insensível e, por vezes, torturadora da mãe terra. O homo sapiens tem formas, ideias e aparelhos eficientes para torturar a Terra e fazê-la responder o que não estava escrito em sua estrutura orgânica. A este sistema de tortura, os analistas, cientistas e economistas denominam produtividade. Qual é o resultado desse sistema de tortura produtiva da Terra, tão elogiado por seus atores? Essa terra, dizem os estatísticos, produzia 1.000 kg de trigo/ha, há dez anos. Com dez anos de extorsão, de desmatamento, de agrotóxicos, de mutação de sementes, de inseticidas, de uso de máquinas inclementes, a Terra respondeu com gritos de horror e terror com decantados cinco mil kg do cereal. Assim, ao lado da suposta fartura para todos, criaram-se desertos.

 

Interrompa-se, por 40 ou 50 anos, a tortura sobre uma área exaurida e o campo, hoje modificado pela produtividade impiedosa da soja ou da bovinocultura, se tornará o bosque antigo. O olho d’água voltará a chorar. Os pássaros virão cantar. As árvores limparão o ar. A alegria de viver iluminará as casas de nossos netos e bisnetos.

 

Quarenta anos é um tempo de pousio extraído da experiência pessoal no acompanhamento da regeneração do ecossistema de uma área degradada de Cerrado, no Distrito Federal. O ponto de não retorno foi superado entre 30 e 40 anos de pousio e das ajudas à mãe natureza, especialmente, e principalmente, com a captação e detenção das águas da chuva por meio da proteção vegetal e de barreiras de pedra e material ecológico. Alcançou-se deter três quartos do volume de chuva na área em regeneração. 

 

Para esta pequena área de 700.000 metros quadrados, o tempo se revelou adequado para evitar o ponto de não retorno. Cada ecossistema, e em cada bioma, diante dos efeitos da longa e intensa exploração, o tempo será diferente. Carlos Nobre (Amazônia) afirma que, nesse bioma, o ponto de não retorno já foi superado. Precisaria fechar a Amazônia para os invasores econômicos e usá-la com a prudência milenar dos nativos. O tempo de regeneração para o planeta, agora, se estima em séculos.

 

O RUMO

 

O rumo da virada política na busca da paz econômica com os ecossistemas é aprofundar o conhecimento da natureza, de suas leis, de seu funcionamento, de sua capacidade de regeneração no tempo, para repor as energias gastas na sustentação da biodiversidade. O tempo da natureza não é o tempo da economia exploradora dos bens disponíveis.

 

Há que se aprimorar de forma contínua a percepção da dialética dos ecossistemas, de sua necessidade de descanso, de restauração e dar tempo à regeneração orgânica e repor os bens requeridos pelas espécies vivas. O segredo da regeneração e da oferta de bens está no inteligente equilíbrio diante da intensidade do uso que a biodiversidade requer.

 

O conjunto de vidas dos ecossistemas a ser preservado é imprescindível para todas as espécies e, de modo especial, para a espécie humana. O controle das decisões será determinado pelo desenho global da regeneração dos ecossistemas. Não apenas por leis humanas e jurídicas da organização social, mas por comportamento cultural advindo do conhecimento e do instinto de sobrevivência de cada espécie.

 

Quando se menciona o processo imanente de regeneração da natureza, inclui-se a globalidade dos seres vivos que sugam as fontes de vida de forma interativa e interdependente, bem como as individualidades de cada espécie vegetal e animal. Portanto, nesse processo de regeneração global está incluído o homem, o ser humano, o homo sapiens. É a única individualidade que precisa se comprometer conscientemente na regeneração cultural frente às vicissitudes de sua organização social. Todos os seres vivos, a natureza viva, os ecossistemas têm como elementos físicos essenciais da regeneração a água e o oxigênio.

 

Não serão o capitalismo, nem o liberalismo, nem o socialismo, com suas políticas econômicas temporárias, que hão de determinar as condições de uso e as formas de comportamento cultural para a apropriação das riquezas comuns do planeta. A principal riqueza do planeta é a vida. E a manutenção da vida engloba a pluralidade das diferentes espécies: a biodiversidade. É a natureza, geradora da vida, que dará os limites da sobrevivência e da reprodução dos seres vivos. A espécie humana não está excluída desses limites.

 

PACTO SOLIDÁRIO

 

O candidato eleito para representar o povo na administração do Estado poderá ser escolhido entre os componentes do grupo à direita, à esquerda ou ao centro. Sua liderança teria a força de propor aos apoiadores, antes de obter a maioria dos votos, um pacto de solidariedade para conceber uma proposta de governo capaz de interessar medianamente os dirigentes de todos os estados da federação. Escolhido pelo colégio eleitoral, o eleito proporia um pacto de solidariedade com governadores, associação de municípios, organizações associativas, comunitárias, ambientais, empresas econômicas de diferentes áreas produtivas com o fim de tomar decisões previstas na plataforma de governo.

 

Previamente, a plataforma deve ter despertado o interesse de muitos países e, com certeza, a crítica de outros. A força da plataforma, com apoio de outros países, deveria dar ao novo presidente do Brasil a coragem de ir a Davos para dizer, com convicção, aos chefes dos países reunidos, diante da calamidade econômica do planeta: SENHORES, ESTAMOS ERRADOS!

 

O ponto, o alvo desse grito, respeitadas as diferenças culturais, será a desigualdade entre países e, em todos os países, entre regiões e grupos que enfrentam a pobreza, a miséria, a exclusão.

 O termo desigualdade vem sendo confundido com diversidade, diferenças biológicas e culturais e com os diferentes numa sociedade ou espécies vivas. Desigualdade é uma consequência, não uma causa, pelo fato de o homo sapiens não aceitar ainda a diversidade, as diferenças ou os diferentes: gênero, cor, religião, expressão cultural na arte, na música, na literatura, no vestir, no falar.

Quando não se aceitam as diferenças e os diferentes, os comportamentos tendem a tratar os países e as pessoas diferentes de maneira desigual. A desigualdade socioespacial é uma consequência que se origina da mesma causa. A causa da desigualdade é não dar aos diferentes as mesmas oportunidades de ser o que eles essencialmente são. Seremos essencialmente iguais, quando preservadas as diferenças biológicas e culturais.

A decisão sobre os primeiros passos na direção de uma nova economia ecológica – a bioeconomia – será baseada, fundamentalmente, no conhecimento mais amplo e profundo das leis básicas dos ecossistemas nas diferentes regiões de cada país. As estratégias de ação devem dirigir-se diretamente, e com sua participação, aos que vivem e usam diretamente os benefícios desses ambientes: na agricultura (controle das águas e florestas), na urbanização (habitação, mobilidade, controle do lixo seco e líquido), na industrialização, transformação e distribuição dos bens produzidos. O estímulo à geração de novos empreendimentos apontaria para aprofundar os conhecimentos científicos sobre a natureza, a saúde ambiental para todos os seres vivos, e o uso ecológico dos bens disponíveis e escassos do planeta.

 

Um dos esteios essenciais desta plataforma é a educação para a virada econômica, desde a creche até a pós-graduação, orientada para o conhecimento dos ecossistemas, o uso dos bens limitados e o tempo necessário à regeneração das áreas ocupadas, trabalhadas e habitadas.

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FONTES DE APOIO

 

Abramovay, Ricardo, Amazônia – Por uma economia do conhecimento da natureza, 2020.

Morello,T. Desmatamento e desenvolvimento, Brasília, 2019.

Nobre, Carlos, Land-use & climate change risks, 2019.

Reinach, F. Engenharia ecológica chinesa, SP, 2018.

Porto Gonçálves, Carlos W. Os (des)caminhos do meio ambiente, Contexto, 1998.

Wahl, Daniel C. Design de culturas regenerativas. Bambual, Brasília, 2019.

Morin, Edgar, O enigma do Homem, Zahar, Rio de Janeiro, 1979.

SANTOS, M. O Espaço dividido, edusp, São Pualo, 2008

23.3.2021

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