segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

ÁRVORE CORTADA



ÁRVORE CORTADA


                   I
Família de longa história
Séculos e milênios sem memória
Viveram cercados de amigos
Enfrentaram juntos tantos perigos
Ventos glaciais, tempestades,
Raios, tornados em quantidades.

                   II

Ouço o ronco esganiçado
E um ruído surdo estrangulado.
Caiu, na rua, estraçalhado,
Um velho jatobá ramificado.
De dia abraçava o Sol
De noite namorava estrelas.
Era para os pássaros um farol.

                   III

Quando vi cair a árvore indefesa
E lenhadores, como abutres, sobre a presa
Arrancando pedaços do corpo em sangue.
Prostrado ficou o lenho quase exangue.
Travei a respiração no esófago
Senti uma punhalada no fígado,
O pâncreas revoltou o estômago.
A palavra emudeceu nos lábios
Os olhos se encheram de lágrimas.
Senti nos braços o fio da motosserra.
Meu cérebro  desvaneceu.
Envergonharam-me os gritos e as risadas
Dos podadores que esquartejavam
A  árvore ainda derramando
A seiva adocicada das raízes.
Mataram o jatobá. Sem pena.
As árvores, lenhadores e podadores,
Abominam a vida urbanizada
Barulhenta de dia, de noite iluminada.
Preferem o bosque original,
Reclamam o direito à noite escura,
Ao silêncio reparador e  à água pura.

 17.2.2019


Nenhum comentário: