ÁRVORE CORTADA
I
Família de longa história
Séculos e milênios sem memória
Viveram cercados de amigos
Enfrentaram juntos tantos perigos
Ventos glaciais, tempestades,
Raios, tornados em quantidades.
II
Ouço o ronco esganiçado
E um ruído surdo estrangulado.
Caiu, na rua, estraçalhado,
Um velho jatobá ramificado.
De dia abraçava o Sol
De noite namorava estrelas.
Era para os pássaros um farol.
III
Quando vi cair a árvore indefesa
E lenhadores, como abutres, sobre a
presa
Arrancando pedaços do corpo em sangue.
Prostrado ficou o lenho quase exangue.
Travei a respiração no esófago
Senti uma punhalada no fígado,
O pâncreas revoltou o estômago.
A palavra emudeceu nos lábios
Os olhos se encheram de lágrimas.
Senti nos braços o fio da motosserra.
Meu cérebro desvaneceu.
Envergonharam-me os gritos e as
risadas
Dos podadores que esquartejavam
A
árvore ainda derramando
A seiva adocicada das raízes.
Mataram o jatobá. Sem pena.
As árvores, lenhadores e podadores,
Abominam a vida urbanizada
Barulhenta de dia, de noite iluminada.
Preferem o bosque original,
Reclamam o direito à noite escura,
Ao silêncio reparador e à água pura.
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