terça-feira, 12 de maio de 2009

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E NOVELAS

A administração pública tem algo em comum com a técnica de elaboração de novelas. Precedidas por anúncios convincentes e frases de efeito publicitário, algumas cenas da novela em projeto são exibidas em forma relâmpago para apresentar os atores e atrizes que, no curso dos capítulos, se beijarão, trairão ou odiarão.
No dia fixado, o início da novela é feito com grande encenação e nem sempre gera interesse imediato ou compulsa a expectativa do telespectador. No dia seguinte, o IBOPE oferece ao autor da novela os índices de audiência e as primeiras impressões que indicam o rumo das expectativas de milhões de assistentes. Depois da primeira semana, as duplas já estabelecidas se veem cercadas por jovens sedutoras ou são vítimas de maldades imprevistas que imitam a vida real. O Ibope recolhe diariamente as opiniões e as tendências do telespectador para orientar o rumo dos comportamentos dos atores e a cabeça do autor da novela.
Quem casa com quem, quem se vinga de quem, quem sai de cena ou morre, quem é premiado com a bela esquecida e sofrida, quem rouba a quem, quem deve ser mau ou bom do princípio ao fim. As tendências tomam o lugar do plano original e difuso que o autor concebeu. Mas o autor sabe que o sucesso da novela depende do assistente que está ali todos os dias para cobrar o que ele deseja ver e desfrutar do desfecho a que está preparado.
Os administradores públicos, legisladores e funcionários imitam, na prática das decisões, o autor de novela. Precisam de bons pontos do Ibope e têm que acompanhar as tendências dos cidadãos, mesmo que estes exijam o abate de centenas de árvores para dar passagem ao carro sedutor. Os planos de governo não se guiam por eixos essenciais, mas por tendências que se tornam necessidades imediatas dos expectadores de sua atuação.
Esse método de projetar está expresso em artigo publicado no CB – O futuro de Brasília – pelo engenheiro eletricista José Roberto Arruda, atual governador do DF: “Depois da aprovação do Pdot, o desafio é criar os eixos de crescimento da cidade, onde o adensamento urbano é desejável. Enquanto trabalhávamos pela aprovação do Pdot, estávamos numa outra frente e, com financiamentos e assessoria do BID, preparando os projetos de engenharia para a definição e construção desses eixos. Eles são, basicamente, três, definidos por sistemas viários...”.
Educação, meio ambiente saudável, transporte simples e inteligente para a trama das relações humanas ainda não inspiram as tendências do cidadão e ainda não figuram como necessidades essenciais à vida e à convivência pacífica e criativa entre as pessoas. Por isso, não são prioridades de governos. São apenas figurantes transitórios. As novelas acabam e, as administrações, também.

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