segunda-feira, 27 de outubro de 2025

CERRADO – DESMATAMENTO - DEFAUNAÇÃO

 CERRADO – DESMATAMENTO - DEFAUNAÇÃO

Há 525 anos, os banhistas originários do Paralelo-15, perambulando pelas areias quentes da costa atlântica, se surpreenderam com estranhas caravelas, vindas de um mundo desconhecido. Depois da grande transformação do planeta, há estimados 65 milhões de anos, o Cerrado, nas terras do Planalto Central, no coração do futuro Brasil, começou sua caminhada e se tornou a caixa d´água de nossos grandes rios que irrigam as seis regiões do país. Os primeiros seres humanos, nossos habitantes originários das florestas e águas denominadas Amazônia, acamparam ali, com arcos e flechas, há mais de 30 mil anos, segundo os vestígios culturais recentemente desenterrados.

Em apenas cinco séculos, os povos da Europa, com novas filosofias e perturbadoras teologias, armas explosivas, doenças contagiosas e fogo avassalador, empurraram os habitantes originais da costa brasileira aos confins da selva sem possibilidade de regresso. Foi o maior, mais cruel e mais avassalador ¨tarifaço cultural¨ contra povos, sua organização social, seus idiomas, sua filosofia de vida, suas crenças e sua soberania. Há 40 mil anos, o homo sapiens tomou as terras dos Neandertais e os enterrou nas cavernas do Neander, Alemanha, de Lascaux, França, de Atapuerca, Burgos/Espanha e Gibraltar/Portugal.

A tecnologia moderna, a Inteligência Artificial e as Terras Raras, seguindo as lições da história, nos previsíveis 40 anos, apagarão a história milenar das culturas e habitantes que honram as águas e as florestas da fulgurante natureza brasileira.

Os sinais dessa fatal desaparição de nossos predecessores originais deste imenso país são visíveis no rosto do Cerrado. O bioma Cerrado, que me acolheu há 53 anos, me ensinou a gramática, o idioma e a inteligência ambiental. Em 40 anos, o antigo Cerrado será conhecido como Deserto Agro-Urbano do Planalto Central do Brasil.

Os aquíferos Araxá, Paranoá, Bambuí e Urucuia, secarão como o Guarani e o Alter do Chão, não terão força para abastecer Águas Emendadas. A Caixa d´Água do Brasil estará no livro de memórias da história natural.

A agonia lenta do Cerrado é provocada por práticas destruidoras e desertificadoras.  Queimadas persistentes e impermeabilização rígida do solo, com quilômetros de vias asfaltadas e milhares de prédios imponentes expulsam da cidade bilhões de metros cúbicos de águas gratuitas das chuvas anuais. Sem florestas nativas, sem alimentação diversificada, com nascentes e córregos secos, determina-se o fenômeno da defaunação ou desaparecimento de milhares de seres vivos não humanos ─ empobrecimento da biodiversidade original, morte ou desterro de grandes, médios e pequenos animais, o silêncio da majestosa coleção de aves diurnas e noturnas.

Devo, em nome de todas as vidas da Biocomunidade Sítio Neves - primeira Reserva do Patrimônio Nacional do Distrito Federal, declarada em 2023 – agradecer à família dos cinco sobreviventes da família Macacos-prego-negrito (Sapajus Negritus), por terem semeado mais de cem Palmitos às margens do Córrego da Mata Azul de águas cristalinas.

 Imagem: A irregularidade das chuvas é consequência de mudanças climáticas a serem enfrentadas com sabedoria. Chuvas de outubro 2024 X 2025. 

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TOTAL

177,2

25,9

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

A COP/30 E O CERRADO

 

A COP/30 E O CERRADO
Convivo com o Cerrado, berço das águas, há 52 anos. Sobre ele se erguem cidades, rodovias, campos de soja, pastagens de gado, desviam-se rios, cobrem-se fontes de água, empobrece-se a biodiversidade vegetal e animal. O Cerrado sofre de hemorragia incontrolada e o sangramento é visível em todos os ecossistemas do generoso bioma. O estado de palidez é emergencial e demanda atenção ecológica imediata. “O Cerrado tem pressa”, escreveu o
engenheiro florestal CESAR VICTOR DO ESPÍRITO SANTO. Diante de tudo o que se ouve e vê, fica a impressão de que o Cerrado não faz parte do Ministério do Meio Ambiente. Entre 2019 e 2025, segundo fontes preliminares do Prodes/Inpe, foram desmatados cerca de 15 mil km2 de Cerrado, três vezes o tamanho do Distrito Federal. O Cerrado já perdeu a potência de 1.100.000 km2. Se a COP/30 ficar apenas em Belém e na Foz do Amazonas, a caixa d´água do Cerrado cobrará a conta nos próximos cinco anos. As chuvas atrasadas, deste ano 2025, absorvidas por queimadas, campos desnudos de soja, impermeabilização das cidades do Planalto Central e a invasão de poços artesianos levarão mais de 10 anos para chegar aos aquíferos. Neste período longo de estiagem, que ainda não acabou, muitas nascentes diminuíram drasticamente a vazão ou secaram. As águas dos pequenos córregos se esconderam na areia e submergiram. Os biomas do Brasil não são independentes. Eles se comunicam e se complementam. A destruição do Cerrado é a catástrofe para oito das extensas bacias fluviais do Brasil. As águas do Cerrado sao EEMENDADAS.
Imagem: A função da vegetação nativa é reter as águas da chuva e facilitar sua infiltração e percolação até os lagos interiores ou aquíferos. (Biocomunidade Sítio Neves, DF. Foto: Eugenio Giovenardi)