Entro numa farmácia para comprar um medicamento controlado.
Farmácia também vende crédito para telefone pré-pago. Na Colômbia,
drogarias vendem bebidas alcoólicas. Também são drogas.
O atendente voltou com o remédio solicitado. Antes que pudesse me
perguntar se era só isso que eu queria, uma senhora entre 40 e 45 anos, da nova
classe média, se antecipou com um telefone supermoderno na mão.
– Pode me botar dez reais de crédito? – disse oferecendo o aparelho ao
atendente.
O moço, sozinho no balcão, apresentou a máquina Cielo à senhora e lhe pediu que compusesse o número. Ela compôs, lentamente,
sem o indicativo de Brasília e a máquina não o reconheceu: número inválido.
O atendente lhe pediu que refizesse a operação e começasse com o
indicativo 61. Irritada, a senhora, do alto de sua tecnologia celular,
repreendeu o moço.
– Por que você mesmo não põe o número. Você está aqui para quê?
A senhora deve ter ouvido essa pergunta muitas vezes no curso da
escravidão.
Ela tinha todos os sinais de que fora escrava até dias antes de
comprar ou ganhar o telefone celular. Agora, estava um degrau acima, graças ao
telefone e passara automaticamente para a categoria de senhora. O atendente
desconhecido passou a ser um anônimo serviçal. Está aí para quê?
Não há prazer maior, ainda que mesquinho, do que ser servido por um
subordinado ou escravo.
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