Nestes dias, o relatório das mudanças climáticas
deveria produzir o impacto de um terremoto. Estamos vivendo a mudança climática
em várias regiões do nosso país. Chuvas diluvianas no Norte. Escassez de água no
Sudeste com ênfase na grande São Paulo.
Os especialistas se detêm no atraso das chuvas e no
alto consumo de água que esgotou a represa Cantareira, tida como reserva
controladora do abastecimento, diante de instabilidades pluviais.
Regular, racionalizar e até racionar o consumo são
medidas em perspectiva que assustam os administradores e políticos sob a mira
de reações populares em época de eleições.
Chegamos atrasados em todas as medidas e análises
referentes à água. Os pontos irreversíveis que provocaram a escassez de água
são clamorosos e de difícil solução.
A ocupação desordenada e descontrolada das áreas
adjacentes aos mananciais provocou a derrubada da vegetação natural. A
diversidade e a densidade vegetal nas encostas e vales captavam e detinham as águas
da chuva, alimentavam e protegiam os mananciais existentes na serra.
A urbanização mudou o ambiente. Influiu nos índices de
umidade e na direção dos ventos. Impermeabilizou o solo e redirecionou o curso
das águas. A cidade de São Paulo continua sendo inundada por qualquer chuva
mediana.
A preocupação maior dos administradores e
especialistas é com o consumo de água de 20 milhões de habitantes empilhados
numa área relativamente exígua.
Falta levar à prática, e já é tarde, estudos e
projetos de captação, armazenamento e intercomunicação de reservatórios. A
extensão e a densidade da ocupação urbana não podem ser obstáculos insuperáveis
para uma captação inteligente de águas pluviais.
Investem-se imensos recursos monetários e com
indiscutível velocidade para construir estádios de futebol sob a nova
denominação romana de arenas.
Com respeito às águas, orgulha-se a administração do
país de erguer enormes e desafiadoras estruturas de contenção de águas rio
abaixo. Poucos olham rio acima para descobrir que os grandes rios nascem de um
olho d’água atacado de cegueira.
Água não pode ser dissociada do superpovoamento e da vegetação
intensa necessária, especialmente nas encostas e vales, para proteger os
mananciais.
Nas cidades, a preocupação maior da administração
inteligente deveria ser, como em Tóquio, captar as águas da chuva em galerias
subterrâneas e em canais alimentadores de represas.
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