Aquíferos, lençol freático, mares interiores, como os
denomina Euclides da Cunha (Os sertões), são reservas de água limpa pela
profundidade em que se encontram, mas ameaçadas pela variedade de elementos
poluidores que a ação humana pode lançar ao solo. O período chuvoso no Centro-Oeste é a época de acumular com inteligência as águas que a natureza gratuitamente oferece.
Os aquíferos compõem um sistema subterrâneo que se
comunica com os oceanos e com a superfície por meio de olhos d’água. Numa
microbacia hídrica pode haver um ou mais olhos d’água que brotam da mesma
reserva subterrânea. As águas subterrâneas se comunicam através dos veios das
rochas e sua erupção se faz em lugares distintos segundo a conformação
geológica.
Para a recarga dessa reserva é mais eficiente uma ação
de preservação em todas as nascentes que se ligam ao aquífero. O sistema
subterrâneo sugere um sistema coerente na superfície. O mapeamento das
nascentes e canais de esgotamento de águas pluviais é necessário para que todos
esses pontos cooperem ao mesmo tempo para captar e deter o volume de
precipitação durante o período de chuvas.
O mapeamento das nascentes e canais de esgotamento é
uma ação necessária que precede o planejamento das barragens e sua localização.
O planejamento obedece ao sistema subterrâneo do aquífero e à ordem de baixo
para cima. A captação e detenção da água da chuva se fazem em toda a extensão
das águas subterrâneas a partir das nascentes. O sistema de barragens de
captação e detenção que implantei no Sítio das Neves (700.000 m2) cobre
toda a área hídrica na qual, no período chuvoso, brotam nascentes. A construção
de barragens ou açudes não deve ser aleatória no sentido de acumular água para
necessidades produtivas ou de uso doméstico. Fazer açudes, poços tubulares ou artesianos
em qualquer lugar, sem atentar para o sistema subterrâneo do lençol freático
tem as desvantagens de exaurir as reservas, de acumular uma mínima parte da
precipitação e favorecer a evaporação da água exposta a horas de sol.
A acumulação de águas da chuva, especialmente em
regiões de longas estiagens, três a seis meses, tem a função de regenerar a
vegetação nativa e facilitar a infiltração e a percolação que realimentam os
aquíferos.
A quantidade de água que aflora nas nascentes não é
homogênea. Umas nascentes são ou podem ser mais volumosas do que outras. Umas jorram
por mais tempo mesmo após o término das chuvas. Outras cessam com um curto
período de estiagem. É possível reviver uma nascente que se esgotou por
degradação do solo, por efeito de queimadas ou processos produtivos
inadequados. Há que se criar condições para que uma nascente reviva: devolver a
quietude à área devastada, construir barragens ao longo do curso de água, dar
tempo à regeneração vegetal. A Vertente do Meio em meu Sítio começou a reviver
depois de uma década e meia de cuidados e paciência.
A água da chuva e a que jorra das nascentes são
captadas e retidas ao longo do curso d’água e nos canais de drenagem (grotas)
que se formaram há milhares de anos. Corrige-se com as barragens a erosão
milenar. Detêm-se volumes de água em toda a extensão da área. A umidade que se alastra
no solo favorece a regeneração e a reprodução vegetal contínuas em todo o
espaço.
A cadeia água, vegetação, aves e animais terrestres se
expande. A biodiversidade garante a sobrevivência e a reprodução das espécies
na biocomunidade preservando a lei biológica da interdependência dos seres
vivos do bioma.
A precipitação de apenas um milímetro significa, para
o Sítio das Neves, um volume de 700.000 litros de água limpa. Ao contrário de
áreas vizinhas degradadas, esses 700 metros cúbicos de água se armazenam na vegetação.
A vegetação é uma das principais barragens de captação e detenção da água da
chuva. Infelizmente, quase nenhuma atenção se dá a ela e, com a maior
indiferença e ignorância, queima-se ou arrasa-se o solo com gigantescas rodas e
pesados discos de tratores.
_________
Meus novos livros: SUTILEZAS DO COTIDIANO e ECOLOGIA --
catecismo da austeridade ou nova forma de prosperidade - estão disponíveis aos
interessados. Peça por telefone e indique o endereço. 61 3443 7363 ou 61 9981
2807. Correio eletrônico: eugeniogiovenardi@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário