A família de dona Lúcia, moradora de bairro
paulistano, até ontem, gastava 2.400 litros de água por dia. Refrescava
varandas da casa, dava banhos às crianças esfogueadas pelo calor. Enchia
piscinas infláveis e regava as plantas e as flores.
Teve que reduzir o consumo diante da escassez e pôde
reduzi-lo a 240 litros diários sem morrer. A escassez de água bateu à porta de
milhares ou milhões de cidadãos paulistas e mineiros.
Os grandes rios e lagos do continente brasileiro são
motivo de orgulho e ufanismo. O Brasil guarda ao redor de 12% da água doce do
planeta. Outros países se contentam com escassos 50 litros diários por pessoa.
Dependendo do país, esses 50 litros se dividem entre os membros de toda a família.
Diante de tanta abundância em nosso país, a última
preocupação do brasileiro é poupar água. Lavam-se calçadas e automóveis.
Enchem-se, em Brasília, milhares de piscinas particulares. A rede de água nos
edifícios públicos, nas casas e apartamentos oferece inesgotável volume de água
com a débil restrição de uma conta mensal. A água goteja sem parar nos
chuveiros, no vaso, na pia, no lavabo, nas torneiras espalhadas pelos
condomínios.
Continuamos sendo o país com milhares de km3
de água doce, cujo volume ninguém calcula por ser da ordem dos bilhões de
metros cúbicos. Ao mesmo tempo, o racionamento, em várias cidades de São Paulo
e Minas Gerais, se impõe pela natureza e não por atos governamentais de
sabedoria e prudência política. Por quê?
Sabemos cosumir água. Não sabemos ou não acordamos
para as técnicas simples e milenares de produzir água. Quarenta anos de
cuidados com as nascentes de meu Sítio das Neves, no DF, ensinaram-me a
produzir água.
Os governos, inspirados pela megalomania das gigantescas
represas, investem rio abaixo. No meu Sítio, eu invisto rio acima protengendo com
pequenas barragens as nascentes que formam os grandes rios e abastecem as
imensas represas.
Na longa estiagem de janeiro e fevereiro, mais de 20
dias, com menos da metade da precipitação esperada para esses meses as águas
fluem vindas de aquíferos profundos e sistematicamente recarregados.
Em São Paulo e Minas Gerais, o desmatamento, a invasão
das áreas protetoras das nascentes, a impermeabilização do solo, o desvio dos
fluxos de água e da direção dos ventos mataram as fontes e destruíram as
barragens naturais de captação e de detenção das águas da chuva.
Para onde foram as águas que alagaram São Paulo e
muitas cidades de Minas Gerais? Para onde foram as águas da chuva que arrasaram
cidades pacatas do Vale da Ribeira?
Atrevo-me a dar um conselho gratuito aos sábios
administradores do orçamento construído com dinheiro alheio: estimulem e
aprovem pequenos projetos de produção de água rio acima para garantir a
eficácia dos megaprojetos rio abaixo.
Difícil é convencer organismos públicos a financiar ou
subsidiar pequenos e baratos projetos que garantirão o abastecimento de água
aos cidadãos sem espasmos administrativos.
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