Foto: Transporte de massa!
A informação de que parte dos cidadãos mais ricos de São Paulo deixa o automóvel em casa e entra num ônibus confortável, para ir a seu escritório, foi dada como alvíssaras de mudança.
O motivo da opção escolhida por esses novos
passageiros ou usuários da mobilidade – outrora dita transporte público – foi o
menor tempo gasto no trajeto. Outros detalhes foram menos destacados:
possibilidade de leitura durante a viagem, conversa demorada ao celular e até
um cochilo.
Lembre-se que os mais ricos sempre tiveram opções de
transporte dignas de sua condição de condutores da economia. Usavam o auto,
enquanto a maioria enfrentava o bonde puxado por bestas. Eles embarcavam em
aviões e os outros em ônibus pinga-pinga ou em trens sonolentos.
Vieram, depois, os “frescões”, os helicópteros, enquanto
os trabalhadores comuns superlotavam os trens de subúrbio. Agora, cansados de
engarrafamentos, os ricos usam as linhas expressas de ônibus modernos para
ganhar tempo que é dinheiro.
Para a grande maioria sobra o transporte de massa.
Massa de pão. Massa de macarrão. Só se percebe a massa quando desce dos vagões
do metrô transformada em talharins humanos. Os menos ricos foram iludidos a
adquirir seu automóvel para ajudar a economia do PIB a crescer. Cansados de ser
massa de pão, eles preferem gastar duas horas no engarrafamento a três na
máquina de macarrão. Tempo, aqui, não é dinheiro como lá.
O motivo ecológico, único a dar dignidade à
convivência humana passou ao largo. A desigualdade funcional consolidada na
vida social e política encontra, a seu tempo, as formas de distinguir quem é
quem. O número de automóveis e a emissão de gases de efeito estufa aumentaram.
Trocou-se apenas o patrocinador dos engarrafamentos. O
que antes era comandado pelos ricos de cima para baixo, hoje, o é de baixo para
cima pelos desiludidos do transporte público.
17.3.14
Nota: Sou ecossociólogo, naturalista e escritor.
Administro uma área liberada da opressão industrial e da tirania do consumo
obsessivo. Reserva natural de cerrado de 70 hectares (Sítio das Neves) para
refúgio de variada fauna de ar e terra, reprodução espontânea da flora nativa
(3.500 espécies), proteção de nascentes e recarga de aquíferos com captação e
retenção de águas pluviais. Estudo a ocupação do espaço e a organização de algumas
espécies da biocomunidade (mangabeiras, caliandras e catolé).
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