Ao redor da mesa, os leitores olhavam-se, sorriam,
pensavam em voz alta. Éramos oito. No meio deles, via-me pequeno, feliz, com
uma pontinha de inveja. Eles expressavam pensamentos surpreendentes com poucas
palavras. E esses pensamentos, extraídos da experiência individual, de
histórias, de fatos, de conquistas da mente, de decepções, de esperanças,
enchiam livros.
Meus convidados presentearam livros uns aos outros.
Cada um de nós tinha sob os olhos a alma inteira desses amigos que distribuíam suas
palavras a leitores desconhecidos. Na ponta da mesa, estava Clarice Lispector
ao lado de Oscar Wilde, depois Graciliano Ramos, Hannah Arendt, Carl Sagan, Marguerite
Yourcenar, Oswald de Andrade.
– São
bilhões e bilhões de astros, galáxias, estrelas e de seres vivos, disse Carl
Sagan para espanto de todos.
– O
desespero é atitude digna e sinal de inteligência diante do que é desconhecido,
refletiu Hannah Arendt.
– E
todas aquelas pessoas se reconhecem pelos remendos, pela roupa suja, pela
imprevidência, pela alegria, acrescentou Graciliano Ramos com uma pitada de
angústia.
– A
eternidade, o que é? A mesma coisa de outra forma, revelou Marguerite Yourcenar
com sorriso indefinido.
– Somos
uma raça anã teimosa que um dia vai talvez reivindicar o direito ao grito. Será
a hora da estrela desconhecida, sussurrou Clarice Lispector olhando para Carl
Sagan.
– No
silêncio tique-taque da sala de jantar, informei mamãe que não havia Deus
porque Deus era a natureza, contou Oswald de Andrade.
– Viver
pelo prazer! Nada envelhece tão bem quanto a felicidade, disse Oscar Wilde.
Da esquina da mesa, lembrando que a “felicidade se
acha em horinhas de descuido”, mudo e atônito, olhei para aqueles rostos
brilhantes e desejei estar com eles na eternidade.
2/12/2012
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