Ciclovias para quê? Ciclovias para quem?
Quem são os ciclistas de Brasília? Quantos são? Para
onde pedalam? Para onde vão e por quê?
Desde que o Eixo Rodoviário, também chamado Eixão (18
quilômetros de extensão), que risca a cidade de Sul a Norte, foi restrito, nos
domingos e feriados, aos pedestres, ciclistas, esqueitistas e patinadores,
muitos brasilienses aderiram ao ciclismo como esporte semanal.
Funcionários públicos e de empresas privadas, de
ministérios e autarquias, bancos e hotéis, de músculos embotados pelo
sedentarismo semanal se encontrariam no Eixão aos domingos e feriados, antes de
ir aos clubes assar carnes, comer pastéis e beber cerveja.
O que é que o Plano Piloto tem? Tem ciclovias? Por que
Sobradinho não tem? Por que o Lago Sul não tem? Por que Taguatinga e Ceilândia
não têm? A pergunta virou bandeira política. Promessa de campanha de todos os
candidatos ao governo distrital. Justificou-se.
A planura de Brasília é adequada à bicicleta como
alternativa de transporte.
O exercício físico colabora com a saúde mental, relaxa
os músculos, retarda o envelhecimento do corpo.
O uso da bicicleta é ambientalmente correto e
necessário. Reduz drasticamente a emissão de poluentes na cidade.
Diminui os espaços de estacionamento perto de prédios
e estimula o plantio de árvores em torno deles.
O custo da bicicleta é menor do que os requeridos para
manter um carro em circulação.
A primeira estimativa, além da manutenção do Eixão
como recreio ciclista, entremeada de ameaças de extinção, anunciava a
construção de mais 10 quilômetros de ciclovias. A extensão delas aumentou com o
advento festejado do milionésimo automóvel para 250 quilômetros. Neste ano de
2012, a meta foi erguida para 600 quilômetros disseminada em todo o Distrito
Federal.
Quem é contra a ciclovia? Quase ninguém. Quem defende
as ciclovias? Quase todos.
Quantos usam as ciclovias para divertimento saudável?
Não sei, mas pressuponho que muitos aos domingos e fins de tarde no horário de
verão.
Quantos usam a ciclovia como alternativa de transporte
para chegar ao local de trabalho? Os institutos de pesquisa, os ambientalistas,
as empresas contratadas para abrir ciclovias poderiam nos dizer.
Minha diarista não vem de Valparaíso ao Plano Piloto
em bicicleta. Enfrenta duas horas e meia de ônibus para vencer escassos 40
quilômetros.
Os governadores que prometeram ampliar a quilometragem
de ciclovias vêm a seus gabinetes de carro oficial ou helicóptero. Os deputados
distritais que aprovaram os orçamentos para ciclovias acabam de renovar a frota
de carros flex “ecológicos”. Os deputados federais e senadores da república,
grande número deles acima do peso ideal, não são vistas rodando de bicicleta
pela Esplanada.
Ministras e ministros não saem de suas mansões do Lago
a bordo de suas bicicletas para dar testemunho das convicções do governo em
defesa do ambiente.
Quantos dos mais de 300 mil cidadãos, que vem ao Plano
Piloto ou nele estão para defender o pão de cada dia, se decidirão a pedalar
pelas amplas vias de nosso Patrimônio Cultural da Humanidade?
Tenho bons amigos, defensores das ciclovias, com irrefutáveis
argumentos para estar a bordo de carros automáticos que saíram das garras dos
tigres asiáticos.
Sobram 600 quilômetros de ciclovias. Faltam ciclistas.
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