ARITMÉTICA DA ÁGUA
(Foto: Eugênio Giovenardi, Sítio das Neves)
A água é necessária para assegurar a sobrevivência e a reprodução de
todos os seres vivos do planeta. Para compreender a importância da água para
todos os seres vivos, convém ater-se a algumas realidades do dia a dia. A fila
da água é longa. O único ser vivo que desperdiça água pertence à espécie
humana. Nenhum outro ser vivo desperdiça água.
No Brasil, há muita água onde não
há gente e muita gente onde a água é escassa.
1ª. REALIDADE:
A
fila da água.
Não é só a espécie
humana que precisa de água.
Quando se fala
em água, a torneira, a geladeira, o chuveiro, o vaso sanitário, a cozinha, a
máquina de lavar, o asseio da casa, o lava-jato são preocupações da espécie
humana.
Quando falta
água, a gente lembra da represa vazia, volume morto, chuvas, racionamento,
rodízio, torneira seca. Surgem alternativas, soluções individuais,
estratagemas, reuso.
- Uma pessoa
leva no corpo 70% de água. (pessoa de 60 kg leva 42 l de água). Mais da metade
de nosso corpo é água.
- Uma árvore
de 1.000 kg pode conter 1.000 litros, volume igual a 100% do peso.
- Um animal de
400 kg contém 280 litros, suficiente para abastecer 2 pessoas num dia.
- Uma pessoa
requer 110 l/dia como volume ideal (OMS)
- Um bovino
que, ao longo de 4 anos, alcança 300 kg, consumiu 4.5 milhões de litros, média
de 3.082 por dia, contando o desgaste ambiental para sua reprodução. 212
milhões é a população bovina no Brasil.
Esses bilhões
de litros de água que bilhões de pessoas, bilhões de animais e bilhões de
plantas carregam em seus corpos, chama-se consumo
consuntivo e não estarão disponíveis para encher represas, nem voltam com a
chuva. É como comer uma laranja. Acaba e não volta para a laranjeira. A gente
tira da conta da água e não repõe. Só a chuva e o degelo podem repor.
Não se tem
notícia de que, no país, alguém morreu de sede. Mas como não estamos sozinhos
na fila, no NE, centenas de animais morrem por falta de água.
A espécie
humana é o único ser vivo que seca nascentes, lagos e rios, corta árvores,
destrói a vegetação nativa preservadora de água. Dificulta o acesso à água
poluindo rios, lagos e represas. Os investimentos águas abaixo não resolveram o
acesso democrático à água.
O Rio Grande e
o Colorado na Califórnia, EE UU, não chegam mais ao mar Caribe. O Rio Doce,
Brasil, em 2014, pela primeira vez, não desembocou suas águas no oceano
Uma pessoa
precisa de 110 litros diários de água (OMS), para atender suas necessidades e
só parte volta aos rios e ao mar.
Um bovino
consome 15.000 litros de água para ganhar um kg de carcaça. Essa água não volta
para o mar.
As árvores
precisam de água para sobrevier, se reproduzir e contribuir para a recarga dos aquíferos.
Parte dessa água que fica nas árvores não volta para compor a próxima chuva.
Mas as árvores retêm mais de 35% das águas da chuva e alimentam os lençóis
subterrâneos.
A aliança
inteligente da espécie humana é com as árvores e não com os bovinos.
2ª REALIDADE:
População
e água:
A população do
DF cresce além do razoável.
Demora-se em
tomar medidas racionais para conter a população. A natureza das coisas cria um
mosquito para alertar sobre os perigos da superpopulação e a super-reprodução.
O DF registra
3.200 nascimentos por mês (106/dia), cuja soma é de 38.400 novos habitantes por
ano. Somados os imigrantes que vêm residir no DF, o número chega a 45.000, o
que equivale a um Núcleo Bandeirante/ano.
Esse crescimento
explosivo é uma das principais causas do caos administrativo na saúde, na
educação, no transporte somado ao desmatamento, à impermeabilização do solo e ao
desafio permanente ao acesso à água nos próximos dez anos.
Cada criança que
nasce precisa de 110 litros de água/dia, creche, escola, energia elétrica,
comida, transporte. Não é por nada que, o DF mantém 237.000 desempregados, seis
vezes o número de nascimentos, ou seja, milhares de crianças já nascem
desempregadas, com sede, com fome e sem lar.
O alerta da
superpopulação já foi dado. A densidade populacional sugerida por Lucio Costa
era de 11.740 m2 por habitante, num total de 500.000 habitantes em
seu projeto de cidade-parque e, hoje, é de apenas 1.956 m2, para uma
população de quase 3 milhões. A
desigualdade ecológica se consolida, ao lado da desigualdade estrutural.
A população
cresce e o volume de água é sempre o mesmo. A advertência é cuidar, proteger,
fortalecer as nascentes, córregos acima. O nosso aliado são as árvores.
O controle do
crescimento da população é condição imprescindível para a sustentabilidade
hídrica.
3ª REALIDADE:
Água por habitante – DF
Vivemos, no DF,
uma situação hídrica de permanente escassez.
O consumo médio
oficial por habitante, informado pelo órgão competente, é de 190 litros/dia. (média
é um argumento estatístico). O consumo humano direto diário de água, no DF, situa-se
ao redor de 600.000.000 de litros, sem contar o consumo agrícola. No período de
estiagem, o consumo é maior do que a vazão. Parte da água vem de fora do DF.
Uma das medidas administrativas
seria estabelecer um volume mínimo: 110 litros dia a custo moderado e
democrático. Ou estabelecer a média, hoje estimada em 190 litros. Ultrapassado
o mínimo até a média, cobrar um valor pelo excedente. Mais de 190 litros, o
valor deveria ser acrescido de 100 ou 200%.
Vazão. A disponibilidade diária de água
para o brasiliense é de 1,4 m3 (1.400 litros). Situação preocupante.
O ideal, segundo a ONU, para segurança hídrica é de 4,8 m3 (4.800
litros). Isto significa manter na conta da poupança de água volume suficiente
para as épocas de escassez. Nesta escala:
500 m3 hab/ano
(1,4 m3 situação de Brasília) = escassez
500 m3 a
1.700 m3 hab/ano = situação apertada
> de 1.700 m3
hab/ano = situação confortável.
Quando o uso
consuntivo da água, isto é, o volume de água que não volta ao rio, representa
apenas 5% de toda a retirada, considera-se excelente economia.
Entre
5 e 10%, é confortável
Entre
10 e 20%, situação do DF, é preocupante, pois sobram 80% da disponibilidade
para o retorno aos rios. O superpovoamento torna mais intensa a busca de água
secando poços e causando o racionamento ou o rodízio.
Entre
20 e 40%, situação crítica, quando há grandes investimentos em agricultura e
outras atividades.
>
Acima de 40%, situação fora de controle.
(Caderno de
Recursos Hídricos, ANA, maio 2005, MMA, Marina Silva)
Água e energia.
A média de
consumo/dia de energia por habitante é de 3 KW. Para gerar um KW de energia são
necessários 6.660 litros de água, ou 3 x 6.660 = 19.980 litros gastos em energia. Essa água está armazenada
nas represas longe de Brasília. Multiplicando-se por 3.000.000 de habitantes
obtém-se um respeitável volume de 59.940.000.000. Essa água volta ao mar, mas
as represas se esvaziam a ponto de chegar ao volume morto se não chover.
Racionamento e
black out são as consequências.
Se quiser poupar água, apague a luz.
4ª REALIDADE:
ÁGUA DA CHUVA
A precipitação
anual no DF varia entre 1.650 e 1.700 mm, ou 1.700 litros por m2.
Ano mais, ano menos. (Dados do pluviômetro da ANA instalado do Sítio das Neves,
DF.
A vazão média da
Bacia do Paranaíba é de 11.453 m3/seg. Na estiagem pode baixar a um
terço, 4.647 m3/seg.
A oferta total de
água no DF é de 9 m3 p/seg. O consumo urbano, segundo a WWF, se iguala
à oferta. Algumas áreas do DF têm escassez de água e muitos poços tubulares e
artesianos secaram.
A precipitação
irregular, a formação geológica, a impermeabilização intensiva, o desmatamento,
as queimadas dificultam a infiltração para recarga dos aquíferos. A água que
chega aos aquíferos apenas representa 5 a 12 % das precipitações.
1
mm = l litro/m2
150
mm equivalem a uma lâmina de água de 15 cm por m2. Se não houver bom
escoamento, como no estreitamento dos córregos de nossas cidades, a inundação é
fatal.
Precipitações em
mm equivalentes em litros por m2, registrado no pluviômetro da ANA,
instalado no Sítio das Neves, BR 060, Km 26, Engenho das Lajes, Recanto das
Emas são as seguintes:
2013 – 2.255 mm
ou 2.255 l/m2. Lâmina de 2,2 m/altura
2014 – 1.677 mm
ou 1.677 l/m2. Lâmina de 1.6 m/altura
2015 – 1.642 mm
ou 1.642 l/m2. Lâmina de 1.6 m/altura
A diminuição do
volume pluvial e a irregularidade das precipitações evidenciam a necessidade de
captação de águas pluviais, na área rural e urbana.
A precipitação
anual no DF pode alcançar 4,6 trilhões de litros, com média diária de 13
bilhões de litros. Estima-se que 80% dessa água rola rios abaixo.
Poços artesianos.
É a saída mais
fácil para contornar a escassez de água, mas pode causar dificuldades futuras
para a população. Poços tubulares, artesianos e cacimbas também secam. Medidas
de prudência indicam que a captação de águas da chuva pode diminuir o risco de
se ter, no futuro, água escassa e cara.
A Adasa registra
a existência de 36.500 poços artesianos dos quais apenas 6.500 são registrados.
Novas normas foram expedidas pela Adasa para licença e outorga de uso de água
proveniente de poços artesianos.
5ª REALIDADE:
Água e Lixo
Lixo no chão:
baixo indicador de educação e civilidade
A população de
Brasília produz 3 milhões de kg de lixo por dia, o equivalente a um kg por
habitante.
Para onde vai o
lixo?
Céu aberto (beira de rodovias 113 toneladas
Aterro
controlado 2.159 toneladas
Aterro sanitário 228 toneladas
Compostagem
521
toneladas
Incineração 23
toneladas
Como exemplo: do
km zero da BR-060 ao km 9 há 23 pontos de lixo, além do esgoto a céu aberto.
Por que não construir pontos de coleta em linha, de dois em dois km para,
orientar a população a levar o lixo nesses abrigos?
Águas usadas,
esgotos, lixo à beira das rodovias poluem córregos, rios, lagos e aquíferos.
Se ainda temos
água, e cada dia menos, sua qualidade preocupa e as doenças dela proveniente
trazem preocupação ao serviço de saúde pública. A proliferação do mosquito
Aedes Aegypti e outras espécies é consequência de lixo e esgotos não tratados.
6ª REALIDADE:
Consórcio árvores-água.
As árvores captam
aproximadamente um terço das águas da chuva
Aumentam a conta
de poupança de água com a recarga dos aquíferos
Oxigenam o ar e
melhoram a umidade
Dão sombra ao
caminhante e são abrigo de pássaros.
GRITO
REVOLUCIONÁRIO DO SÉC. XXI:
PLANTAR ÁRVORES!
Nas
cidades satélites, nas margens das rodovias, à beira de nascentes, às margens
dos córregos.
Leituras:
ÁGUA NO SÉCULO
XXI, José Galizia Tundisi
ÁGUA NO TERCEIRO
MILÊNIO, Vários Autores
ÁGUA COMO MATRIZ
PEDAGÓGICA, Vera Catalão
EM BUSCA DA ÁGUA,
Brian Richter
O RETORNO DAS
ÁGUAS, Eugênio Giovenardi
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