( O Cerrado se vai)
Os dados apresentados pelo Observatório do
Clima, rede de organizações não governamentais, constantes do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases
de Efeito Estufa (SEEG), são preocupantes, além de incompletos, como
destaca Marina Piatto, coordenadora da iniciativa de Clima e Agricultura do
Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). Segundo a especialista,
a metodologia utilizada não computa o carbono emitido e sequestrado pelo solo. Esta
omissão pode mascarar a veracidade dos dados apresentados. As emissões do
Brasil alcançaram, em 2014, 1,558 bilhão de toneladas de CO2e de
efeito estufa.
Os três maiores emissores responsáveis por
esse volume são: a) queima de
combustíveis num montante de 456,0 milhões de toneladas; b) produção agropecuária, 423,1 milhões de
t, das quais 237,1 provenientes da fermentação entérica, isto é, gases e
esterco liberados por 198 milhões de cabeças de gado. Os estados que cheiram
mais, nesse contexto, são Mato Groso, Minas Gerais e Rio Grande do Sul; e 152,9
milhões de t originados de fertilizantes químicos. c) desmatamento (denominado Mudança no Uso da Terra) com emissão de
486,1 milhões de toneladas.
Reduziu-se, entre 2013 e 2014, em 18% o
desmatamento, insuficiente para atingir as metas de desaquecimento global. É
uma redução pífia quando se põe esse percentual em números reais. Na verdade,
esse percentual significa que de cada 100 mil hectares desmatam-se 72 mil.
Regiões de cerrado, que abrangem os estados de Rondônia, Tocantins,
Maranhão, Piauí, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato
Grosso, Goiás, Paraná e Distrito Federal, têm os incêndios naturais como parte
de sua dinâmica. Porém, as queimadas constituem as principais causas do
desmatamento nesse tipo de vegetação. O fogo não só elimina espécies da flora.
Milhões de vidas perecem. A biodiversidade se recupera lentamente e a
interdependência dos seres vivos se torna cada dia mais difícil.
Segundo o IBGE, em 2008, o cerrado já tinha 48,37% de sua área original
desmatada. Em números absolutos, o cerrado teve sua cobertura reduzida de
2.038.953 km² para 1.052.708 km², com área desmatada de cerca de 901 mil km²
(44,20%) até 2002, e de mais de 986 mil km² até 2008. As Unidades da Federação
que possuem maior área de cerrado original são Mato Grosso (17,60%), Minas
Gerais (16,37%) e Goiás (16,16%).
O mais grave é que, segundo Carlos Rittl, do Observatório do Clima, “todo
o planejamento de investimentos para os próximos 15 anos não é de baixo carbono”.
E acrescenta: “Temos argumentos demonstrando que a redução de emissões não representa
obstáculo de crescimento, não exige sacrifício”. Pode-se acrescentar que
tecnologias mais avançadas e aplicadas proporcionariam economias limpas e mais
eficientes.
Há muito que fazer para que a espécie humana use a inteligência e a
ciência para encontrar seu espaço e se integrar na natureza como parte do corpo
orgânico do universo. O primeiro passo é liberar áreas para que a vegetação nativa
reconquiste seu território. Todos os seres vivos ganharão com essa reconquista.
26.11.2015
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