Sábado, janeiro, 2014, ouvi um secretário de governo do DF, justificando
ao jornalista os motivos de atrasos no cumprimento de contratos e de serviços
mal-acabados como o do viaduto da Ceilândia.
Entre outros argumentos, a autoridade lamentou a carência ou a
precariedade do “material humano” que atuou nessa obra. Já a expressão capital
humano me dá arrepios, mas “material humano” me deixou estupefato. Suponho que
se refira aos engenheiros, arquitetos, mestres de obras, fiscais do governo,
pedreiros e outros trabalhadores.
Segundo o secretário as águas que escorrem por baixo do viaduto não
conseguem ser escoadas pelas bocas de lobo por serem estas muito pequenas para
dar vazão à enxurrada.
Quem é o tal “material humano” que calcula o tamanho da boca de lobo e
determina o local em que deve estar?
Não sendo eu engenheiro nem arquiteto, apenas um ecossociólogo
observador das águas e das plantas, me proponho a ajudar o “material humano” no
cálculo do volume de água que determinará o tamanho da boca de lobo.
Em Brasília, a distância entre o alto da pista e a parte debaixo dos
viadutos onde geralmente o “material humano” determina o lugar da boca de lobo
é de, pelo menos, 200 metros. A pista tem 12 metros de largura. Trata-se,
então, de 2.400m2. Numa precipitação de 60 mm, como a que ocorreu
nesses dias, significa uma avalanche de 144 mil litros de água (144 m3
ou 144 toneladas) em menos de 20 minutos.
Então, o “material humano” tem que calcular o tamanho e a eficiência da
boca de lobo pelo máximo de água da chuva e não pelo mínimo. Alem de volume de
água, o “material humano” tem que calcular a velocidade e o peso da água que se associam
à lei da gravidade e a da inércia rampa a baixo.
Mas o secretário do governo tem razão. Para construir um viaduto não
basta material de construção. É preciso também uma quantidade adequada de
“material humano”.
Há, igualmente, muita sabedoria no discurso desse secretário. Está
implícito em sua filosofia que toda pessoa é matéria composta de hidrogênio e
carbono. E os milhares de anos de evolução a transformaram em material humano.
Um comentário:
Adorei a sua manifestação crítica quanto ao "material humano". Penso que o Secretário deve ter conhecimento de que no fundo todos nós não passamos de húmus, a começar por ele.
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