SUPREMO TRIBUNAL DA MENTIRA
Os olhos de parte dos cidadãos
brasileiros estão voltados para o Supremo Tribunal Federal. A verdade e só a verdade,
dizem, está na mira dos togados. Eles condenarão ou não os acusados de crime
contra o erário público. Os acusados e seus advogados provarão serem inocentes.
Por que, então, esse teatro todo diante de 38 inocentes? Um dos fatos, a menos
que tenham sido um fenômeno explícito de ilusão ótica quando filmados, é que mãos
entregaram a outras mãos dinheiro vivo. E dinheiro foi encontrado em cueca, em
meias, em bolsas, em pastas 007. De quem eram as mãos, as cuecas, as meias, as
bolsas e as pastas? Eis a questão que atormentará o juízo dos ministros do
supremo tribunal da mentira.
As relações sociais, econômicas
e políticas da sociedade brasileira são orientadas pelas cláusulas gerais do código
nacional da mentira. Os meios de comunicação repetem, de hora em hora, parte
dos fatos, sejam de sequestros, assassinatos, acidentes de trânsito, roubos,
peculatos, assaltos a bancos, mortes de crianças em hospitais, secas no
Nordeste, inundações na China ou no Amazonas. Os números absolutos são seguidos
de percentuais imprescindíveis à compreensão do cidadão comum. Sem o
percentual, obsessão do jornalista repórter, seria incompreensível a notícia. O
0,2% ou o 23,79% dão credibilidade aos fatos. É a verdade estatística que se
modifica de hora em hora. E de tanto serem repetidas por distintos organismos públicos
e privados, por figuras do governo ou de grandes empresas criam um lastro de
autoridade sobrenatural a que se dá crédito irrestrito. Haverá quem diga “a
grande verdade” é a seguinte, sem se perguntar se existem pequenas verdades.
Ouço, diariamente,
entrevistas e pronunciamentos das mais graduadas autoridades da república, incluindo
assessores e presidentes, dos ministros de Estado, de empresários de renome. Leio
artigos de jornais e revistas, projetos e programas de âmbito nacional e,
comparando-os com a efetiva realização, descobri uma gama razoável de
indicadores detectores de mentiras oficiais. Esses indicadores poderiam
auxiliar os togados do STF a detectar as mentiras formuladas pelos acusados
inocentes e seus defensores.
São indicadores de uso comum de
qualquer cidadão, seja doutor ou analfabeto. Os principais são: nada, nunca, nenhum, sempre, todos, tudo, ninguém.
Em geral, eles precedem a mentira ou a trama da mentira. Alguns exemplos:
Este programa de governo não
tem NADA a ver com as próximas eleições.
As nossas ações de governo
visam SEMPRE a população pobre e a inclusão social, mesmo em se tratando de
isenção de impostos.
NUNCA antes neste ministério,
neste estado, neste país.
Neste projeto, NINGUÉM tem
privilégios.
A lei é para TODOS. Ou: TODOS
são iguais perante a lei.
Não há NENHUM interesse em prejudicar
os adversários e NENHUMA relação com os fatos por eles mencionados.
Em razão dos acontecimentos,
foram tomadas TODAS as medidas cabíveis.
TUDO será apurado com o rigor
da lei e TODOS os envolvidos serão punidos.
Quanto mais vezes esses
termos forem usados por advogados de acusação ou de defesa, mais próximos
estaremos da mentira. Mas, como o Supremo Tribunal da Mentira não se reúne para
condená-la, será possível provar a TOTAL inexistência do mensalão e que NENHUMA
evidência de crime será constatada dos autos do processo.
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