Ciclovias é bom. Adaptam-se à geomorfologia de
Brasília. A cidade é plana. A bicicleta é ambientalmente correta. É alternativa
para o uso do automóvel. Desafoga o tráfego. Os países nórdicos têm ciclovias
há mais de cinquenta anos. A China, o Japão e a Índia têm milhares, se não
milhões de trabalhadores que usam a bicicleta para ir ao trabalho, ao cinema,
aos supermercados, a passeios. Os reis da Suécia e Dinamarca vão a seus
compromissos reais de bicicleta. A França inovou. Pôs milhares de bicicletas à
disposição dos usuários mediante taxa módica de aluguel. Eis alguns dos
estereótipos sobre a justificativa de ciclovias em Brasília.
Missões oficiais de observação e estudo compostas de governadores, deputados e empresários não poderiam se lançar à aventura de
ciclovias em Brasília sem constatar como funciona essa iniciativa em Paris. Não
é para copiar, mas para adaptar às nossas condições e à realidade da metrópole
brasiliense. Os quatro últimos governadores fizeram da ciclovia uma promessa de
campanha. De tímidos vinte a espetaculares 600 quilômetros de ciclovias, os
números foram anunciados em escala crescente.
Neste momento, em frente a minha janela, às margens da
L-2 Sul, escavadeiras removem o piso das calçadas de pedestres para
transformá-las em ciclovias. “Vai virar calçada com outro nome. Pouca gente vai
usar”, disse-me o responsável de plantão.
Para quem as ciclovias de Brasília? As ciclovias ligam
o que com quê? Levam de onde para onde? Quais são os pontos previstos de
chegada? Correspondem à demanda declarada da população? Dá para chegar ao
Palácio dos Despachos saindo do Palácio da Alvorada ou do Jaburu? Dá para
chegar à UnB e outras universidades? Aos shoppings? Aos hospitais? Aos colégios?
Aos ministérios? Aos cinemas e teatros? Aos bancos? Os estacionamentos para
esses milhares de bicicletas já estão projetados?
– Você não vai querer que a presidente Rousseff vá de
bicicleta à reunião com trinta ministros ao Palácio dos Despachos. Ou senadores
e deputados, ao Congresso Nacional. Ou ministros, ao Supremo Tribuna Federal e
a outros tribunais. Ou que médicos e enfermeiros saiam do Lago Sul ou Norte, de
São Sebastião ou Santa Maria para socorrer pacientes nos hospitais. Ou que milhares
de funcionários e empregados do comércio abandonem seus carros para pedalar,
faça sol ou caia chuva.
Para os que moram na parte leste da cidade e têm interesses
a satisfazer em centros literários, musicais, religiosos ou no Parque da Cidade
que se localizam no lado oeste de Brasília, por onde passa a ciclovia? Brasília
é vista sempre de Sul a Norte e vice-versa. O trânsito Leste/Oeste é um enigma.
Então, para quem são os 600 quilômetros de ciclovias
que estão tomando o espaço de calçadas de pedestres? Os visitantes oficiais perceberam
em Paris (esta é a dúvida!), ou Helsinque, ou Estocolmo que calçada é calçada
para pedestre e ciclovia é para bicicleta?
Minha suspeita, política e culturalmente correta, é
que as ciclovias se reduzirão a deliciosos passeios ao redor das quadras, com
risco de perder a vida na travessia de ruas ocupadas por automóveis. Na melhor
das hipóteses, teremos enfim calçadas sólidas e melhoradas para os intrépidos e
teimosos pedestres que preferem saborear a quietude das árvores e as surpresas
Um comentário:
Tem um amigo aqui no Cruzeiro, o Wilson, que propôs uma Ciclovia do Trabalhador que liga o parque shopping ao SIA, para que os trabalhadores que andam de metrô possam chegar ao SIA com suas magrelas. A ligação do Cruzeiro com o Centro de Brasília, em paralelo ao Eixo Monumental, vai facilitar a vida de estudantes e trabalhadores. Digo isso porque durante cinco anos frequentei a UnB, de bicicleta diariamente.
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