sábado, 17 de maio de 2025

EUGÊNIO GIOVENARDI por Gilberto Cunha

 EUGÊNIO GIOVENARDI

Gilberto Cunha

 Eugênio Giovenardi tem 90 anos e é natural de Casca, RS. É filósofo, sociólogo e escritor. Vive em Brasília desde 1972. Foi consultor da Organização Internacional do Trabalho (OIT/PNUD/ONU) e teve destacada atuação na América Latina, especialmente na Colômbia, onde trabalhou na promoção do desenvolvimento agroindustrial de pequenas comunidades rurais marcadas pela presença das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e do Exército de Libertação Nacional (ELN). Integra o Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal e faz parte da Academia de Letras do Brasil. Escreveu centenas de artigos e publicou 28 livros. Tem um sítio nos arredores da Capital Federal e é casado com a jornalista e tradutora finlandesa Hikka Mäki, uma filha, Aino Alexandra, e duas netas, Luiza e Laura.

Ainda que aparente, a breve síntese do parágrafo anterior, ao estilo “eis o homem”, na tradução das palavras latinas, “ecce homo”, usadas pelo governador romano Pôncio Pilatos ao, lavando as mãos, apresentar Jesus de Nazaré à multidão que selaria o seu destino, não diz nada (ou muito pouco) sobre o principal legado intelectual deixado por Eugênio Giovenardi.

Quanto à sua relação com Passo Fundo, além da proximidade da terra natal, Casca, Giovenardi mantém laços fraternos com o Professor Egídio Ferronatto, principal entusiasta local da sua obra, iniciados no Seminário Seráfico da Ordem dos Frades Capuchinhos, em Veranópolis, e que acabariam reatados 50 anos mais tarde. Inclusive, Giovenardi esteve na nossa cidade, algumas vezes. Lançando o livro “As pedras de Roma”, no dia 4 de novembro de 2009, na extinta Livraria Nobel do Bella Città Shopping Center, ou para visitas ao amigo Egídio Ferronatto. Numa dessas, em 11 de janeiro de 2017, tive o privilégio de ser agraciado com exemplar, autografado, do livro “Uma obra em verde”, cujo título foi inspirado no livro “Obra em negro”, da escritora Marguerite Yourcenar. E, para minha satisfação, mais uma vez por intermédio do Professor Egídio Ferronato, recebi, recentemente, também com dedicatória muito amável, o novo livro do Eugênio Giovenardi, “Os Fugitivos da Água”, lançamento de 2025.

Eugênio Giovenardi é um dos pioneiros, quem sabe o pioneiro, no Brasil, no trato da relação, nem sempre percebida e aceita, que há entre a sociedade humana e o ambiente natural, que se entende por ecossociologia. Quando os pressupostos da sociologia e da ecologia, simultaneamente, devem ser levados em consideração, a partir da complexa interação que há entre as ciências naturais e as ciências sociais. E Giovenardi faz isso com maestria, tanto nos domínios teóricos, a partir da sua formação em Sociologia pela UFRGS, aperfeiçoada na Universidade de Paris (antiga Sorbonne), quanto práticos, com a experiência que, desde 1974, tem levado a cabo no Sítio das Neves, atualmente convertido em Reserva Perpétua do Território Nacional. Não obstante esse reconhecimento, o Sítio das Neves não está imune à ameaça dos incêndios que atingem o bioma Cerrado. Apenas como exemplo, do tipo de coisa, quando envolve a ação humana, que trata a ecossociologia.

Na obra “Os Fugitivos da Água”, Eugênio Giovenardi põe em evidência a sua bagagem cultural e de conhecimento sobre acordos diplomáticos e programas globais para o meio ambiente, nem sempre factíveis no mundo real, ao tratar da mudança do clima global e das responsabilidades humanas. As diversas nuanças do tema foram postas nesse romance, muito bem-escrito, de leitura agradável e que se passa no ano 2140. Infelizmente, nem ele, nem o colunista e nem você leitor estará por aqui para saber se, realmente, aconteceu daquela forma. Mas, atenção, muitas das coisas postas por Giovenardi para o século XXII poderão acontecer antes, uma vez que, como destaca ele, não temos nos mostrados capazes de qualquer razoabilidade diante da realidade!

O enredo de “Os Fugitivos da Água”, por criar um futuro (quase) distópico, é um alerta de que o estado de emergência climática, que ora assola o mundo, apesar de negado por muitos, não pode ser mais ignorado. No caráter de distopia, lembra os clássicos “1984”, de George Orwell, e “O Conto da Aia”, de Margaret Atwood, que se prestam, em meio à cegueira que acomete muita gente, para iluminar o que poderia acontecer quando se flerta com o autoritarismo e a democracia é deixada de lado.

Não é difícil, com certa atenção, identificar a relação que há entre personagens fictícios, criados por Eugênio Giovenardi, e reais. Apenas como exemplo, o narrador “Seven Oitis”, naturólogo e licenciado em Inteligência Ambiental, é o Sítio Neves. O professor Egfer, licenciado em Artes da Natureza, é o Professor Egídio Ferronatto. O físico nuclear Nosrac Lechar é a bióloga e escritora Rachel Carson. E o seu livro “Outono sem fim”, publicado em 2119, seria a versão futurística do clássico “Primavera silenciosa”, de 1962.

30,4,2025

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