EUGÊNIO
GIOVENARDI
Gilberto
Cunha
Eugênio
Giovenardi tem 90 anos e é natural de Casca, RS. É filósofo, sociólogo e
escritor. Vive em Brasília desde 1972. Foi consultor da Organização
Internacional do Trabalho (OIT/PNUD/ONU) e teve destacada atuação na América
Latina, especialmente na Colômbia, onde trabalhou na promoção do
desenvolvimento agroindustrial de pequenas comunidades rurais marcadas pela
presença das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e do Exército de
Libertação Nacional (ELN). Integra o Instituto Histórico e Geográfico do
Distrito Federal e faz parte da Academia de Letras do Brasil. Escreveu centenas
de artigos e publicou 28 livros. Tem um sítio nos arredores da Capital Federal
e é casado com a jornalista e tradutora finlandesa Hikka Mäki, uma filha, Aino
Alexandra, e duas netas, Luiza e Laura.
Ainda que aparente, a breve
síntese do parágrafo anterior, ao estilo “eis o homem”, na tradução das
palavras latinas, “ecce homo”, usadas pelo governador romano Pôncio Pilatos ao,
lavando as mãos, apresentar Jesus de Nazaré à multidão que selaria o seu
destino, não diz nada (ou muito pouco) sobre o principal legado intelectual
deixado por Eugênio Giovenardi.
Quanto à sua relação com Passo
Fundo, além da proximidade da terra natal, Casca, Giovenardi mantém laços
fraternos com o Professor Egídio Ferronatto, principal entusiasta local da sua
obra, iniciados no Seminário Seráfico da Ordem dos Frades Capuchinhos, em
Veranópolis, e que acabariam reatados 50 anos mais tarde. Inclusive, Giovenardi
esteve na nossa cidade, algumas vezes. Lançando o livro “As pedras de Roma”, no
dia 4 de novembro de 2009, na extinta Livraria Nobel do Bella Città Shopping
Center, ou para visitas ao amigo Egídio Ferronatto. Numa dessas, em 11 de
janeiro de 2017, tive o privilégio de ser agraciado com exemplar, autografado,
do livro “Uma obra em verde”, cujo título foi inspirado no livro “Obra em
negro”, da escritora Marguerite Yourcenar. E, para minha satisfação, mais uma
vez por intermédio do Professor Egídio Ferronato, recebi, recentemente, também
com dedicatória muito amável, o novo livro do Eugênio Giovenardi, “Os Fugitivos
da Água”, lançamento de 2025.
Eugênio Giovenardi é um dos
pioneiros, quem sabe o pioneiro, no Brasil, no trato da relação, nem sempre
percebida e aceita, que há entre a sociedade humana e o ambiente natural, que
se entende por ecossociologia. Quando os pressupostos da sociologia e da
ecologia, simultaneamente, devem ser levados em consideração, a partir da
complexa interação que há entre as ciências naturais e as ciências sociais. E
Giovenardi faz isso com maestria, tanto nos domínios teóricos, a partir da sua
formação em Sociologia pela UFRGS, aperfeiçoada na Universidade de Paris
(antiga Sorbonne), quanto práticos, com a experiência que, desde 1974, tem
levado a cabo no Sítio das Neves, atualmente convertido em Reserva Perpétua do
Território Nacional. Não obstante esse reconhecimento, o Sítio das Neves não
está imune à ameaça dos incêndios que atingem o bioma Cerrado. Apenas como
exemplo, do tipo de coisa, quando envolve a ação humana, que trata a
ecossociologia.
Na obra “Os
Fugitivos da Água”, Eugênio Giovenardi põe em evidência a sua bagagem cultural
e de conhecimento sobre acordos diplomáticos e programas globais para o meio
ambiente, nem sempre factíveis no mundo real, ao tratar da mudança do clima
global e das responsabilidades humanas. As diversas nuanças do tema foram
postas nesse romance, muito bem-escrito, de leitura agradável e que se passa no
ano 2140. Infelizmente, nem ele, nem o colunista e nem você leitor estará por
aqui para saber se, realmente, aconteceu daquela forma. Mas, atenção, muitas
das coisas postas por Giovenardi para o século XXII poderão acontecer antes,
uma vez que, como destaca ele, não temos nos mostrados capazes de qualquer
razoabilidade diante da realidade!
O enredo de “Os Fugitivos da
Água”, por criar um futuro (quase) distópico, é um alerta de que o estado de
emergência climática, que ora assola o mundo, apesar de negado por muitos, não
pode ser mais ignorado. No caráter de distopia, lembra os clássicos “1984”, de
George Orwell, e “O Conto da Aia”, de Margaret Atwood, que se prestam, em meio
à cegueira que acomete muita gente, para iluminar o que poderia acontecer
quando se flerta com o autoritarismo e a democracia é deixada de lado.
Não é difícil, com certa atenção,
identificar a relação que há entre personagens fictícios, criados por Eugênio
Giovenardi, e reais. Apenas como exemplo, o narrador “Seven Oitis”, naturólogo
e licenciado em Inteligência Ambiental, é o Sítio Neves. O professor Egfer,
licenciado em Artes da Natureza, é o Professor Egídio Ferronatto. O físico
nuclear Nosrac Lechar é a bióloga e escritora Rachel Carson. E o seu livro
“Outono sem fim”, publicado em 2119, seria a versão futurística do clássico
“Primavera silenciosa”, de 1962.
30,4,2025