A natureza é um conjunto de partes interligadas que
formam um sistema operativo universal. Neste conjunto há elementos inanimados associados
a distintas formas de vida com diferentes funções interdependentes. O conjunto
dos seres vivos forma a biocomunidade.
Todos os seres da biocomunidade são dotados
geneticamente de virtudes e energias para garantirem sua sobrevivência e
reprodução. Uns têm mais virtudes e energias que outros, mas suficientes para
desempenhar sua função no conjunto, desde a bactéria até o elefante, da ameba
ao ser humano.
Todos os seres da biocomunidade vivem no mesmo espaço
planetário sem fronteiras rígidas e intransponíveis. Todos os seres vivos se
alimentam das mesmas proteínas e minerais disponíveis e, pela diversidade das
funções, usam suas virtudes e energias para manter as partes do conjunto em
funcionamento. Os pássaros comem frutas e disseminam as sementes para ter mais
alimentos para si e para seus descendentes.
Cada elemento do conjunto tem geneticamente a virtude
de manter o sistema natural funcionando para sobreviver e se reproduzir. A
espécie humana é um dos bilhões de componentes do conjunto. E parece ser a
única a usar sua virtude e energia para interferir nas funções dos elementos do
conjunto a fim de submetê-los a seus interesses de sobrevivência e reprodução.
Desenvolveu, ao longo de milênios, suas virtudes e energias para manipular o
sistema da natureza em benefício exclusivo de sua espécie.
As trágicas consequências de sua desorientada
compreensão do funcionamento do sistema natural, que o poeta romano Lucrécio
definiu como “natureza das coisas” (De rerum natura), não só perturbam a
natureza. Elas ameaçam a própria sobrevivência da espécie exploradora e
imperialista. Umas das piores tragédias dessa desorientação é a guerra de
extermínio movida pelo ser humano contra sua própria espécie. Fez da guerra uma
irracional estratégia de controle da expansão demográfica e apoderamento soberbo
das riquezas naturais destinadas à sobrevivência e reprodução de todos os seres
vivos.
Há mais de quatro décadas, porém, em vários pontos do
planeta, esboçam-se gritos de alerta e socorro diante da catástrofe provocada
pela espécie humana contra si mesma. Esses gritos e alertas da consciência
humana propõem a canalização de sua virtude e energia no sentido da preservação
do sistema natural. A consciência de parte da espécie humana se reorienta para
a compreensão de suas falhas no funcionamento do sistema natural e correção
gradativa dos erros praticados. A ação autoritária da espécie humana sobre o
conjunto da natureza se manifesta não só na destruição de espécies vivas para sempre,
como na degradação de suas funções na manutenção da ordem natural das coisas.
A preservação do funcionamento do sistema natural,
para que todos os seres vivos desempenhem suas funções interdependentes no
conjunto de virtudes e energias, começa na compreensão do elemento fundamental
gerador de vida: a água.
Não pode haver preservação ambiental e reorientação
ecológica sem respeito à fonte de vida. Da água surgem todas as formas de vida.
E as árvores (as espécies vegetais) que nascem das águas são as que preservam
os mananciais, os lagos e os rios. A associação da água com as plantas é a mais
sólida empresa da natureza para a preservação de todas as formas de vida do
planeta.
A preservação ambiental depende da imprescindível associação
das funções da água e das plantas. É nestes dois elementos do conjunto que,
infelizmente, se concentra a desorientação das virtudes e energias da espécie
humana.
Essa desorientação se manifesta mais desastrosamente nas
práticas inadequadas de produção de alimentos, de desflorestamento e defaunação,
de construção de abrigos, na urbanização desordenada, nos parques industriais e
na queima de lixo fóssil.
A natureza guardou, bem guardado, durante milhões de
anos, tipos de lixo que poderiam danificar a vida no planeta. A espécie humana
os descobriu e os desenterrou. Primeiro, o carvão, no começo da era industrial
contaminando o ar com fumaça tóxica. Depois, certo óleo que se refugiava entre
pedras denominado petróleo. A espécie humana não só queima lixo fóssil em
quantidades alarmantes, destrutivas das condições de vida, como produz diariamente
perigosos volumes de lixo que infestam o ar, matam plantas e poluem as águas.
O grito da Revolução Industrial deve ser substituído
pelo grito revolucionário Plantar Árvores. As árvores propiciam a formação de
rios superiores. Preservam os rios de superfície. Garantem a recarga dos rios
subterrâneos. É o consórcio água-plantas.
A espécie humana tem, hoje, tecnologias adequadas para
compreender melhor a natureza das coisas e conduzir sua virtude e energia na
inteligente obra de preservação de todas as formas de vida.
A natureza das coisas convida a espécie humana a
integrar-se como elemento do conjunto natural e desfrutar da interdependência
de todos os seres vivos da biocomunidade do planeta Terra.
21.12.2014
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