Por ter
completado os primeiros oitenta anos, não tenho obrigação de votar. Mas como
cidadão livre não escondo minha opinião.
Opositores à
candidatura de Marina questionam sarcasticamente: será ela capaz de governar?
Perguntaram isso de Sarney? De Fernando Henrique Cardoso? De Collor de Melo?
Adversários em outra época não duvidavam de Lula? Importaram-se os eleitores
com a inexperiência de Dilma eleita presidente na primeira aventura eleitoral?
Todos eles chegaram ao governo. Todos eles governaram como nunca antes neste
país.
Agora, volta-se
a perguntar de Marina se ela será capaz de governar. O preconceito social disfarçado
é usado por intelectuais, jornalistas, ex-companheiros de partido, opositores
de esquerda, especialmente por quem não quer perder o poder. Esse mesmo
preconceito é usado hoje por aqueles a quem essa mesma flecha fez tanto mal.
Marina, meio
índia, meio negra, brasileira do Acre, nasceu no seringal amazônico. Como
milhões de brasileiros leu a realidade do país sem saber ler. Sem saber ler em
livro, percebeu as raízes do Brasil. Ela foi capaz de vencer o analfabetismo, a
leishmaniose, a malária, os grileiros da Amazônia. Foi capaz de ser vereadora.
De ser deputada estadual. De chegar ao Senado Federal. Foi capaz de ser
ministra do Meio Ambiente. Só Marina e José Lutzenberger foram, até o presente,
ministros qualificados para o Ministério do Meio Ambiente.
Todas as
contradições do Brasil estão reunidas em Marina. Ela é, entre todos os
candidatos, a única que viveu essas contradições. Pede-se coerência a Marina.
FHC pôde ser incoerente. O torneiro mecânico sindicalista Lula pôde ser incoerente.
A ex-guerrilheira Dilma pôde ser incoerente.
O que exigem de
Marina seus adversários? Que vença o imperialismo financeiro internacional?
Qual governo o venceu? Que empobreça os bancos? Qual governo os empobreceu
nesses últimos vinte anos? Que faça a reforma agrária? Quem a fez até hoje?
Por que Marina
não será capaz de usar o dinheiro do orçamento para pôr comida no prato dos
famintos da nova classe média? Por que Marina não será capaz de usar o dinheiro
público para o salto de qualidade da educação fundamental? Por que Marina não
será capaz de usar o nosso dinheiro do BNDS para equipar hospitais onde morrem
brasileiros na fila de espera? Por que Marina não será capaz de humanizar
nossas cidades com transporte decente, eficiente e confortável com menos queima
de combustível fóssil? Por que Marina não será capaz de extirpar o câncer
corruptor que espalhou metástase na Petrobrás? Por que Marina não será capaz de
usar o dinheiro público para proteger nossas florestas, nossas árvores, nossos
rios, nossas nascentes e fazer da agricultura ecológica uma resposta
inteligente às mudanças climáticas?
Se o país teve generais
no governo, um eminente sociólogo, um torneiro mecânico, uma ex-guerrilheira,
por que não há de ter uma seringueira presidente do Brasil?
O preconceito
poderá derrotar Marina, mas não apagará de seu rosto moreno os sinais
inconfundíveis da realidade brasileira vivida por três quartos da população. E
como milhões de brasileiros, Marina é frágil, doente e capaz.
Sim, Marina é capaz!
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