segunda-feira, 10 de maio de 2010

BRASÍLIA GRÁVIDA

Brasília está grávida de quase oito anos. Ano a ano, surgiram como cogumelos bares e restaurantes para acolher a nova classe operária de funcionários indicados pelo partido que chegou ao poder. Vieram de todos os quadrantes da mãe pátria para ocupar ministérios, secretarias, departamentos, autarquias, institutos, agências reguladoras, fundos de pensão, empresas públicas, centros de lobbies partidários, arrecadadores de propinas como nunca neste país.

Os bares de Brasília, até então discretamente freqüentados, começaram a se entupir de tal forma que, com a ajuda solícita dos deputados distritais, foi necessária a aprovação dos puxadinhos para ampliar os espaços requeridos pela crescente demanda. Os estacionamentos se revelaram estreitos e insuficientes para conter a nova leva de carros do ano em quantidades desproporcionais à capacidade das vias. Em frente aos bares e restaurantes da moda que aparecem subitamente criou-se a figura do manobrista para acomodar os carros em fila tríplice.

40 mil assessores, que o atual governo trouxe a Brasília, viviam da cervejinha provinciana, no bar do mercado municipal, nas pacatas cidades desconhecidas do interior, pendurando os gastos que os dois salários mínimos não permitiam. Hoje, guindados a assessores, distinguidos com os de-a-esse, reajustados em 200% em quatro anos, dobrados em 50% os cargos em confiança, enchem restaurantes e bares, compram carros novos do formato jipe ou de marcas orientais tamanho-extra-large.

De segunda a segunda, é difícil encontrar um bar da Asa Sul ou Asa Norte que não receba uma superclientela com supersalários. É a claque federal. Na minha quadra, a livraria que lembrava aos passantes o antigo hábito da leitura deu lugar a um restaurante de Primeiro Mundo oriental, com direito a invasão de área pública. Restaurante também é cultura. Troca o livro por prato.

Não resisto a concluir, sentado num banco à sombra de um ipê-roxo, que essa enxurrada de milhões introduzidos em bolsas, meias, e cuecas pelas construtoras, empreiteiras de novos bairros, condomínios, viadutos desnecessários, empresas de informática, está vestindo Brasília de falsa riqueza e de veraz arrogância.

Compreendo por que os atuais governantes e seus partidos não podem ser derrotados nas eleições distritais e federais. Seria a falência de Brasília. Seu amor à capital dos sonhos de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer não permite que se abata sobre ela o desastre do desemprego generalizado, de bares e restaurantes entregues às moscas.

Mas se a força do destino levar para longe os mercenários do Distrito Federal, ficaremos nós, desfrutando do silêncio do Planalto Central, sem saudade dos que partem.

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