CARTAS DA PRISÃO
NOVA REPÚBLICA
Amigos,
leio Florestan Fernandes (1920-1995), à sombra de um angico. Depois do período
de governos militares, sinônimo de ditadura,
seis governos eleitos trouxeram na bagagem a bandeira de uma Nova
República. O sociólogo, em 1985, escreveu um pequeno e substancioso livro
interrogativo: NOVA REPÚBLICA? Aponta uma questão fundamental: democracia é um
conceito abstrato, ideal ou operativo? Vivemos, neste quatriênio, uma Nova
República. Nunca se falou tanto em democracia e ordem democrática. Três poderes
independentes, mas harmônicos! Uma das conclusões a que cheguei é que a
ignorância sobre democracia operativa está custando caro ao povo brasileiro. A
nova república é comandada por um capitão eleito pelo povo. “A Constituição sou
eu”, disse. O capitão está cercado de cinco generais. Três no palácio, um é
ministro da saúde e um, na armada. No MEC, um ideológico contador financeiro
tem na cartilha a ordem de prender os #$* ministros do STF e do Congresso
Nacional. Quem os prenderia? A ignorância é cara, Não a educação. Na área
ambiental, um jovem advogado, analfabeto em códigos da natureza, aproveita o
descuido da imprensa para “passar a boiada” na selva amazônica. No Ministério
da mulher, da família e dos direitos humanos, a vidente pretende “pegar pesado
e mandar prender governadores e prefeitos” por cuidarem da vida dos cidadãos. Etecetera.
Caro Florestan, ficamos com a democracia virtual, com desigualdades, com
discriminação, com racismo, com desemprego, com assassinatos esquecidos, com
corrupção consciente, com líderes políticos medíocres? Por cúmulo, o invisível V19 não reconhece
fronteiras, não pede identidade, nem CPF, nem CEP. Não quer saber com quem está
falando e zomba da vacina do ano 2022, da cloroquina, do ventilador, do
testador, da máscara, da quarentena. A democracia é resiliente, flexível,
elástica, persistente, paciente, tolerante, libertária. Sua maior inimiga é a
ignorância democrática em qualquer nova república.
15.6.2020
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