Todos os salários de todos os funcionários do governo
federal, estadual e municipal estão sendo pagos.
Todos os salários de milhões de trabalhadores de
empresas privadas estão sendo pagos. Não quero fazer mau juízo, mas tenho
certeza de que as centenas de bilhões de reais devidos aos funcionários e
trabalhadores estão sendo depositados nos bancos oficiais e/ou privados.
Em consequência, todas as lojas, super e
hipermercados, do quiosque à Internet estão abertos para os milhões de clientes.
Todas as companhias aéreas estão voando,
independentemente do aumento da emissão de gases de efeito estufa.
Todos os aeroportos e rodoviárias estão lotados de
passageiros e de ônibus.
Todas as cidades estão congestionadas de carros
movidos a combustível fóssil.
Todos os bancos estão oferecendo, dia e noite, lucros
e créditos para que a atividade econômica não pare.
Todas as construtoras e incorporadoras estão
inaugurando casas populares e apartamentos de luxo.
Todas as cadeias do país continuam abrindo vagas para
novos candidatos que se aventuram em malfeitos.
Todos os hospitais operam seus pacientes e as filas parecem
não diminuir mesmo debaixo de ventos e chuvas.
Todos os cemitérios enterram diariamente seus defuntos
e os crematórios reduzem a cinzas a matéria que sobrou da vida.
Todos os bares e restaurantes estão superlotados de clientela
insaciável.
Todas as montadoras e todas as agências revendedoras de
automóveis em todo o país entregam carros novos em maior número do que as estradas
podem comportar.
Nenhum ministro de governo, diante da onda de corrupção
que assola o país como os ventos que arrasaram as Filipinas, renunciou por incompetência
ou desídia administrativa.
Os jornalistas e comentaristas lamentam que a riqueza do
país não cresce com a velocidade dos ventos de um tornado.
Logo, logo, se tudo continuar com essa indiferença diante
das mudanças climáticas que operam no planeta, o chão se cobrirá de uma riqueza
supérflua que não servirá a ninguém.
Nota: Sou ecossociólogo, naturalista e escritor.
Administro uma área liberada da opressão industrial e da tirania do consumo
obsessivo, uma reserva natural de cerrado de 70 hectares (Sítio das Neves) para
refúgio de variada fauna de ar e terra, reprodução espontânea da flora nativa
(3.500 espécies), proteção de nascentes e recarga de aquíferos com captação de
águas pluviais. Estudo a ocupação do espaço e a organização de algumas espécies
da biocomunidade (mangabeiras, caliandras e catolé).
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