Algumas expressões espontâneas, ditas com frequência, demonstram
insatisfação, inconformidade, raiva ou mesmo complexo de inferioridade masoquista
do cidadão frente à realidade ou subjetividade das expectativas privadas e públicas.
– Este país é uma merda.
Num discurso improvisado, em São Luiz do Maranhão, o
ex-presidente Lula afirmou que estava na hora de tirar o povo da merda. Ele se
propunha essa tarefa. Parece que não conseguiu, pois, em vários locais como
bancos, supermercados, no trânsito, a frase aparece com contundência entre
suspiros de cansaço e impaciência.
– É um país de analfabetos.
Radicais uns, funcionais outros. Essa definição é
particularmente verdadeira no trânsito. Pouquíssimos motoristas sabem ler as
placas de advertência e as que mostram sinais de segurança.
– Este é um país do faz de conta.
Ou seja, as leis em muitas circunstâncias não pegam. A
obrigatoriedade, a seriedade, o cumprimento, normais na Finlândia ou na Suécia,
no Brasil só são exibidos se a polícia está por perto. Nem os semáforos,
passagens de pedestres, taxas de condomínio representam algo a se levar em
conta. É verdade que a aritmética não é o forte do brasileiro comum. Só faz
contas com a ajuda da calculadora.
– É um país de ladrões.
Infelizmente, a novela do mensalão apresentada nestes dias,
por 36 figurantes e dez atores de toga, parece não deixar dúvidas. Se o grande
rouba, por que o pequeno deveria privar-se desse prazer civil de se apropriar
da coisa pública?
– Neste país ou nesta cidade tudo é mais ou menos.
Edifícios desmoronam. Apagões são mais frequentes dos que a
imprensa informa. A porta do armário da cozinha ou do banheiro não fecha
direito. O desnível do piso joga a água na direção oposta ao ralo ou deixa a
mesa em falso. O contêiner de lixo orgânico está entupido de garrafas, caixas
de papelão e placas de isopor. A pintura das esquadrias emperra o funcionamento
da janela. Milhares de obras executadas ou em execução consolidam a cultura do
mais ou menos. Quando menos se espera, aí está o serviço mais ou menos
prestado. Em telefonia e internet, então, o mais ou menos é a regra.
– Só depois do carnaval.
É o toque de displicência generalizada e da certeza de que o
tempo é inesgotável. Somos dominados por uma capacidade infinita de adiar os
compromissos impunemente e chegar atrasados aos apontamentos marcados. Qual é a
diferença entre o hoje e o amanhã, se o universo caminha para o fim há bilhões
de anos.
Então, agora, só amanhã.
Nenhum comentário:
Postar um comentário