quarta-feira, 23 de março de 2011

Stress hídrico


No Dia Mundial da Água, fui despertado com um bombardeio assustador de números e porcentagens sobre o difícil abastecimento e o possível racionamento de água. Sabemos tudo sobre os que têm muita, pouca ou nenhuma água. Sobre os grupos privilegiados que, em Brasília, gastam mais de 1.000 litros por pessoa/dia e os que usam 120, nas bordas da metrópole. Que o Brasil é um dos países mais ricos em água doce, mas está onde vive pouca gente e escassa nos superpovoamentos. Que o bioma cerrado perdeu metade de suas matas, de suas águas e de seus bichos.
A ANA (Agência Nacional de Águas), para salvar nossas cidades do racionamento de água, propõe investimentos de R$ 22 bilhões nos próximos quatro anos. Sabemos que nossos rios estão sujos, que esgotos correm soltos, que o lixo, associado às águas, consolida o dengue e outras epidemias. Especialistas deram conselhos e truques para consumir menos e eliminar o desperdício.
A Adasa (Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal) chegou mais perto do precipício e alertou: “Gente de mais. Água de menos”. Quer dizer, quanto mais gente, mais água. Quanto mais água, menos água.
O Sr. Magela, Secretário de Desenvolvimento Urbano, anunciou um novo loteamento, no Riacho Fundo II, para 20 mil pessoas de baixa renda, isto é, comprometeu 4 milhões de litros de água/dia.
Mas o toque oficial e burocrático, a coroar todas as análises mais profundas do inconsciente e subconsciente da água, determinando o diagnóstico psicanalítico do H2O, veio da Senhora Ministra do Meio Ambiente: “estamos enfrentando o estress hídrico”.
Sim, precisamos urgentemente de um sofá ou de um leito para a água. Quem sabe onde se esconderam as 10 mil nascentes que existiam no DF? Embaixo de quase três milhões de habitantes, prédios, carros, vias, viadutos, estacionamentos. O que está sendo feito para proteger as sobreviventes da catástrofe urbanizadora? Quem fiscaliza os 30 mil poços artesianos que estão provocando um deserto subterrâneo, eliminando nascentes, secando córregos e destruindo rios?
É no nascedouro que reside o segredo da água. Conheço este segredo há 30 anos e meu Sítio das Neves é dos poucos que o maneja para garantir água para todos: desmatamento zero, floresta nativa, detenção de águas da chuva em pequenas barragens.
Convido a ANA, a Adasa, a Caesb, o IBRAM, o Ibama, o Ministério do Meio Ambiente, a conhecer o segredo e revelá-lo aos agricultores grandes e pequenos para curar o “stress hídrico”.
A terapia é um complexo vitamínico de menos gente, menos consumo e, principalmente, mais produção de água, prolongando a vida dos mananciais.

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