Tenho acompanhado alguns debates entre professores da UnB com sua participação. Os gloriosos feitos da economia, especificamente creditados ao governo do presidente Lula, não podem ser ignorados. Seria humilhante para o povo brasileiro se o país não andasse para frente. Todos os governos tiveram momentos de céu de brigadeiro na economia e também de tormentosos ciclones como o de 2008/09.
Um governo prepara caminhos para o outro. E há caminhos que precisam de reconstituição. Espera-se que Dilma faça mais e melhor, uma vez que seu antecessor, é opinião geral, deixou as pistas abertas.
O que parece estranho é a débil interpretação que se faz de aspectos importantes da vida atual, especialmente a ênfase que se está dando ao consumo e às facilidades de crédito. A propaganda, as formas de sugestão quase autoritárias canalizadas pelos governantes, pelos analistas e pela mídia criaram tal obsessão consumista a ponto de provocar má consciência e acusar de lesa-pátria os que não compram, ou resistem em intumescer os percentuais estatísticos nas datas comemorativas ao longo do ano.
O pobre tem direito a carro, geladeira, máquina de lavar! Essa ordem foi dada em praça pública sob aplausos. O pobre ou o cidadão têm direitos? Por que o carro é um direito? Por que não um transporte coletivo eficiente, barato, limpo e confortável? Essa técnica de propaganda está contaminando os cérebros.
Estamos sufocados por números e percentuais e, pior que tudo, os aceitamos e acreditamos neles como se fossem oráculos da verdade. Eles chegam a alterar o funcionamento do cérebro e a capacidade de pensar. Acreditamos que a economia capitalista, como a nossa, serve aos pobres e será capaz de diminuir a desigualdade que separa os cidadãos de nosso país. Querem nos vender uma receita demasiadamente fácil.
Aceitamos o argumento de que a desigualdade diminuiu quando 1 passa para 2 e 100 passam só para 150. E nos contentamos com o 100% e o defendemos como êxito e, ao mesmo tempo, acreditamos que o 50% é prova de diminuição da desigualdade.
Vamos supor que o SM aumente de 10%, passando de R$ 510 para R$ 561 e que o aumento de um ordenado de R$ 30 mil seja apenas de 5%. Os R$ 1.500 acrescidos representam três vezes o SM. Onde está a igualdade ou como diminuiu a desigualdade? Que se compare o grupo de SM e sua trajetória de renda é um aspecto lógico importante. Mas tomar essa trajetória de renda para comprovar a diminuição da desigualdade afigura-se como falsidade ideológica e atentado à lógica da realidade. Estamos consciente ou inconscientemente defendendo o status quo, os nossos privilégios.
Somos vítimas da propaganda subliminar de que o consumo vai salvar a economia e que o grande trunfo é levar as massas aos centros comerciais. A loucura do poder está dominando o inconsciente político de intelectuais e da população por essa propaganda veiculada abaixo do consciente e acima do consciente traduzido pela palavra felicidade. Felicidade de consumir.
A proposta de novos impostos segue a mesma lógica. Os impostos caem no BNDS e, daí, para o pré-sal ou tomam caminhos por decisões incontestáveis.
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