sexta-feira, 18 de julho de 2008

DITADURA ADMINISTRATIVA

ou
DEMOCRACIA PARTICIPATIVA

Embrutecida pela propaganda oficial, pela agitação informativa de TV’s e rádios, por crimes semanais que a polícia revela e a justiça não pune, pelas estatísticas mentirosas, a mente do cidadão não tem mais força para reagir. Balança como a nave em pleno oceano, ao sabor dos ventos, sem destino. A ditadura dos ventos nos amordaça a voz.
Vivemos numa ditadura econômica sub-reptícia do capitalismo, disfarçada de democracia política. Democradura ou ditacracia, para brincar com palavras.
Sobre nossas cabeças de cidadãos se levanta a frágil marquise da liberdade civil que nos empurra gentilmente a adotar interesses individuais, confundindo-os com ideais coletivos da pátria.
Fala-se em transporte público, mas toda a prática está voltada para o carro individual, desde o estímulo às montadoras até o crédito facilitado para adquiri-lo em 80 prestações. A ditadura econômica nos alimenta com argumentos e iniciativas apoiadas em estatísticas, números e porcentagens cuidadosamente dirigidas a que enquadremos nossa inteligência à irracionalidade do crescimento econômico. Esmaga o pequeno comércio, o mercadinho da esquina para que nos distraiamos nos hipermercados cujos donos não têm nome nem rosto.
Somos manipulados pela incongruência de uma democracia política infantil do voto obrigatório, combinada com a administração livre e impune das instituições públicas e da riqueza comum. A prática da ditadura econômica se exerce através de instituições rígidas, que defendem seus objetivos programáticos por sobre as necessidades do cidadão.
Perdemos, gradativamente, o espaço político no qual se deveria dar a participação do cidadão nas decisões de interesse público. Democracia sem decisão política do povo não é nada. Participar é decidir. Com o povo, para o povo, pelo povo são expressões que caíram em desuso.
Perdemos o espaço político para os ocupantes do espaço administrativo, gerencial, institucional. Os programas econômicos se sobrepõem à vontade política do cidadão. Não compreendemos que, com o voto, lhe entregamos irremediavelmente um cheque em branco e lhe passamos uma procuração incondicional para vender nossos bens e se apossar do espólio do cidadão defunto.
Um exemplo. Há 35 anos percorro a rodovia BR 60 – Brasília-Goiânia - recentemente duplicada e já cheia de reparos no asfalto. Conheço as características do transporte dessa rodovia. No km 09, há dois meses, iniciou-se uma obra monumental. Nenhuma placa informa a origem, o valor e os responsáveis pela agressão à natureza. Pouco a pouco, o gigante foi mostrando seu corpo. Trata-se de colossal e impressionante viaduto para facilitar a passagem de alguns carros procedentes do Gama que eventualmente se dirigem a Brazlândia e cidades goianas do oeste e vice-versa.
É racionalmente impossível determinar um só argumento que indique prioridade no gasto de milhões de reais para a construção dessa obra. O único motivo dessas imensas colunas repletas de ferro, pedra e cimento é a vaidade administrativa do visual da grandiosidade. Haveria, pelo menos, três maneiras diferentes de facilitar o desvio dos carros para outra direção.
Detenho-me nesse exemplo, pois o Instituto Histórico e Geográfico do DF tem empilhado dezenas de decisões que demonstram a orfandade política do cidadão, vítima da ditadura administrativa.
Nós temos experiência de ditaduras. Sabemos como elas se estabelecem e a forma de demoli-las.
Já acabamos com a escravidão, devolvemos um Imperador a Portugal, proclamamos a Independência do Brasil, pusemos fim às ditaduras de Vargas e dos marechais, interrompemos o exercício de um Presidente eleito. Temos experiência histórica.
Penso, então, que para desmontar a ditadura econômica, administrativa e política embutida na pseudodemocracia seja necessário estudar-lhe melhor as causas e minar seus fundamentos.
Para isso, é preciso indignar-se diariamente, enojar-se da mentira, da prepotência, do cinismo. Sair à rua pela democracia direta. Cartas ao governador, ao presidente, aos deputados, mensagens eletrônicas, notas na internet, manifestações públicas serão o fermento de uma revolução sem armas, sem mortes, sem lágrimas, sem velórios, sem enterros.
É nosso dever montar uma orquestra de milhões de instrumentos e encher o espaço com a ópera do bom senso.

Eugênio Giovenardi


17.07.2008
eugeniogiovenardi@gmail.com

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