segunda-feira, 10 de março de 2008

RAÍZES DA DESIGUALDADE

A desigualdade, no Brasil, começa na educação discriminatória. O processo educativo se adapta à imposição do sistema econômico da exploração das capacidades humanas de trabalho e produção, cujo resultado se acumula em mãos expertas em administrá-lo. A riqueza, produto do trabalho, divide a sociedade em ricos e pobres, em privilegiados e desprotegidos, em feitores de leis e súditos.
O crescimento da população facilita o acúmulo da riqueza em poucas mãos e dificulta o acesso às oportunidades de participar do armazém de benefícios que ajuda a criar.
Um dos privilégios da vida em sociedade é desfrutar da capacidade coletiva de obter conhecimentos, de compreender o funcionamento do universo, de penetrar os segredos da natureza, de descobrir os mecanismos do cérebro e transmiti-los através da palavra ou recebê-los através da escrita.
A sociedade brasileira está dividida não só entre pobres e ricos. Divide-a o precário sistema educativo. Os ricos além de escolas públicas usufruem de escolas particulares, nas quais aprendem que são diferentes dos demais cidadãos. Os pobres têm por alternativa a escola pública, precária, malservida, por vezes distante do cidadão, nas quais ele compreende que pertence a uma categoria diferente de pessoas.
A desigualdade entre os cidadãos se estabelece e se consolida no processo educativo. A educação tornou-se um negócio. É mercadoria que se vende por mensalidades, anuidades. Alimenta a industria do manual escolar, que se renova a cada ano com seus acessórios de papel e lápis. Eis o equívoco da política educacional do Brasil. Se há um serviço que devesse socializar-se, inteiramente coberto por orçamento público e administrado por conselho misto participativo da sociedade é a educação.
Escola pública para todos, sem discriminação de cidadãos, com os mesmos critérios de qualidade e eficiência. Os impostos progressivos justificam a presença de todos no mesmo e universal sistema escolar. Todos, igualmente, teriam acesso ao mesmo conhecimento. Alcançariam o mesmo nível de oportunidade de propor sua participação e oferecer sua criatividade em benefício da sociedade. Estariam garantidas a liberdade e a democracia.
Por que Alfonso Guimarães pode estudar no Colégio La Salle, com laboratório de química e física, vídeo-show de experiências científicas, computadores e Judson da Silva tem que se contentar com uma escola precária na Agrovila Engenho das Lajes, nos confins de Goiás, com biscoitos água e sal como incentivo de freqüência às aulas?

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